Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 27/10/2015
Lula tem se
queixado da Lava-Jato, mas a Operação Zelotes
chegou muito mais próximo do ex-presidente, porque envolveu diretamente
seu filho, sua nora e o
ex-ministro Gilberto Carvalho
A operação de busca e apreensão da
Polícia Federal na LFT Marketing Esportivo e na Touchdown Promoção de
Eventos Esportivos, de Luiz Cláudio Lula da Silva, e na seguradora Silva
Cassaro Corretora de Seguros, empresa de Fátima Cassaro, mulher de
Lulinha, tirou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do sério. Foi a
gota d’água em relação o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em
quem nunca confiou, e criou novo contencioso com a presidente Dilma
Rousseff, que banca a permanência do ministro.
Lula e a cúpula do PT
nunca foram favoráveis à presença de Cardozo na pasta. Por causa da
Operação Lava-Jato, avaliam que ele perdeu o controle da Polícia
Federal. Na reformas ministeriais, queriam que o ministro fosse
substituído pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nélson
Jobim. Na última semana, intensificaram o lobby em favor de sua
substituição pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ), ex-presidente da seção
fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil.
Suplente, Damous
assumiu o cargo e virou estrela da bancada petista na CPI da Petrobras
graças a articulações políticas de Lula. Ele é um dos autores dos
mandados de segurança que sustaram o rito de votação do impeachment da
presidente Dilma Rousseff, que havia sido estabelecido pelo presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atendendo consulta feita pela
oposição. Na quinta-feira, na reunião do diretório nacional, à qual Lula
estará presente, a saída de Cardozo do Ministério da Justiça voltará à
ordem do dia.
O ministro já não faz questão de permanecer no
cargo, cumpre a missão a pedido de Dilma. Só não é mais indesejado pela
cúpula petista do que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Cardozo,
porém, não tem muito o que fazer; interferir nas investigações seria prevaricar, no mínimo. A Polícia
Federal tem autonomia e as operações obedeceram decisões judiciais. A
violação do sigilo dessas ações é crime para autoridades e funcionários
públicos. A Operação Zelotes da Polícia Federal investiga fraudes em
julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf),
ligado ao Ministério da Fazenda.
Segundo a PF, esta nova etapa da
operação investiga um consórcio de empresas que, além de manipular
julgamentos dentro do Carf, negociava incentivos fiscais a favor de
empresas do setor de automóveis. A investigação apontou “íntima relação
entre as três empresas”, que “representam uma unidade empresarial tanto
física quanto societária nucleada em Luís Cláudio Lula da Silva”,
segundo a juíza Célia Regina Orly Bernardes, da 10ª Vara Federal de
Brasília, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro, que
autorizou as buscas.
Luís Cláudio recebeu pagamentos do
escritório Marcondes e Mautoni, que teria atuado de forma supostamente
ilegal pela aprovação da MP 471, que beneficiou o setor automotivo.
Nesta etapa da Zelotes, também foram presos o lobista Alexandre Paes dos
Santos, em cuja casa foi encontrado um relatório da diretoria de
inteligência da Polícia Federal; o ex-conselheiro do Carf José Ricardo
da Silva, e o sócio dele, Eduardo Valadão; e dois sócios de escritórios
suspeitos de captar clientes para o esquema, Cristina Mautoni e Mauro
Marcondes, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos (Anfavea).
Pilatos
Lula tem se
queixado sistematicamente da Operação Lava-Jato, mas a Operação Zelotes
chegou muito mais próximo do ex-presidente, porque envolveu diretamente
seu filho, sua nora e o seu mais próximo colaborador no governo, o
ex-ministro Gilberto Carvalho. Petistas defendem a tese de que Cardozo
lava as mãos em relação à atuação da Polícia Federal seguindo orientação
de Dilma Rousseff.
Nos bastidores do PT, exuma-se o caso da
ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo,
Rosemary Noronha, ex-auxiliar de Lula, que fazia lobby junto à
Presidência, conforme e-mails interceptados pela operação Porto Seguro. E
também a carta da presidente Dilma Rousseff se eximindo de qualquer
responsabilidade em relação à compra da refinaria de Pasadena, no Texas
(EUA), pela Petrobras, à época em que presidia o Conselho de
Administração da estatal.
À época, os dois escândalos serviram
para jogar água fria na campanha do “Volta, Lula!” A mesma linha foi
adotada em relação à Operação Lava-Jato, cujos fatos a atual presidente
da República atribui ao governo anterior. Recentemente, Lula queixou-se
da declaração de Dilma, em entrevista no exterior, de que no governo
dela não havia corrupção. Ou seja, insinuou que herdou a Lava-Jato de
Lula.
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