O governo da presidente Dilma Rousseff foi alvo de protestos
maciços ontem nos 26 estados da Federação, no Distrito Federal e até em cidades do
exterior. O povo nas ruas entoava palavras de ordem contra a corrupção e reclamava da situação econômica. Gritos de
“Fora Dilma” e “Fora PT” foram ouvidos em todo o país. Grande parte pediu impeachment da presidente. Uma parcela
pequena defendeu intervenção militar e foi criticada pelos demais participantes.
Governistas e oposicionistas agora se digladiam quanto à contabilidade dos protestos, que a PM avaliou ter reunido 1,75 milhão, sendo 1 milhão apenas na principal
manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo. O DataFolha, porém, mediu 210 mil na
Paulista. Cálculos à parte, mesmo assim, foi a maior protesto desde as
“Diretas-Já” e surpreendeu o governo, que está baratinado com a situação. Tanto quanto os militantes petistas, que perderam o monopólio das ações de rua e não conseguem entender o que acontece no país.
A presidente Dilma Rousseff passou o dia de ontem no Palácio
da Alvorada, acompanhando os protestos. Pela manhã, o governo avaliava que seria de menor expressão. Havia comemorado as manifestações sindicais chapa-branca de sexta-feira. No final da tarde, Dilma chamou os ministros para conversar. Estava atônita; fora pega de surpresa pelo tamanho dos protestos, inclusive na Esplanada dos Ministérios.
O estado-maior de Dilma Rousseff não incluiu os aliados, somente os petistas de sua confiança: José Eduardo Cardozo (Justiça)
e Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência), os ministros Aloizio
Mercadante (Casa Civil), Thomas Traumann (Comunicação Social), Jaques Wagner
(Defesa) e Giles Azevedo, assessor especial.
O grupo não representa nada em termos da base do governo Congresso, nem a própria bancada do PT. O ministro das Relações Insitucionais (Articulação Política), Pepe Vargas, sequer foi chamado. Informalmente, já foi demitido. A resposta do governo foi pífia, de quem está tomado pela perplexidade e não tem alternativa a oferecer ao país.
Os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rosseto,
secretário-geral da Presidência, acenaram com três propostas velhas, nas quais ninguém acredita, porque até hoje não foram colocadas em prática: o diálogo
com a sociedade e o Congresso; o pacote anticorrupção, anunciado no auge da
crise de 2013 e que ainda não saiu do papel; e a reforma política, com ênfase
no fim do financiamento empresarial das campanhas políticas.
Oposição
A oposição apóia os protestos e comemora, mas teve presença lateral no movimento. Os
manifestantes não deixaram discursar nem os parlamentares que
defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que
tenta reunir 1 milhão de assinaturas pela saída de Dilma, foi
vaiado na Avenida Paulista quando seu nome foi anunciado. No Rio de Janeiro, o
deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi impedido de falar no carro de som.
As manifestações, porém, deverão ter impacto no Congresso Nacional, onde a CPI que investiga o escândalo da Petrobras concentra as atenções. As dificuldades do governo para aprovar o pacto fiscal devem aumentar. A tendência dos políticos também é se antecipar ao Palácio do Planalto quanto à reforma política.
Os principais partidos de oposição devem subir o tom contra o governo e aumentar as cobranças em relação à demandas da sociedade, a principal delas quando ao escândalo da Petrobras, cuja apuração o governo, nos bastidores, ainda tenta obstruir. Para isso, oferece acordos de leniência para salvar as empresas envolvidas e acalmar os executivos que ameaçam com novas delações premiadas,
O governo não pode, porém, perder o apoio de sua base no Congresso, na qual o papel fundamental é do PMDB, que controla as duas casas legislativas. Para manter esse apoio, Dilma terá que fazer grandes concessões e fortalecer a presença da legenda aliada no governo, com mudanças ministeriais.
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