Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/09/2014
Dilma trabalha a imagem forte de uma presidente da República
que disputa a reeleição; a de petista é frágil e não lhe interessa, a
não ser para manter a gana de poder da militância
A presidente Dilma Rousseff não faz mais nada no exercício do cargo
que não mire o seu programa de tevê de candidata do PT. Está sempre com
um olho nos interlocutores e outro na lente da câmera de filmagem do
repórter de sua campanha. Precisa disso como o ar que respiramos por
causa do desgaste de imagem do PT, responsável por alguns desastres
eleitorais em estados importantes, como São Paulo e Rio de Janeiro, sem
falar nas agruras do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul.
Na
prática, Dilma trabalha a imagem forte de uma presidente da República
que disputa a reeleição; a de petista é frágil e não lhe interessa, a
não ser para manter a gana de poder da militância em eventos
partidários. A estratégia de marketing é tão ostensiva que o presidente
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Antônio Dias Toffoli, um
ex-militante petista de carteirinha, chegou a chamar a atenção de Dilma
de que o uso do Palácio da Alvorada, a residência oficial, como locação
para peças de campanhas e entrevistas de candidata, era uma prática
indevida.
De nada adiantou, pois Dilma já disse que o Alvorada é a
única casa que tem para morar e não pode separar uma coisa da outra.
Não é bem verdade, pois o comitê eleitoral tem um escritório para a
petista que nunca foi usado, mas isso é outra história. Ontem, Dilma
exagerou. Foi à solene abertura da Assembleia Geral da ONU para fazer
proselitismo eleitoral, com um discurso de balanço de seu governo que
lembrou Leonid Brejnev, ex-secretário-geral do Partido Comunista da
extinta União Soviética nos congressos partidários.
A diferença é
que os informes de balanço do líder comunista ocorriam nas dependências
do Kremlin, não na Assembleia-Geral da ONU, palco de discursos
memoráveis de outros líderes, mesmo de alguns ex-guerrilheiros, como o
discurso em francês de Che Guevara, em 1964, em defesa da Revolução
Cubana, após a fracassada invasão da Baía dos Portos; ou a histórica
intervenção de Yasser Arafat, em 1974, quando a Organização para a
Libertação da Palestina (OLP) foi reconhecida como legítima
representante de seu povo e anunciou o abandono das ações terroristas em
Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém.
Mas o discurso de Dilma na
ONU foi, sobretudo, chinfrim, nem de longe lembrou, por exemplo, a
participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia
Geral da ONU de 2009, quando o líder petista falou da crise econômica
mundial, das mudanças climáticas e da ausência de uma governança mundial
estável e democrática. Foi uma mera prestação de contas do governo
Dilma, completamente fora de contexto e distorcida por dados maquiados.
Em
vez de usar a tribuna para falar dos problemas do mundo, Dilma fez
propaganda do período petista no poder. “Abro este debate geral às
vésperas de eleições, que vão escolher, no Brasil, o presidente da
República, os governos estaduais e grande parte de nosso Poder
Legislativo. Essas eleições são a celebração de uma democracia que
conquistamos há quase 30 anos, depois de duas décadas de governos
ditatoriais. Com ela, muito avançamos também na estabilização econômica
do país.”
A partir daí, fez uma autolouvação sem fim. Mais uma
vez, a presidente da República mascarou os números de sua administração
agregando-os aos indicadores dos oito anos do governo Lula. Esse é o
eixo de seu discurso para atacar a gestão de Fernando Henrique Cardoso
e, assim, manter a polarização PT versus PSDB.
Com exceção dos ataques dos EUA ao Estado Islâmico, na Síria, que condenou, os problemas da
política internacional e da integração do Brasil à economia mundial, que
não são pequenos, foram simplesmente ignorados. Isso é o que
interessaria aos representantes das nações, quando nada aos aliados do
Brasil na América Latina e na África, todos surpreendidos pelo discurso
provinciano de Dilma. Para o Itamaraty, foi mais um vexame diplomático.
Na véspera, a participação de Dilma na Cúpula do Clima teve o mesmo
objetivo.
Pauliceia desvairada
É
desesperada a situação do PT em São Paulo, onde a candidatura do
ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha não decola de jeito nenhum. O
governador Geraldo Alckmin (PSDB), segundo o Ibope, hoje venceria a
disputa pela reeleição no primeiro turno, com 49%, seguido por Skaf, do
PMDB, com 17%, e Padilha, com 8%.
A bancada de deputados federais do
partido, que sempre trabalhou com resultados na faixa dos 30%, vive uma
espécie de salve-se quem puder. Os principais líderes estão em risco
eleitoral. Nem mesmo o senador Eduardo Suplicy, ícone do chamado “PT do
bem”, escapa da debacle.
A situação de Padilha é atribuída à
artificialidade da candidatura do ex-ministro, um capricho do
ex-presidente Lula; à má administração do prefeito de São Paulo, o
petista Fernando Haddad; e aos desgastes da legenda provocados pelo
julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
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