Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 04/03/2015
De que lado
nós queremos estar? Essa é a questão posta pela política externa
brasileira, inclusive para os nossos vizinhos da Argentina, da Bolívia e
da Venezuela
O mundo do qual fazemos parte foi inventado há cerca de quatro séculos,
em Vestefália, numa conferência de paz que pôs fim a conflitos e
convulsões políticas em toda a Europa Central, que culminaram na Guerra
dos Trinta Anos (1618-1648), na qual 25% da população da região pereceu.
A gênese do mundo contemporâneo foi um compromisso prático e realista:
Estados independentes se absteriam de interferir nos assuntos internos
uns dos outros, e as suas ambições seriam contidas por um equilíbrio
geral de poder.
Apesar de tudo o que aconteceu nesse interregno, como o
surgimento dos Impérios e as duas Guerras Mundiais, o atual
sistema de relações internacionais se sustenta graças a esses dois
princípios da Paz de Vestefália. A Rússia, o Japão, a China, a Índia e a
Turquia ficarem de fora daquele arranjo, mas aos trancos e barrancos
foram atraídos para ele.
Qual foi a contribuição do Novo Mundo? A
democracia. A força dos Estados Unidos vem principalmente daí, do “sonho
americano”, e não do seu belicismo. A utopia comunista, com o colapso
da União Soviética, deixou de ser o seu contraponto como modelo de
sociedade.
Como no samba de Paulinho da Viola, para entender o
que se passa aqui, há que olhar para o que acontece lá fora — e aprender
com isso. Não existe assimetria entre a política externa do governo
brasileiro e a sua política econômica, são faces da mesma moeda: uma
concepção equivocada do mundo, a despeito da histórica competência do
Itamaraty.
Vem daí grande parte das dificuldades do Brasil, que
abandonou a estratégia de integração competitiva à economia mundial,
iniciada com a abertura comercial do governo Collor e consolidada nos
governos Itamar e FHC, com o Plano Real.
A ideia de que a saída da
crise mundial seria liderada pelos países emergentes, como China,
Rússia, Índia, África do Sul, com o Brasil no bolo, não se realizou.
Pelo contrário, os Estados Unidos reinventam sua economia e protagonizam
a saída da crise no Ocidente, do qual o Brasil faz parte. O problema é
que a economia brasileira está virada para outro lado.
De que lado
nós queremos estar? Essa é a questão posta pela política externa
brasileira, inclusive para os nossos vizinhos da Argentina, da Bolívia e
da Venezuela. Dessa resposta vai depender o sucesso das medidas
adotadas para enfrentar os problemas do nosso país.
Mas parece que o
governo não entende assim. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a
presidente Dilma Rousseff exumaram velhas concepções autárquicas de
desenvolvimento em plena globalização. Uma espécie de
“terceiro-mundismo” está por trás de muitos desacertos da economia.
Na
nova divisão internacional do trabalho, o único lugar cativo do Brasil é
a produção de commodities de alimentos e de minérios, sujeita aos
humores do mercado comprador, principalmente da China. A exploração do
pré-sal em águas profundas não é uma vocação natural. É uma
possibilidade, depende dos preços praticados pela Arábia Saudita e do
nosso avanço tecnológico.
Petrobras
A
competitividade da indústria nacional — a automotiva, por exemplo — não
pode ser garantida por reservas de mercado e desonerações fiscais,
precisa de ganhos de qualidade e produtividade, como é o caso da
Embraer. A lógica da política industrial brasileira, porém, foi
alavancar grandes grupos econômicos com crédito subsidiado e desonerar a
folha de pagamento das empresas, para gerar consumo e emprego à custa
do sacrifício dos ganhos de qualidade e produtividade.
Essa
“brincadeira” custou R$ 25 bilhões” por ano ao Tesouro. É quase o dobro
do valor dos ativos que a Petrobras pretende vender — ou melhor,
privatizar —, para cobrir o rombo no caixa provocado pela má gestão e
pela roubalheira.
A “nova matriz” econômica fracassou. Os setores da
economia controlados pelo governo a partir da Petrobras e da Eletrobras e
dos bancos oficiais, e dos fundos de pensão associados aos grupos
econômicos “amigos” do governo, não foram robustos o suficiente para dar
sustentação ao modelo. O Brasil estava vivendo acima de suas
possibilidades, como aquela cigarra da fábula de Esopo. O preço das
commodities desabou e a fartura de dólares no mercado internacional
acabou.
