domingo, 28 de julho de 2013

Fora de controle

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 05/07/2013
 
 A presidente Dilma Rousseff mantém a rota de colisão com o Congresso Nacional. Ontem, na Bahia, ao lançar o Plano Safra, a presidente da República insinuou que os parlamentares que rejeitaram a proposta de Constituinte exclusiva, e adiaram para 2014 a eventual convocação de um plebiscito, não confiam no povo.

Dilma disse crer na “inteligência, na sagacidade e na esperteza” do povo brasileiro, para responder às perguntas de um plebiscito sobre a reforma política e decidir o melhor caminho para o país. Ela ressaltou que não duvida da capacidade da população em entender as questões. “O povo sempre mostrou, ao longo da história, que suas escolhas foram acertadas. Não acho que ele não seja capaz de aprender porque as perguntas são complicadas”, destacou.

O discurso de Dilma obrigou o vice-presidente Michel Temer a desdizer-se, reiterando que a posição do governo é favorável à convocação de um plebiscito, a toque de caixa, para que a reforma política seja feita até outubro e possa vigorar já nas eleições de 2014. Temer havia anunciado que o governo desistira da proposta depois de ouvir a opinião dos líderes da base, a maioria contrária à realização do plebiscito, antes de outubro. A base governista no Congresso está desorientada e fora de controle. O governo perdeu a capacidade de articulação política, principalmente, na Câmara. A posição do Palácio do Planalto, que tenta canalizar as insatisfações populares para pressionar o Congresso, isolou o PT.

Voz das ruas
Dilma tenta seduzir os manifestantes que foram às ruas protestar contra quase tudo. “Aqui, as ruas falaram por mais direitos, e aqui quero dizer que esta presidenta ouviu claramente a voz das ruas, tanto porque essa voz é legitima, quanto porque temos uma democracia, e faz parte dela a luta por mais direitos”. Dilma tenta recuperar a popularidade, que desabou 27%, depois da eclosão das manifestações.

Constituinte

Afinado com a presidente da República, o deputado José Genoino, do PT-SP, apresentou formalmente uma proposta para que o Congresso eleito em 2014 tenha poderes de uma assembleia revisora da Constituição de 1988. Segundo Genoino, “a prioridade absoluta ainda é defender a realização imediata de um plebiscito para a reforma política”, sem o qual não haveria reforma. O Congresso teria o direito de revisar somente os capítulos da Constituição que tratam dos temas abordados por uma reforma política.

Pedido do rei
No encontro de Dilma Rousseff na última quarta-feira com os artistas, o cantor Roberto Carlos pediu um particular com a presidente. Assunto: o rei mobiliza apoios para censurar, na Justiça, um trabalho acadêmico sobre moda e comportamento na Jovem Guarda, escrito por Maria Zimmermann, que, embora traga um desenho do cantor na capa e uma foto sua no miolo, não faz menção à sua vida íntima. Em 2006, o cantor conseguiu impedir a venda da biografia não autorizada Roberto Carlos em Detalhes, do escritor Paulo César Araújo.

Morreu

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), mais uma vez, posicionou-se contra o plebiscito: “Nasceu morto e o governo sabia disso. Quando criou a Constituinte exclusiva, que durou 24 horas, o Planalto sabia que era inviável. Quando apresentou uma proposta de plebiscito sobre temas tão complexos, em um prazo tão curto, sabia que era inviável”, disse. O tucano afirma que Dilma quer desviar a atenção da população das questões centrais. “O governo erra muito e quem perde é a população”, disparou.

Semiárido
O Plano Safra Semiárido anunciado pela presidenta Dilma Rousseff, em Salvador, destinará à agricultura familiar, presente em 95% dos estabelecimentos agropecuários dos municípios da região, um total de R$ 4 bilhões

Não deu
No encontro de três horas que reuniu representantes de seis confederações empresariais, seis centrais sindicais, seis deputados, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e mais o ministro do Trabalho, Manoel Dias, quarta-feira passada, na Casa Civil da Presidência da República, não houve acordo sobre o trabalho terceirizado (PL 4330/2004).

Manifestações
O deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), autor do PL 4330/2004, propôs adiar a votação prevista para a próxima quarta-feira (10), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em troca do cancelamento da manifestação, mas as centrais sindicais não toparam. Farão o protesto na quinta-feira.

Segundo escalão
O secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Eduardo dos Santos, representará o Brasil, hoje à tarde, no ato de desagravo ao presidente da Bolívia, Evo Morales. Participam do encontro sete presidentes da república: Ollanta Humala (Peru), Cristina Kirchner (Argentina), José Pepe Mujica (Uruguai), Rafael Correa (Equador), Nicolás Maduro (Venezuela) e Dési Bouterse (Suriname), além de Morales.

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