Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/03/2015
O governo é avaliado como “ótimo” por
apenas 1,9% da população; a classificação de péssimo soma 45,6%. A presidente Dilma Rousseff é desaprovada por 77,7%; a aprovação é de apenas 18,9%.
A pesquisa CNT/MDA divulgada
ontem pela Confederação Nacional dos Transportes confirmou a tendência
apontada pela pesquisa Datafolha da semana passada, consolidando o
impacto das manifestações de 15 de março na população, já que foi
realizada entre os dias 16 e 19. Mostra um rosário de informações
negativas para a presidente Dilma Rousseff, cujo governo parece estar em
colapso para a opinião pública.
A pior das notícias para o
Palácio do Planalto, sem dúvida alguma, é a de que Dilma perderia as
eleições para Aécio Neves (PSDB) se o pleito fosse hoje: 55,7% votariam
no tucano no segundo turno e apenas 16,6% na petista. Votos nulos e
brancos somariam 22,3%. No segundo turno da eleição presidencial de
2014, 41,6% dos entrevistados afirmaram ter votado em Dilma Rousseff, e
37,8%, em Aécio Neves. Outros 10,8% disseram ter votado em branco ou
nulo.
Isso significa que Dilma venceu as eleições, mas sofreu
uma derrota política na sequência do pleito, da montagem do Ministério
às manifestações de 15 de março. Menos de 80 dias após a posse, quando o
normal seria estar gozando de grande popularidade e apoio político,
Dilma está no sal. De onde veio essa reviravolta? Do golpismo da
oposição? De uma campanha udenista da imprensa? Da sabotagem dos aliados
do PMDB no Congresso? Nada disso, Dilma é que cavou um abismo com os seus
pés, para tomar emprestado um lindo verso de Cartola.
Os dados
da pesquisa são um massacre: o governo é avaliado como “ótimo” por
apenas 1,9% da população; a classificação de péssimo soma 45,6% dos
entrevistados. A presidente Dilma Rousseff tem o seu desempenho pessoal
desaprovado por 77,7%; a aprovação é de apenas 18,9%.
A ideia de
que Dilma Rousseff praticou um estelionato eleitoral está enraizada na
população. Por dois motivos: primeiro, porque errou na condução da
economia, manipulou os dados oficiais sobre ela e manobrou as políticas
públicas irresponsavelmente, com o objetivo de se reeleger. Segundo,
porque, em razão disso, está fazendo tudo ao contrário do que havia
prometido nas eleições. A realidade não confere com a propaganda que foi
ao ar na campanha eleitoral.
Na reunião da coordenação política
de ontem, Dilma anunciou que pretende decidir pessoalmente os cortes que
serão feitos no Orçamento, a partir de uma lista de prioridades
apontadas pelos ministros. Tenta mitigar os efeitos do ajuste e salvar
algumas bandeiras de campanha. Do outro lado da Praça dos Três Poderes,
porém, para aprovar o ajuste, o PMDB cobra a redução de 40 para 20
ministérios e um corte de 50% nos milhares de cargos comissionados.
O
discurso peemedebista é de quem está disposto a aprovar o ajuste fiscal
desde que o PT perca um naco grande de poder. Dilma tenta acalmar os
aliados oferecendo o Ministério da Educação a Gabriel Chalita,
peemedebista de São Paulo ligado ao vice-presidente Michel Temer, como
moeda de troca. É ou não é mais do mesmo?
Economia e éticaO
pior é que a insatisfação da opinião pública está concentrada no
governo federal, apesar da grande ojeriza da maioria dos cidadãos aos
partidos e do desgaste dos políticos. A aprovação dos governadores e
prefeitos atingem 24,4% e 26,8%, respectivamente, índice acima do
registrado pelo governo federal. Por outro lado, a rejeição aos
governadores é de 26,7%; a dos prefeitos, 41,8%, percentuais abaixo do
verificado em relação ao Planalto.
A insatisfação com a economia
já é grande e tende a aumentar. A expectativa é negativa em relação ao
emprego, que sempre foi um ponto forte do governo. Apenas 13,9% acham
que vai melhorar nos próximos seis meses, enquanto 45% responderam que
ficará igual. Outros 37% apostam numa piora. Segundo a pesquisa, 91,2%
afirmam que sentem os reflexos da inflação na própria vida; 95,9%
responderam que percebem aumento no preço dos alimentos; 91,2% dizem o
mesmo em relação ao transporte. A percepção sobre o aumento dos custos
também é vista em relação aos serviços de saúde (84,5%) e no preço da
água e luz (97,4%).
Na saúde, 40,1% dizem que vai piorar. Somente
13,3% apostam em melhora. O mesmo ocorre com a educação, sobre a qual
42,2% acreditam que vai piorar, e 15,4% dizem que vai melhorar. Além da
economia, as denúncias de corrupção na Petrobras ajudam a pôr a imagem
de Dilma à beira do precipício. De acordo com a pesquisa, 85% estão
acompanhando o assunto, e 68,9% acreditam que a presidente é culpada
pela corrupção.
A grande novidade é 67,9% acharem que Lula é o
culpado pelo escândalo, o que limita a capacidade de o ex-presidente
influenciar a opinião pública em favor do governo, e reforça a
estratégia que adotou na crise: mergulhar. Tudo junto e misturado,
agrava-se a situação do governo: 75,4% apostam que o segundo mandato da
presidente Dilma será pior do que o primeiro; e 66,9% acreditam que o
governo federal não será capaz de reverter a atual crise. Não é outro o
motivo de 59,7% dos entrevistados serem a favor do impeachment da
presidente Dilma Rousseff. E apenas 37,7% serem contra o afastamento
dela da Presidência. É de tirar o sono dos governistas.
Um comentário:
É uma análise chocante dos fatos, mais acredito que o PMDB vai impor a sua vontade, porem não vai escapar do lava-jato, isto é não temos saída.
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