Essa mudança de condições atingiu a todos os países
emergentes, mas o que agrava a nossa situação é a crise da Petrobras. A
empresa está sendo asfixiada, como única operadora do pré-sal, obrigada a
participar de pelo menos 30% de todo projeto de exploração.
Estima-se
que a Petrobras e as empresas envolvidas na Operação Lava Jato tenham
firmado contratos com bancos públicos e privados avaliados em R$ 130
bilhões. Sua crise, além de arrastar o setor de infraestrutura, pode
atingir seriamente o sistema financeiro. Além disso, o escândalo de
corrupção na estatal ameaça de rebaixamento da qualidade da dívida do
país, afasta investidores e fomenta uma grave crise política e
institucional.
2 comentários:
Para seu conhecimento. Escrito ontem.
UM DILEMA ABISSAL TRAZIDO PELA IRRESPONSABILIDADE DE UM DESGOVERNO.
A sociedade brasileira está defronte a um dos maiores enigmas dessa Nação:” O QUE FAZER COM O LAVA-JATO”.
Vou tentar explicar a minha visão do problema: As empreiteiras envolvidas estão á frente das maiores obras públicas desse país abrangendo diversos segmentos econômicos.
Os desvios de recursos que já apareceram mostra o tamanho desse afronta ao brasileiro comum que depende da ação social do Governo.
São BILHÕES de reais surrupiados dos cofres públicos e doados a políticos da Base Aliada (Com o PT incluso).
Essa ação de recompra dos corações e mentes dos políticos “mensaleiros”, que foi facilitada pela criação das “PORTAS DE SAÍDA INFRINGENTES”, com as bênçãos do STF, tende a levar o país ao abismo se medidas drásticas não forem adotadas.
Medidas muito mais duras do que as anunciadas pelo “Ministro – é brincadeira” deveriam estar sendo tomadas contras às empreiteiras, seus diretores e seus executivos visando minimizar os prejuízos causados á sociedade brasileira.
Milhares de pessoas estão com seus empregos em risco. Bilhões de reais estão correndo risco de inadimplência nas Carteiras de Crédito de Bancos públicos e privados.
Toda uma política de exploração do pré-sal está sob suspeição e semi-paralisada e o atual Governo se esconde em viagens turísticas bolivarianas sem indicar um caminho para a esperada ação do Estado.
Os nossos órgãos de justiça buscam holofotes (com exceção do Juiz Moro) esquecendo as suas responsabilidades constitucionais em defesa dos bens da nação (sociais e econômicos). Ficam ciscando em terrenos secos de excrementos políticos. Não estão visualizando o desastre descomunal, a caminho.
Se deixarem passar como o fizeram no “mensalão infringente”, onde não souberam nem mesmo o que era uma simples remessa ilegal de divisas estará jogando o país numa devassidão incontrolável que, definitivamente, acabará com todas as esperanças de um futuro digno para essa nação.
Por outro lado não se pode impor ao povo o pagamento total dessa fatura que ainda está pela metade. Quando as Caixas de Pandora dos outros megaprojetos forem abertas o céu será o limite. E para evitar-se o caos financeiro e moral tem-se que tomar decisões fortes, ou seja, tem-se que criar um "PROER" das EMPREITEIRAS.
O Governo tem que intervir estatizando por um curtíssimo período de tempo as empresas envolvidas nesse descalabro para que possa as mesmas continuar a operar. Separar o lado podre e vender a R$ 1,00 para empresas nacionais ou estrangeiras o que restar.
Pegar a banda podre e loca-la como dívida dos controladores da “velha empresa” tirando dos bancos a incerteza dos pagamentos em aberto.
Julgar e condenar fortemente as pessoas físicas envolvidas no “Petrolão”. Impor a todos os beneficiários diretos ou indiretos desse roubo a repatriação e a devolução dos recursos desviados em operações fraudulentas. Não deixando que familiares ou “amigos” usufruem dessa dinheirama que pertence a todos os brasileiros.
É assim que eu vejo essa questão.
Se não fizerem nada disso, o Brasil vai o desastre político/social e econômico.
hilário
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