Correio Braziliense - 07/10/2015
Os partidos aliados querem desalojar os petistas dos escalões inferiores dos ministérios, principalmente nos estados, e neles abrigar seus próprios quadros
A presidente Dilma Rousseff não 
conseguiu garantir o quórum necessário para votação dos vetos às 
chamadas “pautas-bombas” no Congresso ontem. Não porque haja uma maioria
 oposicionista que deseje derrubar os vetos — os partidos de oposição 
estão apenas mandando recado de que o Palácio do Planalto não deve 
contar com seus adversários para resolver os problemas que ela própria 
criou –, mas, sim, porque os partidos da base querem que a reforma 
ministerial garanta “porteira fechada” nos ministérios que ocupam.
Foi um gesto mais ensurdecedor do que as vuvuzelas dos funcionários
 do Judiciário que pressionam os parlamentares para que o veto 
presidencial ao aumento da categoria seja derrubado. Havia apenas 196 
deputados em plenário, quando o governo precisaria de 257. Compareceram à
 sessão, porém, 60 senadores, bem mais do que os 41 necessários para a 
votação. Dos 65 deputados do PMDB, cuja bancada na Câmara foi 
contemplada com os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia na reforma ministerial, 
somente 34 deram o ar da graça.
No PDT, que ficou com Comunicações, apenas 4 dos 29 deputados foram
 a plenário. O PR compareceu com apenas 6 dos 34 deputados da bancada, 
embora tenha mantido o Ministério dos Transportes. Do PSD, apenas 10 de 
33, apesar de o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, ser uma estrela 
em ascensão na constelação de aliados preferenciais da presidente Dilma.
 O PP também fez jogo duro: somente 9 de 39 deputados compareceram.
A grande traição, porém, foi registrada na bancada do PT, que 
garantiu presença de apenas 49 dos 62 deputados, o que demonstra a 
insatisfação de parte da legenda com a reforma ministerial feita por 
Dilma Rousseff. E confirma rumores de que uma parcela expressiva aguarda
 apenas uma janela para abandonar o partido.
Porteira fechada
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), minimizou o 
fracasso da primeira ofensiva do governo pós reforma no Congresso. “Vocês vão ver: o
 governo vai botar o quórum e encerrar essa contenda amanhã. Não foi 
derrota de ninguém. Não teve quórum porque muitos parlamentares não 
estavam sequer na Casa", disse.
Todos os líderes da base governista têm uma boa desculpa para o que
 aconteceu. Para bom entendedor, porém, ficou evidente que a base do 
governo ainda não se sente dona das pastas distribuídas aos partidos 
aliados em troca de votos firmes e decisivos em plenário.
Hoje deve ocorrer uma nova tentativa de votação, o clima é de 
manutenção dos vetos — inclusive com alguns votos da oposição, como 
antecipou Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas ficou claro que os partidos aliados
 querem desalojar os petistas dos escalões inferiores dos ministérios, 
principalmente nos estados, e neles abrigar seus próprios quadros.
Ou seja, Dilma terá que fazer mais concessões e negociar caso a 
caso com os deputados da base. O problema é que o novo dispositivo 
parlamentar de Dilma, encarregado dessas negociações, é petista de 
carteirinha — Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria 
de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) — e deve resistir a 
isso. Entre salvar o governo ou salvar o partido, a escolha desse 
estado-maior, no fundo d' alma, é a segunda opção.
Deu errado
Os nervos estão à flor da pele no Itamaraty, depois do acordo de 
livre-comércio dos Estados Unidos com Japão, Austrália, Brunei, Canadá, 
Chile, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã. 
Assinada segunda-feira em Atlanta (EUA), após cinco anos de negociações,
 o acordo representa 40% do PIB mundial e desnuda o fracasso da política
 externa brasileira, que agora ocupa o noticiário policial por causa da 
Operação Lava Jato e seus desdobramentos.
As negociações do Brasil com os parceiros comerciais do outro lado 
do Atlântico estão estagnadas por causa do Mercosul, principalmente a 
Argentina. A aposta de que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e 
África do SUL) liderariam a retomada do crescimento mundial fracassou. O
 Itamaraty também concentrou sua estratégia de negociação com países da 
América do Sul e da África e na Organização Mundial de Comércio (OMC).
2 comentários:
Sera que a longo prazo o BRICS nao vai triunfar das outras associacoes?
Ao anônimo, no longo prazo estaremos todos mortos - John Maynard Keynes
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