Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 03/09/2014
A
mudança de rumo da campanha para o confronto duro e direto foi
precipitada pela pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Marina abriu
16 pontos de vantagem em relação à Dilma em São
Paulo
Bateu um desespero no comando de
campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), que partiu pra cima de
Marina Silva (PSB) no horário eleitoral, comparando-a aos ex-presidentes
Jânio Quadros e Collor de Mello, que renunciaram aos cargos — o
primeiro, na esperança de voltar nos braços do povo e dar um golpe de
estado; o segundo, para evitar a aprovação de seu impeachment pelo
Congresso.
A comparação já vinha sendo feita por petistas e
tucanos nas redes sociais, mas a decisão de utilizá-la na propaganda
oficial da candidata petista foi ideia do marqueteiro João Santana, que
não sabe explicar o que está acontecendo com a campanha de Dilma na
tevê, pois não surtiu efeito até agora, apesar da enorme vantagem em
termos de tempo de televisão e recursos de edição.
O ataque
direto já estava previsto nos cenários de um eventual segundo turno
contra a candidata da PSB, mas foi antecipado porque a estratégia
adotada explorava as contradições de Marina para atacá-la, porém, não
deu os resultados desejados. A opção foi o tratamento de choque.
O
confronto direto com a candidata Marina Silva já havia sido adotado no
debate do SBT entre os candidatos à Presidência da República, que foi
utilizado no programa eleitoral para vender a ideia de que Dilma venceu o
embate com os demais candidatos. Dilma faz críticas e perguntas a
Marina, que ficam no ar; os demais candidatos também não aparecem.
A
mudança de rumo da campanha para o confronto duro e direto foi
precipitada pela pesquisa do Ibope divulgada ontem, na qual Marina abriu
16 pontos de vantagem em relação à presidente da República em São
Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Pela mesma razão, Dilma
intensificou a campanha naquele estado.
A situação do PT em São
Paulo continua dramática. A mesma pesquisa Ibope aponta o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com 47% das intenções, com chances de
vencer no primeiro turno. O presidente licenciado da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), tem 23% de
intenções de voto; e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) tem
apenas 7%, muito abaixo da média histórica do PT, que gravita em torno
dos 30%.
Aécio reage
O presidenciável do
PSDB, senador Aécio Neves, também subiu o tom das críticas a Marina
Silva. Ontem, em São Paulo, falou das mudanças de posicionamento da
candidata do PSB, a quem chamou de “metamorfose ambulante”. Foi uma
alusão ao reposicionamento da candidata sobre o agronegócio e à mudança
no programa de governo quanto ao casamento gay.
Ao lado do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o tucano disse que tem
propostas e equipe para governar o país e atacou as adversárias: “O
improviso não é o melhor conselheiro. Estamos vendo, de um lado, um
governo que reage aos índices das pesquisas alterando suas convicções, o
que não é bom — age até com certo desespero — e que vai perder as
eleições. E, do outro lado, o que eu vejo é uma candidatura que mais se
assemelha a uma metamorfose ambulante, que altera suas convicções ao
sabor das circunstâncias”.
Nos bastidores do PSDB, sobraram
críticas ao presidente do DEM, senador José Agripino Maia,
coordenador-geral da campanha, por causa das declarações admitindo um
eventual apoio a Marina Silva no segundo turno. A pisada de bola só não
gerou uma crise no comando da campanha porque Agripino não decide nada
sozinho, tudo depende do aval de Aécio.
Os tucanos acreditam que o
quadro eleitoral ainda pode sofrer grandes mudanças, uma vez que Marina
Silva enfrentará pelo menos 30 dias de ataques governistas para
desconstruí-la. Nesse cenário, os últimos 15 dias de campanha seriam
decisivos. No momento, a grande preocupação é com a candidatura de
Pimenta da Veiga, em Minas Gerais, que precisaria ser fortalecida com
uma maior presença de Aécio.
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