Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 12/03/2014
No Supremo, o temor era que,
com apenas quatro integrantes, qualquer empate beneficiasse os réus. Ou
que alguém fosse indicado para vaga aberta no Supremo para “matar no
peito” o processo.
A ida do ministro José
Antonio Dias Toffoli da Primeira para a Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF), articulada pelos ministros Teori Zavascki,
relator do processo da Operação Lava-Jato, Celso de Melo e Gilmar
Mendes, e confirmada ontem pelo presidente do Supremo, Ricardo
Lewandowski, desanuviou o ambiente político no Congresso.
A
semana havia começado sob o impacto da abertura de inquérito contra 47
políticos, entre eles os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A Segunda Turma ficará
responsável pela análise dos inquéritos e eventuais ações penais
relativas ao esquema de corrupção na Petrobras.
Ao completar a
vaga aberta na Segunda Turma com a aposentadoria do ex-ministro Joaquim
Barbosa e a saída de Lewandowski, fechando a porta para a participação
no julgamento de um ministro recém-indicado pela presidente Dilma
Rousseff, o estresse causado pela abertura dos inquéritos desapareceu
como por encantamento.
Já na terça-feira à noite, numa festa de
advogados na Asa Sul, à qual compareceram os ministros Toffoli e Mendes,
a rocada no STF já era interpretada nos meios jurídicos e políticos
como o sinal de que o xadrez do devido processo legal absorveria o
impacto inicial da abertura de inquérito. No Supremo, o temor era que,
com apenas quatro integrantes, qualquer empate beneficiasse os réus. Ou
que alguém fosse indicado para vaga aberta no Supremo para “matar no
peito” o processo.
Temia-se também a mesma turbulência do
julgamento do mensalão, que ocorreu no pleno do STF e foi transmitido ao
vivo e em cores. Toffoli é o ministro com menos tempo de atuação no
tribunal que ainda não exerceu a função e, conforme a tradição, passará a
presidir o julgamento da Lava-Jato a partir de maio, mês em que termina
o mandato do atual presidente da turma, Teori Zavascki.
“Isso
foi um consenso no tribunal e nós demos o devido encaminhamento. Acho
que foi uma boa solução para o tribunal e para o Brasil”, disse Mendes.
Notoriamente ligado ao PT e ao ex-presidente Lula, Toffoli faz parte do
time de desafetos de estimação da presidente Dilma Rousseff, cujo santo
não bate com o dele desde os tempos da Casa Civil.
Toffoli,
porém, esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do
Planalto. Disse que foi à sede do Executivo apenas para tratar de um
projeto elaborado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Corte que
preside desde maio do ano passado, e não tratou sobre a Lava-Jato.
Participaram da reunião os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e
José Eduardo Cardozo (Justiça).
Nuvens carregadasFoi
uma semana de nuvens carregadas e chuvas torrenciais em Brasília. O
ex-gerente de Produção da Petrobras Pedro Barusco, ao depor na CPI
instalada na Câmara para investigar o escândalo na estatal, disparou um
petardo contra a presidente Dilma Rousseff, ao confirmar que teria
entregue ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a quantia de US$ 300
mil provenientes de propina para a campanha de 2010. No mesmo dia, Dilma
foi vaiada em São Paulo.
Durante a semana, caciques do PMDB
passaram a defender a saída do petista Aloizio Mercadante da Casa Civil
da Presidência, atribuindo a ele a responsabilidade pelos erros
cometidos pela Palácio do Planalto na condução da articulações
políticas. Segundo os peemedebistas, o ministro seria o responsável pelo
afastamento do vice-presidente, Michel Temer, do centro das decisões do
governo e também pelo isolamento da presidente Dilma Rousseff em seu
gabinete.
Em respostas às pressões e boatos, o Palácio do
Planalto negou que o ex-presidente Lula teria exigido a cabeça de
Mercadante. E durante solenidade no Acre, ao lado do governador Tião
Viana (PT), Dilma anunciou que vai incorporar três ministros à
coordenação política do governo: Aldo Rebelo (PCdoB), da Ciência e
Tecnologia; Gilberto Kassab (PSD), das Cidades; e Eliseu Padilha (PMDB),
da Aviação Civil.
A solução não agradou à cúpula do PMDB, que
reivindica uma reforma ministerial mais ampla. O presidente do Senado,
Renan Calheiros, verbalizou a insatisfação ao dizer que o governo já
está “envelhecido”. As pressões dos aliados contra Mercadante, porém,
não surtiram efeito. Dilma continua tendo-o como principal auxiliar e
leva em conta que o ex-senador deixou de disputar as eleições para
comandar a cozinha do Palácio do Planalto a seu pedido.
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