Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 05/03/2015
O Palácio do Planalto se movimentou como quem
tinha prévio conhecimento da lista de políticos citados nas delações
premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto da Costa
O ministro Teori Zavascki,
do Supremo Tribunal Federal (STF), decidirá até amanhã se derruba o
segredo de Justiça dos pedidos de inquérito feitos pelo
procurador-geral, Rodrigo Janot, para investigar 54 suspeitos de
envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Como na melô
Malandragem dá um tempo, do falecido sambista Bezerra da Silva, Janot
pediu a abertura de inquérito, mas não revelou o nome de ninguém.
O
vazamento seletivo de nomes de políticos envolvidos — alguns dos quais
atribuídos ao Palácio do Planalto — pôs a cúpula do Congresso na
defensiva, mas desgastou ainda mais a relação da presidente Dilma
Rousseff com o Congresso. O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), depois de devolver a medida provisória que acaba com as
desonerações das folhas de pagamento, diz que não aprova o ajuste fiscal
se o governo não cortar na carne, leia-se extinguir ministérios e
cargos comissionados ocupados pelo PT.
Para aumentar a tensão,
ontem o ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), resolveu afrontar a
Câmara, ao afirmar que, na Casa, há entre 300 e 400 “achacadores”. O
presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já estava invocado por
seu nome ter sido vazado pelo governo, articulou a convocação do
ministro para dar esclarecimentos. Foi aprovada por 280 votos de
deputados.
Na lista de Janot, estariam também na berlinda os
senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Collor
(PTB-AL), Lindbergh Farias (PT-RJ), Humberto Costa (PT-PE), Ciro
Nogueira (PP-PI), que é presidente nacional do PP, e a ex-ministra da
Casa Civil e senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), entre outros. O
procurador-geral da República, porém, pediu o arquivamento das
investigações contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente
da Câmara Henrique Alves (PMDB-RN), contra os quais não se justifica a
abertura de inquérito.
Na próxima semana, Janot deverá
encaminhar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) os pedidos para
investigar os governadores suspeitos de participação no escândalo de
pagamento de propina na Petrobras. O relator é o ministro Luís Felipe
Salomão. A tendência é de que o ministro derrube o sigilo das
investigações. Vão para o pelourinho os governadores do Acre, Tião Viana
(PT), e do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
O
ministro Teori Zavascki, relator do caso, não quis dar entrevistas sobre
o assunto. No intervalo da seção da Corte, o ministro Marco Aurélio
Mello foi o único a dar declarações: “Enquanto mantiver o sigilo, a
suspeição recai sobre todos os políticos. A sociedade está esperando
essa revelação, e essa revelação serve até para afastar o sentimento de
impunidade, que é péssimo”, disse.
Terra arrasada
Com
vários de seus líderes citados, a desorientação do PT ontem era
monumental. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), um dos nomes
vazados, defendia a abertura imediata do sigilo e se queixava dos
vazamentos seletivos. Já o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC),
pregava com ardor o sigilo total sobre os inquéritos. No fim da tarde, o
ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, revelou a posição do
governo: quebra do sigilo o mais rápido possível.
A presidente
Dilma Rousseff chamou o vice-presidente Michel Temer para uma conversa
no fim da tarde, a primeira entre ambos desde a posse. Não foi uma
conversa muito fácil. Temer desistiu de ser bombeiro, prefere ser
porta-voz do PMDB, que tem um diagnóstico muito negativo sobre a atuação
do PT e da presidente da República. Além de reivindicar mais
participação no governo, desconfia que Dilma tentou pescar em
águas turvas para enfraquecer a legenda.
Tanto na eleição da
Câmara, como na eleição do Senado, o Planalto se movimentou como quem
tinha prévio conhecimento da lista de políticos citados nas delações
premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto da Costa. Ou seja, trabalhou com um cenário de desmoralização do
Congresso por causa do escândalo da Petrobras. Ao mesmo tempo, o
governo tenta abafar a crise da estatal, salvar as empreiteiras
envolvidas no escândalo e manter sua imagem ao largo da Lava-Jato.
3 comentários:
Não tenho nenhuma filiação partidária, mas tenho apoiado a política desenvolvimentista dos últimos governos. Não é tão bom, mas a alternativa neoliberal seria um desastre! Acredito que em nome da governabilidade o a presidenta (PT) deveria dar mais espaço ao PMDB, assim como assumir publicamente que o governo não é mais de PT e sim do PT e PMDB. Creio que tudo pode ser negociado, menos questões de princípios como manter as políticas sociais, ter uma política internacional independente (junto ao Mercosul, Unasul, e, principalmente, BRICS). Pode-se flexibilizar, sem abrir mão, do conteúdo nacional e regime de partilha, etc. Deixar temas polêmicos como reforma política e marco regulatório da mídia para mais tarde, etc.
O Janot já avisou que tem 7 sortudos para os quais ele pediu arquivamento. Sendo um deles o Aécio e o outro a Dilma, ainda tem 5 sortudos a serem agraciados. Portanto, julgo precoce qualquer análise mais detalhada. O governo Dilma não é do PT faz tempo, basta ver o beiço do Genro e da Marta.
Sinceramente não acredito que o Pezão esteja envolvido nesse esquema. Ele é de um partido muito visado em todo o país, com certeza sempre vai ter alguém querendo queimar a sua imagem.
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