Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 20/10/2015
Graças às delações premiadas,
o número de políticos envolvidos no escândalo da Petrobras chega a 62
parlamentares, ex-parlamentares, dirigentes de partido, ministros e
governadores
A CPI
da Petrobras encerra os trabalhos de forma melancólica no decorrer
desta semana. Proposta pela oposição, foi instalada graças ao apoio do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que via na comissão uma
maneira de pressionar o governo, isolar o PT e manipular a oposição.
Como já aconteceu outras vezes, como no caso da famosa CPI do Judiciário
do Senado, a crise que a CPI gerou na Câmara tornou-se incontrolável,
ainda que sua atuação, especificamente, tenha sido pífia. Seu resultado
pode ser a cassação de Cunha. No outro caso citado, a crise resultou na
renúncia de três poderosos senadores, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA),
Jader Barbalho (PMDB-PA) e José Roberto Arruda (PSDB), e na cassação de
um deles, Luiz Esteves (PFL-DF).
O petista
Luiz Sérgio (RJ), relator da CPI, não vai indiciar nenhum político.
Criada para investigar o PT e o governo Dilma, porém, a comissão acabou
servindo de armadilha para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), de quem o presidente da comissão, deputado Hugo Mota
(PMDB-PB), é aliado incondicional. Por ironia, o depoimento de Cunha na
comissão, de espontânea vontade, serviu de base para o pedido de sua
cassação apresentado ao Conselho de Ética da Câmara pelo PSol e a Rede,
com o apoio de 52 deputados de diversos partidos, sendo a maioria do PT.
Na CPI, Cunha negou a existência de suas contas bancárias na Suíça, mas
elas foram comprovadas pelo Ministério Público Federal com farta
documentação. Mentir da tribuna no Congresso costuma ser mortal, pois
esse tipo de quebra de decoro pode ser punido com cassação de
mandato, num rito sumário de 90 dias.
Em quase
oito meses de atuação, após duas prorrogações, a CPI preparou uma grande
pizza napolitana. A vida continua, porém. Graças às delações premiadas,
o número de políticos envolvidos no escândalo da Petrobras chega a 62
parlamentares, ex-parlamentares, dirigentes de partido, ministros e
governadores. Parlamentares com mandato respondem a inquéritos no
Supremo Tribunal Federal (STF); os governadores, no Superior Tribunal de
Justiça (STJ); e os demais, sem mandato, na primeira instância. São 31
políticos do PP; 12 do PT e do PMDB, cada; 2 do PSB; um do PSDB, do PTB e
do Solidariedade, cada; e dois sem partido.
Efeito Orloff
O
foco do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em relação aos
políticos, está fechado no presidente da Câmara, que esperneia por causa
disso. Outros quatro denunciados por Janot, como o senador Fernando
Collor (PTB-AL), estão em segundo plano, no aguardo do “devido processo
legal”. Entretanto, todos vivem a expectativa do que pode vazar contra
eles. A PF tem solicitado mais prazos, quebras de sigilos bancário,
fiscal e telefônico e tomado depoimentos de muitos deles. As
investigações continuam. É uma espera angustiante.
Teme-se
uma espécie de efeito Orloff, aquele “eu sou você amanhã” da famosa
propaganda de vodca. Dois políticos sem mandato já foram condenados e
estão presos: o ex- deputado petista André Vargas e o ex- tesoureiro do
partido, João Vaccari. O ex- ministro da Casa Civil José Dirceu, que
voltou à cadeia, e o ex- deputado Luiz Argôlo, que era filiado ao
Solidariedade, aguardam julgamento. Cada vez que surge uma nova delação
premiada, a chapa esquenta para alguns deles. A de Fernando Soares, o
Fernando Baiano, ameaça carbonizar o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB- AL); o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-
MS); e senador Jader Barbalho (PMDB- PA), todos no aguardo da denúncia
de Janot.
O juiz Sérgio Moro, da Vara Federal
de Curitiba, costuma andar mais rápido do que o STF. Por essa razão,
citado por Baiano e sem mandato, está no sal o ex- ministro de Minas e
Energia Silas Rondeau, que ocupou o cargo no governo de Luiz Inácio Lula
da Silva. A propósito, ontem o Ministério Público Federal apresentou
uma nova denúncia contra o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e
dois executivos da maior empreiteira do país, que continuam presos.
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