Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 17/03/2015
Como se não bastassem os problemas da
economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não
consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu
partido
O labirinto de Creta era um
jardim de sebes plantadas deliberadamente para confundir quem nele
entrasse, dificultando a saída. Na mitologia grega, teria sido
construído por Dédalo, um famoso arquiteto, para alojar o Minotauro —
metade homem, metade touro —, a quem eram oferecidos jovens, que morriam
devorados. O herói ateniense Teseu conseguiu derrotá-lo e sair do
labirinto graças ao novelo que lhe foi dado por Ariadne, princesa de
Creta, cujo fio foi desenrolando ao longo do percurso.
Um dia
após os protestos contra o governo em várias cidades do país, a
presidente Dilma Rousseff parece perdida no grande labirinto que ela
mesmo mandou construir, mas do qual não consegue sair. Falta-lhe um fio
de Ariadne para escapar do monstro que alimentou durante todo o primeiro
mandato e agora ameaça devorá-la. Também não há nenhum herói disposto a
salvá-la: nem mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma
deu entrevista ontem tentando minimizar a crise que o país atravessa e a
falta de iniciativa política do governo. “Quando eu vi centenas e
milhares de cidadãos se manifestando, não pude deixar de pensar que
valeu a pena lutar pela liberdade, valeu a pena lutar pela democracia.
Este país está mais forte do que nunca”, declarou.
A presidente
da República procurou desfazer a imagem de um governo acuado pela
sociedade e isolado politicamente: “Um país amparado na separação, na
independência e na harmonia dos Poderes, na democracia representativa,
na livre manifestação popular nas ruas e nas urnas se torna cada vez
mais impermeável ao preconceito, à intolerância, à violência, ao
golpismo e ao retrocesso”.
Durante a entrevista, porém, tratou as
manifestações de domingo como se tivessem a mesma dimensão da
mobilização chapa-branca promovida pelas centrais sindicais na
sexta-feira. Dilma disse que vai dialogar com os manifestantes e que
pretende enviar ao Congresso propostas para combater a corrupção.
Soaram
falsas, porém, as declarações de humildade. Dilma manteve a retórica
oficial, que atribui intenções golpistas à oposição: “Eu tenho certeza
de que o que nós queremos é um lugar em que todos possam exercer seus
direitos pacificamente, sem ameaça às liberdades civis e políticas”.
Desgaste profundo
Nos
bastidores do Planalto, o clima é de insegurança e perplexidade.
Pesquisas não oficiais apontam para a queda acelerada dos índices de
aprovação do governo e o aumento da rejeição a Dilma, estimativas que
deverão ser confirmadas pelo Datafolha e pelo Ibope até o fim da semana.
O governo estaria na situação de um paciente terminal na UTI. Poderá
sobreviver por longo período, em estado vegetativo, mas somente com a
ajuda de aparelhos.
Como se não bastassem os problemas da
economia e o esgarçamento das relações com o Congresso, Dilma não
consegue se descolar do escândalo da Petrobras e do desgaste de seu
partido. Ontem, o PT foi acusado pelo Ministério Público Federal de
receber propina do esquema de lavagem de dinheiro investigado pela
Operação Lava-Jato.
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato
Duque, notoriamente ligado à legenda, foi preso novamente, depois de a
investigação comprovar que havia transferido 20 milhões de euros de
contas secretas da Suíça para o Principado de Mônaco. Na cúpula petista,
há o temor de que acabe fazendo um acordo de delação premiada, por
pressão dos familiares.
Na semana passada, em depoimento na CPI
da Petrobras, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco acusou diretamente
Duque e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de participação ativa no
esquema de corrupção da Petrobras. Vaccari está solto, mas foi
denunciado pelo MPF com Duque.
Dilma não pode ser investigada
por fato ocorrido antes do exercício do atual mandato. Supostamente, a
campanha de 2010 teria recebido doações das empresas envolvidas no
esquema de corrupção na Petrobras. A acusação foi denúncia feita por
Barusco.
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