terça-feira, 25 de junho de 2013

O vento mudou

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 23/06/2013
 
A presidente Dilma Rousseff não navega mais em mar de almirante. Mesmo dispondo de grande popularidade, o caráter nacional e a envergadura dos protestos deixaram o governo perplexo e colocou em xeque a reeleição da presidente, na avaliação da cúpula do PT e seus aliados. "O vento mudou e acabou a zona de conforto", avalia um interlocutor de Dilma.

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Somente na sexta-feira, em cadeia de rádio e televisão, Dilma reagiu com firmeza à situação criada pelos protestos e, também, por atos de bandidagem e vandalismo. Além de anunciar que pretende ouvir a voz das ruas, negociar com os movimentos sociais e pactuar com governadores e prefeitos grandes investimentos em mobilidade urbana, a presidente da República falou o que a sociedade queria ouvir em relação às manifestações: vai garantir a lei e a ordem e reprimir o vandalismo.

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Na avaliação do Palácio do Planalto, o Movimento do Passe Livre, que deu início aos protestos, pôs na ordem do dia uma nova agenda. A elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegiará o transporte coletivo, será uma mudança de paradigma. As demais propostas de Dilma, como a destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação e a contratação de milhares de médicos estrangeiros, são no mínimo polêmicas no Congresso e entre os profissionais de saúde.

Cuidado
A presidente Dilma Rousseff teve muito cuidado no pronunciamento para não acirrar os ânimos dos manifestantes contra si, mas mirou também os setores da sociedade que estão descontentes com a onda de vandalismo. No Palácio do Planalto, a insatisfação com a atuação da Polícia Federal e da Abin é generalizada.

Balanço
Levantamento feito pela Confederação dos Municípios Brasileiros registrou protestos e distúrbios em 438 cidades

Artilharia
O deputado Romário (foto), do PSB-RJ, aproveitou a onda de protestos para gravar um vídeo detonando a Copa das Confederações. Elogia o povo pelas manifestações que tomaram conta do país nos últimos dias e diz que a classe política precisa entender que o tempo de "falcatruas" acabou. Romário adverte que os custos com os estádios ainda vão aumentar, por conta de novas reformas que visam a Copa do Mundo, após a das Confederações.


Guerra e Paz
Relato sobre o petista André Vargas (foto), que exercia a presidência do Congresso quando os manifestantes tentaram invadir: "Alertado pelos policiais sobre os riscos de levar pedradas ou até mesmo as bombas que estavam sendo lançadas, ou ainda ser alvo de foguetes e sinalizadores, André Vargas abriu a porta principal do Congresso Nacional para verificar in loco o clima das manifestações. O paranaense postou-se frente a frente com os manifestantes, onde permaneceu por cerca de 40 minutos".

Reforma
O senador Rodrigo Rollemberg, do PSB-DF, ao avaliar as manifestações ocorridas em todo o país, disse que as reivindicações guardam relação entre si e que as principais críticas são à política e às instituições. Rollemberg defende uma reforma política para restabelecer a confiança da sociedade nas instituições democráticas.

Constituinte//

Líder dos ruralistas, o deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS) articula a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permita a eleição de uma Constituição Exclusiva Revisional, com candidatos avulsos e sem vínculos partidários. O momento seria propício para rever o texto da Constituição.

Pancadaria/ O Ministério Público do Rio de Janeiro investigará a atuação da Polícia Militar durante as manifestações ocorridas na cidade. A 2° Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania já instaurou um inquérito civil para apurar o eventual excesso por parte de policiais militares e do Batalhão de Choque, como abuso de poder.

Bilíngues/ O governo está preocupado com a atuação de grupos organizados nas redes sociais, que produzem farto material em inglês sobre os acontecimentos no Brasil, e que acabam influenciando os manifestantes por aqui.

Roda Viva/ O entrevistado do programa da TV Cultura de amanhã é o ex-governador de São Paulo José Serra. O tucano até hoje não assumiu compromisso com a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República.

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