Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliene - 21/01/2015
Para os procuradores, os contratos de
consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e
a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais
O cerco aos
políticos envolvidos no escândalo da Petrobras está se fechando. Ontem, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou a criação de
uma força-tarefa com oito procuradores do Ministério Público Federal
para comandar apurações sobre o envolvimento de políticos no esquema de
corrupção e desvios em contratos da Petrobras. Os nomes de dezenas deles
foram citados nas delações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Youssef.
A
decisão coincide com a viagem dos procuradores federais do Paraná, que
já investigavam o caso, à Suíça em busca de documentos que comprovem
operações financeiras dos envolvidos no exterior. O Ministério Público
suíço comprometeu-se com o fornecimento dessas provas em troca da
continuidade das investigações pelos colegas brasileiros aqui no Brasil.
Para o juiz federal do Paraná Sérgio Moro, esses documentos são
necessários para julgar os executivos das empreiteiras e funcionários da
Petrobras envolvidos no caso. Os políticos com mandato serão julgados
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Os procuradores federais
também pretendem oferecer ações de improbidade administrativa contra
seis empreiteiras que atuavam no esquema de corrupção da Petrobras. A
denúncia deve atingir as empresas Camargo Corrêa, Engevix, Galvão
Engenharia, Mendes Júnior, OAS e UTC, e deve agravar a crise instalada
no setor da construção pesada. Mais de 20 construtoras, incluindo a
Odebrecht, maior empreiteira do Brasil, deverão ser denunciadas
criminalmente por formação de cartel. Caso sejam condenadas, serão
consideradas inidôneas e não poderão prestar serviços para o setor
público.
Tiroteio
A
preocupação com a situação da Petrobras e das construtoras é crescente
no Palácio do Planalto. Embora procure manter a maior distância possível
do caso, a presidente Dilma Rousseff tem dado orientações no sentido de
evitar a paralisia dos projetos em execução, mas os problemas legais
para que isso ocorra são cada vez maiores. É o caso, por exemplo, da
Sete Brasil, fabricante de sondas para o pré-sal, que está em colapso.
Fala-se na necessidade de um grande acordo político e
institucional para salvar as empresas e punir os responsáveis pelos
desvios, mas uma solução desse tipo está se tornando cada vez mais
difícil. Instalou-se um tiroteio entre as partes envolvidas. Na
narrativa governista, as empresas corromperam os funcionários e os
políticos para obter mais lucros. Nessa linha, a atual diretoria da
Petrobras procura responsabilizar as empreiteiras pela formação do
cartel e tirar o corpo fora, ao responsabilizar os antigos diretores
pelas irregularidades.
A prisão do ex-diretor da Área
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró gerou certo pânico entre os
envolvidos. O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, ao pedir
o desbloqueio de seus bens pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com
outros 10 integrantes da Diretoria Executiva da estatal, solicitou que,
em caso de negativa, os membros do Conselho de Administração também
sejam atingidos. O processo trata da compra superfaturada da Refinaria
de Pasadena, nos EUA, em 2006. À época, a presidente Dilma Rousseff
presidia o conselho que autorizou a aquisição.
Preso desde a
semana passada, Cerveró não pretende recorrer à delação premiada, mas
sua linha de defesa vai mais ou menos na mesma direção da de Gabrielli.
Como teve a prisão decretada porque transferiu os bens para os filhos e
tentou sacar R$ 500 mil da previdência privada, seus advogados alegam
que a presidente da Petrobras, Graça Foster, também deveria estar presa,
pois adotou o mesmo procedimento. Cerveró já havia responsabilizado
Gabrielli pela compra, sem licitação, de um navio-sonda de perfuração
marítima. Segundo os procuradores federais, a operação teria rendido
propina de US$ 30 milhões aos envolvidos no caso.
O ex-presidente
e sócio majoritário da UTC Ricardo Pessoa, que está preso, é acusado de
comandar o cartel, mas afunda atirando: disse à Polícia Federal que
pagou um total de R$ 2,2 milhões ao ex-diretor de Serviços da Petrobras
Renato Duque, por consultorias. E alega que o cartel foi formado por
exigência da direção da Petrobras, que detinha o monopólio dos contratos
de prestação de serviços, obras e compras de equipamentos sem
licitações, além dos aditivos. Para os procuradores, os contratos de
consultoria dos ex-diretores com as empreiteiras mascaravam a propina, e
a origem do esquema seria o financiamento das campanhas eleitorais dos
partidos envolvidos.
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