Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/10/2015
Não há um projeto unificador para o país,
que aponte uma saída para a crise e reagrupe as forças políticas e os
agentes econômicos em torno do governo. O eixo da reforma ministerial
foi fisiológico
Toda estratégia está
condenada ao fracasso quando não tem um ambiente favorável, recorre a
métodos inadequados e, principalmente, erra no conceito que norteia suas
ações. Não foi por falta de aviso, mas a reforma ministerial concluída
na segunda-feira pela presidente Dilma Rousseff apresenta os três
problemas. Se alguém tem dúvida de que o ambiente não é dos mais
favoráveis, além da crise econômica, basta ver a tempestade que se arma
nos tribunais contra a presidente Dilma Rousseff por causa da crise
ética.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu abrir
investigações sobre as contas de campanha de reeleição de Dilma Rousseff
em 2014, acatando parecer do ministro Gilmar Mendes por 5 a 2. O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux ontem rejeitou o
mandado de segurança do advogado-geral da União (AGU), Luiz Inácio
Adams, que pedia a suspensão do julgamento das contas do governo de 2014
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), alegando suspeição do relator,
ministro Augusto Nardes. O plenário do TCU se sentiu pressionado pelo
pedido e manteve o relator. Não precisava ser adivinho para saber o
desfecho da trapalhada: rejeição das contas de Dilma por unanimidade.
Esses
métodos truculentos do governo, que são recorrentes e agora se voltam
contra os tribunais superiores, acabam por inibir os aliados e favorecer
os adversários do Palácio do Planalto em todos os níveis. Toda vez que o
governo tenta se intrometer onde não deveria acaba dando com os burros
n’água. Isso vale para a relação com a magistratura e para o Congresso.
Ontem, pela terceira vez, não houve quórum para votar a derrubada dos
vetos presidenciais. Se houvesse votação, o risco seria o governo
perder.
A presidente Dilma Rousseff havia assumido a
responsabilidade de articular a reforma ministerial com o PMDB, na qual
foi ajudada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cometeu, porém,
um erro que pode ter sido fatal. Avaliou que a cooptação do líder do
PMDB, Leonardo Picciani (RJ), havia esvaziado completamente o poder do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, junto à bancada peemedebista, que
indicou os ministros da Saúde e de Minas e Energia. Cunha está ferido de
morte pela Operação Lava-Jato, mas ainda não morreu.
O resultado
foi a implosão do bloco majoritário liderado por Picciani e a divisão
da bancada do PMDB. A decisão foi tomada em reunião com líderes de PP,
PTB, PSD, PR e PRB, todos da base governista, que formaram um bloco sem
os peemedebistas e alinhado com o presidente da Câmara. Dilma e a
coordenação política do governo, a troika petista — Jaques Wagner (Casa
Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva
(Comunicação Social) — avaliava que o Congresso não teve quórum na
terça-feira por causa do horário da sessão.
Ontem, a Câmara
estava lotada e o fenômeno se repetiu. Quando a sessão foi encerrada, às
13h18, havia 223 deputados e 78 senadores em plenário; 428 deputados
estavam na Casa. Picciani só conseguiu levar para o plenário 37 dos 65
parlamentares, dois a mais do que na véspera, quando alegou que os
demais estavam viajando ou na posse de ministros. Os demais aliados
também não estão satisfeitos com a reforma. Os líderes Eduardo da Fonte
(PP), Rogério Rosso (PSD), Jovair Arantes (PTB), Maurício Quintela (PR) e
Domingos Neto (Pros) também não compareceram à sessão do Congresso.
Erro de conceito
Se
restou um consolo ao governo, foi mais uma vez a presença maciça de
senadores governistas na sessão do Congresso: 78 de 81. Mas isso não
quer dizer muita coisa, pois o impasse na votação continuará existindo
enquanto o Palácio do Planalto não negociar o apoio das bancadas de
deputados voto a voto. É aí que entra o erro de conceito da reforma
ministerial.
Com o país mergulhado na recessão, que já começa a
atingir a grande massa de assalariados e empreendedores do país; na
crise ética provocada pelo escândalo da Petrobras, que se ramifica para
outras empresas estatais; e com a maioria da sociedade querendo ver a
presidente da República pelas costas, Dilma resolveu fazer uma reforma
ministerial desfocada dessas questões. Mirou apenas a ameaça de um
processo de impeachment ser aberto na Câmara, que é consequência da
crise tríplice e não a causa.
O resultado foi uma reforma
ministerial que nada agregou ao governo em termos de apoio social e
político; pelo contrário, dificilmente será capaz de reverter essa
situação. Por um único motivo: não há um projeto unificador para o país,
que aponte uma saída para a crise e reagrupe as forças políticas e os
agentes econômicos em torno do governo. O eixo da reforma ministerial
foi meramente fisiológico.
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