Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 18/09/2014
Aécio tenta qualificar seu projeto na mudança, sentimento hoje majoritário entre os eleitores, para se contrapor a Marina Silva, que vem revelando surpreendente capacidade de resistência ao bombardeio que sofre
A única novidade do cenário eleitoral, afora o bate-boca entre Dilma Rousseff e Marina Silva sobre a legislação trabalhista, é a recuperação eleitoral de Aécio Neves (PSDB), que demonstrou capacidade de resistência e reação numa disputa na qual começou sob o fogo cerrado da presidente Dilma Rousseff e do PT: o tucano reduziu de 16 para 11 pontos a desvantagem em relação a Marina Silva (PSB), segunda colocada na corrida presidencial, na pesquisa do Ibope divulgada na terça-feira à noite. Não é pouco a essa altura do campeonato.
A presidente Dilma continua na liderança, mas parece que sua campanha bateu no teto e caiu: diminuiu de 8 para 6 pontos a distância em relação a Marina, mantendo-se em empate técnico com ela no segundo turno. A petista tinha 39% há uma semana e, agora, está com 36%. Marina oscilou de 31% para 30%, enquanto Aécio cresceu de 15% para 19%. Os demais candidatos têm 2%. Esse cenário afasta a possibilidade de desfecho da disputa no primeiro turno.
As dificuldades da presidente Dilma têm muito a ver com sua rejeição, pois 32% afirmam que não votariam na atual presidente da República “de jeito nenhum”. Aécio tem 19%, e Marina, 14%. Havia uma expectativa de que a petista continuasse crescendo em meio ao tiroteio com os adversários, mas não é o que aconteceu. O bate-boca entre Dilma e Marina favoreceu Aécio, que ganhou pontos com a troca de acusações. A agressividade de Dilma tirou-lhe parte dos votos que havia recuperado.
Volatilidade
O ambiente eleitoral costuma ser muito volátil nas duas últimas semanas de campanha, pois muita coisa pode acontecer em razão dos programas de televisão e de rádio e do desempenho dos candidatos nos debates, sem falar das campanhas de rua. Segundo as pesquisas, 27% dos eleitores que hoje declaram voto em Marina no segundo turno admitem mudar de candidato. No caso de Dilma Rousseff, esse percentual sobe para 49%.
Esses eleitores estão entre Dilma e Marina, mas nada impede que uma parcela possa migrar para Aécio, que na pesquisa Ibope subiu, retirando votos tanto de uma quanto de outra adversária. O curioso é que o perfil eleitoral das candidatas do PT e do PSB é muito diferente. Marina é a preferida do eleitor jovem, mais instruído, com renda mais alta e morador dos grandes centros urbanos. O eleitorado de Dilma é mais velho, com nível educacional mais baixo, renda mais baixa e está concentrado nos grotões do país.
Marina é mais votada entre eleitores na faixa etária de 16 a 24 anos (49%), ensino superior completo (50%) e renda mensal acima de cinco salários mínimos (56%). A candidata do PSB tem seu melhor desempenho na Região Sudeste (50%), nas capitais (49%) e em municípios com mais de 100 mil eleitores (46%).
Dilma Rousseff tem garantia de voto do eleitorado com faixa etária acima de 55 anos (46%), escolaridade até a 4º série do ensino fundamental (53%) e renda mensal de até um salário mínimo (58%). A presidente tem melhor desempenho na Região Nordeste (58%), no interior (46%) e em municípios de até 20 mil eleitores (57%).
E Aécio Neves? A recuperação do tucano mostra que é possível comer o mingau pelas bordas, apostando nas estruturas de poder controladas pelo PSDB em São Paulo, Paraná, Minas, Goiás e Pará, além do apoio de aliados estratégicos no Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Amazonas e Mato Grosso, principalmente. O tucano tirou votos de Dilma no Centro-Oeste e no Norte do país e de Marina no Sul. Cresceu em todas as faixas de renda e níveis de escolaridade.
É no projeto político que herdou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e nessas estruturas de poder do PSDB que o tucano aposta, convicto de que ainda pode chegar no segundo turno, uma vez que os candidatos tucanos à reeleição — Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO) e Simão Jatene (PA) — vão muito bem, obrigado, ao contrário do que acontece com a maioria dos candidatos do PT e do PSB.
Aécio tenta qualificar seu projeto na mudança, sentimento hoje majoritário entre os eleitores, para se contrapor a Marina Silva, que vem revelando surpreendente capacidade de resistência ao bombardeio que sofre. As próximas pesquisas dirão se o caminho está aberto para isso. Seu maior problema, no momento, é a situação de Minas Gerais, que deve concentrar sua atuação na reta final, para eleger o tucano Pimenta da Veiga e derrotar o petista Fernando Pimentel, que hoje lidera a disputa.
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