Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo |
Correio Braziliense - 29/05/2012 |
Não é fácil a vida de ex-presidente da República. Sem a caneta cheia de
tinta, as velhas relações de poder já não são as mesmas. As conversas
delicadas são reveladas, os pedidos não são levados em conta, o poder
quase imperial de fazer as coisas acontecerem deixa de existir. O mando
fica restrito ao círculo dos partidários mais leais, assim mesmo
mitigado, e ao ambiente doméstico, no qual é compartilhado com a
patroa. É o que está acontecendo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Certa passagem d"O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, ao discorrer sobre as qualidades (virtú) dos governantes, chama a atenção para o fato de que algumas delas podem se tornar defeitos quando as circunstâncias (fortú) se modificam. O que dirá quando o príncipe já não está no poder. Durante seus oito anos de mandato, o ex-presidente Lula cultivou uma áurea de infalibilidade entre seus parceiros políticos. O Orçamento da União, o bom desempenho da economia, a ampla base de apoio político e a alta popularidade, combinados, tornavam suas decisões políticas facilmente exequíveis. Era o homem mais poderoso do país e mais influente da América Latina. Agora, nada é como antes — nem mesmo as conversas com membros do Supremo Tribunal Federal (STF), como a que teve com o ministro Gilmar Mendes. Testemunha Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo e ex-ministro da Defesa do governo Lula, está na maior saia justa. Presenciou a conversa entre Lula e Mendes, como anfitrião do encontro. E nada pode falar sobre isso para não quebrar a confiança de ambos, que são seus amigos. Mas sabe o que de fato se passou. Dívida O que não fez pelos petistas envolvidos no escândalo do mensalão durante a CPI os Correios o ex-presidente Lula está fazendo agora. À época, sob risco de impeachment, Lula não moveu uma palha para salvar os petistas envolvidos durante os trabalhos da CPI. Limitou-se a dizer, em entrevista polêmica concedida na França, que se tratava de caixa dois de campanha eleitoral. Agora, Lula diz que o caso foi uma tentativa de golpe de Estado, e move mundos e fundos para salvar o ex-ministro José Dirceu e outros petistas que vão a julgamento no STF. E agora? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso anda rindo à toa. Por sua participação política e, principalmente, os artigos sobre conjuntura que publicou nos jornais, foi muito criticado pelo ex-presidente Lula, para quem a conduta do tucano deveria ser de recato e de cooperação. Apesar do ativismo político, FHC nunca se envolveu numa confusão como essa, que Lula arrumou com Gilmar Mendes. Sem defesa O depoimento do senador Demóstenes Torres (GO) no Conselho de Ética do Senado hoje é aguardado com muita expectativa, mas não deve trazer novidades. O relator do caso, Humberto Costa (PT-PE), não vai deixar de pedir a cassação do colega nem os integrantes do conselho deixarão de aprovar o relatório por causa da defesa de Demóstenes. Na mira Na alça de mira dos petistas na CPI do Cachoeira — que se reunirá hoje administrativamente —, sai o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, entra o ministro do STF Gilmar Mendes. Criada por iniciativa do ex-presidente Lula, ronda a CPI a suspeita de que será um instrumento de pressão contra o julgamento do mensalão pelo Supremo. Queimando/ A Medida Provisória 568, assinada pela presidente Dilma Rousseff este mês, é uma batata quente nas mãos do deputado federal Cláudio Puty (PT-PA). O parlamentar tenta negociar o texto da legislação com profissionais da área da Saúde, que querem aumento de salário. Código/ A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, vai à Comissão de Agricultura da Câmara para discutir as mudanças no Código Florestal e os preparativos da Rio+20. Campanha/ A candidatura do economista da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro para a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vem ganhando força na base aliada da presidente Dilma Rousseff. Ontem, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) convidou Oreiro para um jantar na casa do advogado Silvio Neto, na Barra da Tijuca, no Rio, em apoio ao seu nome. Juros// O mercado aposta numa redução da taxa de juros da ordem de 0,25 ponto. Porém, diante dos últimos resultados da atividade industrial, há quem dobre a aposta para 0,5, com o Banco Central baixando a Selic para 8,5% ao ano na reunião do Copom que começa hoje e termina amanhã. O obstáculo para acelerar ainda mais a queda dos juros não existe mais: era o rendimento da poupança. |
terça-feira, 29 de maio de 2012
Síndrome de abstinência
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