Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 09/09/2014
No domingo,
Mantega foi ao encontro de Dilma Rousseff, com quem almoçou no Palácio
da Alvorada, e pediu demissão. Dilma fez um apelo para que fique até
depois da eleição presidencial
Como antecipamos na
quinta-feira passada, o ministro Guido Mantega foi mesmo descartado pela
presidente Dilma Rousseff. É o bode expiatório de seu fracasso
econômico, que ontem registrou uma previsão de PIB para 2014 que começa a
se aproximar do crescimento zero. Na semana passada, Dilma anunciou que
mexeria na equipe econômica para tentar se reaproximar dos setores
empresariais que apoiam Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), uma
sugestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No domingo,
Mantega foi ao encontro de Dilma Rousseff, com quem almoçou no Palácio
da Alvorada, e pediu demissão. Dilma fez um apelo para que fique até
depois da eleição presidencial. Ontem, durante entrevista ao jornal O
Estado de S.Paulo, transmitida pela internet, Dilma anunciou que Mantega
não permanecerá no governo na hipótese de ela vir a ser reeleita.
Resultado: o país tem um ministro da Fazenda que recebeu aviso prévio.
“O
Guido já me comunicou que ele não tem como ficar no governo em um
segundo mandato por razões eminentemente pessoais que peço que vocês
respeitem”, disse Dilma. É conversa para boi dormir. Não existe a menor
possibilidade de Mantega, o mais longevo ministro da Fazenda da história
republicana, continuar no cargo sem agravar a situação da economia. A
única saída de Dilma para restabelecer a confiança do mercado antes das
eleições seria anunciar logo o nome do futuro ministro. E deixar Mantega
pegar o boné e ir pra casa.
Dilma resiste a abrir mão do comando
da economia. Não aceita ninguém do mercado que tenha luz própria, como o
ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que seria a solução
ideal na avaliação do ex-presidente Lula. Economista, Dilma prefere
alguém que seja bem mandado, para continuar ela própria comandando a
economia.
Não pode, porém, anunciar uma solução desse tipo sem
fechar de vez as portas do mundo empresarial para sua reeleição. Esse é o
impasse no qual se encontra, que tende a tornar ainda pior o ambiente
econômico. A versão eleitoral, porém, é outra: “Não vou nunca dizer quem
vai ser ministro no meu segundo mandato, se porventura eu tiver. Quem
indica ministro antes da hora, eu acho que dá azar (…)”, desconversa.
Segundo
o relatório de mercado divulgado ontem pelo Banco Central, com base em
pesquisa com mais de 100 instituições financeiras, a previsão dos
analistas para o crescimento da economia brasileira em 2014 recuou de
0,52% para 0,48%. Foi a 15ª queda seguida do indicador, que funciona
como uma espécie de bússola para os investidores. Como a eleição será em
outubro e, muito provavelmente, haverá segundo turno, dificilmente a
tendência de crescimento zero será revertida.
Petrobras
Circula
no Congresso que a “delação premiada” do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa é mais cabeluda do que se imagina. Não se tratariam apenas
de depoimentos gravados em vídeo, como se imaginava, mas de acusações
fundamentadas em provas materiais — extratos bancários, contratos,
ligações telefônicas etc. —, que comprometeriam todos os suspeitos de
receberem propina.
Ontem, o presidente das duas comissões
parlamentares de inquérito que investigam as denúncias contra a
Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), encaminhou ofício ao Supremo
Tribunal Federal (STF) pedindo acesso ao conteúdo dos depoimentos, como
requereu o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR).
Sem dar
detalhes ou apresentar documentos, a revista Veja revelou que Paulo
Roberto Costa, em depoimentos ao Ministério Público Federal (MPF), na
superintendência da Polícia Federal em Curitiba, teria denunciado três
governadores, seis senadores, um ministro e, pelo menos, 25 deputados
federais. Com exceção de um dos citados, que morreu e não pode se defender, todos negam ter recebido propina do ex-diretor da Petrobras.
A
presidente Dilma Rousseff também pediu informações à Polícia Federal
sobre o caso, mas a resposta foi que a solicitação deveria ser
encaminhada ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se o
Ministério Público não for capaz de responder, vou pedir ao Supremo
Tribunal Federal”, avisou Dilma, que, até agora, por causa disso, não
tomou nenhuma providência em relação ao ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão, supostamente envolvido.
A oposição bate no governo por causa do escândalo.
“Essas novas denúncias têm que ser apuradas. Não vou fazer
prejulgamento. Espero que a Justiça seja acionada e apure tudo o que foi
denunciado”, disse ontem Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da
República, em Marabá (PA).
“Quem manteve toda essa quadrilha que
está acabando com a Petrobras é o atual governo, que, conivente, deixou
que todo esse desmande acontecesse em uma das empresas mais importantes
do nosso país”, disparou Marina Silva em São Paulo. Segundo a candidata
à Presidência pelo PSB, Dilma “tem responsabilidade política” pelo que
acontece na Petrobras.
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