Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/06/2014
Aécio conquistou a unidade da legenda sem ceder a vice na composição interna. Seu companheiro de chapa pode ter um cacife decisivo para a eleição.
A convenção nacional do PSDB confirmou ontem o nome do senador Aécio
Neves (MG) como candidato da legenda à Presidência da República nas
eleições de outubro. O político mineiro conseguiu a proeza de unir a
legenda, incorporando à candidatura a ala ligada ao ex-governador José
Serra, com quem havia disputado o comando do partido. Aécio chegou à
convenção com 22% de intenções de votos, segundo o último Ibope, o que
lhe garante a condição de principal adversário da presidente Dilma
Rousseff, que, na mesma pesquisa, tem 38%. Aécio deixou para trás o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, que tem 13%.
O candidato tucano busca reconstruir a aliança de Minas com São Paulo,
uma relação que sempre foi tensa, desde o fim da chamada política café
com leite, na República Velha. Na Revolução de 1930, o governador
mineiro Antônio Carlos apoiou o movimento armado que levou o gaúcho
Getúlio Vargas ao poder, impedindo a posse do paulista Júlio Prestes,
que fora eleito a "bico de pena", derrotando a Aliança Liberal. Na
Revolução Constitucionalista de 1932, tropas mineiras também marcharam
contra São Paulo.
A elite paulista, mesmo derrotada, sempre buscou o próprio protagonismo,
com o cacife de que quem abdicou do patrimonialismo para investir na
industrialização, o que transformou o estado na "locomotiva do Brasil".
Aécio seduziu os eleitores paulistas.
Entre os 31,8 milhões de eleitores de São Paulo, que representam 22% do
total, pesquisa Datafolha mostrou que Aécio Neves (PSDB) venceria Dilma
Rousseff por 46% a 34%. É um desempenho espetacular para quem enfrentava
forte oposição dos políticos no estado, não somente do PT, mas dentro
de sua própria legenda.
Sonho mineiro
Aécio encarna o sonho dos mineiros de voltar ao centro do poder,
reeditando os anos dourados do governo de Juscelino Kubitschek, na
década de 1950. Esse sonho foi frustrado pelo regime militar e, depois,
pela morte de Tancredo Neves, apesar dos dois anos de mandato de Itamar
Franco. Mesmo mineira, Dilma Rousseff não representa esses interesses. A
estratégia de Aécio Neves para unir o PSDB foi resgatar o legado
político e institucional do governo de Fernando Henrique Cardoso, mesmo
correndo o risco de restabelecer um tipo de polarização que levou os
tucanos à derrota em 2002 (com José Serra), 2006 (com Geraldo Alckmin) e
2010 (com Serra, novamente).
Nessas três eleições, foi responsabilizado pela derrota, acusado de
fazer corpo mole na campanha, o que sempre negou. Ontem, o ex-governador
José Serra, o senador Aloysio Nunes (SP) e o ex-governador Alberto
Goldman, que sempre o criticaram, estavam na convenção, firmes com
Aécio, ao lado de Fernando Henrique e dos governadores Alckmin (SP),
Marconi Perillo (GO), Teotonio Vilela (AL) e Beto Richa (PR).
Ao som do Hino Nacional lembrou o avô Tancredo Neves, eleito presidente
da República pelo colégio eleitoral em 1984, mas que morreu antes de
assumir. Fez rasgados elogios ao PSDB na gestão FHC: "Transformamos a realidade brasileira de forma permanente com o Plano
Real. O Real recuperou a confiança do Brasil em si próprio..." Para
contrariedade da presidente Dilma, voltou a dizer que o DNA do Bolsa
Família é tucano: "Criamos os primeiros programas de transferência de
renda e benefícios sociais, aquilo que se tomou depois o Bolsa Família".
O principal artífice de sua candidatura foi Fernando Henrique: "Posso
dizer, do alto dos meus 83 anos, que o Brasil precisa de um líder
jovem", disse. Hábil nas articulações políticas, o ex-governador mineiro
faz uma aposta arriscada ao centralizar sua estratégia na economia e
não na política, mas talvez seja essa a única via para chegar ao
Planalto: "Nossos adversários mantiveram a coerência. Quem foi contra o
Plano Real é quem hoje não controla a inflação. Quem foi contra a Lei de
Responsabilidade Fiscal é quem hoje assina essa contabilidade maldita,
disparou.
O ex-governador de Minas costuma dizer que sua bala de prata é a escolha
do vice, opção que já foi feita tanto pela presidente Dilma Rousseff,
que manteve Michel Temer na sua chapa como representante do PMDB, como
por Eduardo Campos, que cresce com a ex-senadora Marina Silva na vice.
Um dos nomes possíveis é o do ex-governador José Serra, que ontem
reiterou seu apoio a Aécio: "Este espírito de mudança, Aécio, que agora
converge para a sua candidatura, é o desdobramento de uma longa jornada
no Brasil". Mas descartou seu nome na chapa. É candidato ao Senado ou à
Câmara.
Aécio conquistou a unidade da legenda sem ceder a vice na composição
interna. Seu companheiro de chapa pode ter um cacife decisivo para a
eleição. Estão cotados o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati e a
ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, que é
gaúcha, além do senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, todos do PSDB.
Entre os aliados, desponta o senador José Agripino Maia (RN), presidente
do DEM. A bala de prata seria um vice capaz de atrair para sua
coligação mais uma legenda. O PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.
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