Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 24/09/2014
Depois de um
extenuante primeiro turno, os dois finalistas ainda terão que participar de
uma corrida de velocidade, na qual a explosão muscular costuma decidir
tudo
A presidente Dilma Rousseff
(PT), a ex-senadora Marina Silva (PSB) e o senador Aécio Neves (PSDB)
chegam à reta final da campanha como aqueles atletas que disputam
corridas de fundo, na qual a resistência acaba sendo mais importante do
que a velocidade da arrancada. A pesquisa Ibope encomendada pela Rede
Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo divulgada ontem mostra bem isso.
A
petista, candidata à reeleição, oscilou dois pontos para cima, passando
de 36% para 38%. O tucano manteve os 19% de taxa de intenção de votos, e
a candidata socialista caiu de 30% para 29%. Com isso, Dilma passa a
ter nove pontos percentuais de vantagem sobre a principal adversária no
primeiro turno. Para completar o quadro, vem o retardatário Pastor
Everaldo (PSC), com 1% das menções. Os demais candidatos, somados,
obtiveram 2%.Os indecisos são 5%, e pretendem votar nulo ou em branco
7%.
Com apoios políticos precários, pouco tempo de televisão,
campanha confinada aos recintos fechados e falta de material de
campanha, Marina Silva perdeu dois pontos percentuais e, com isso, o
favoritismo na disputa de segundo turno. A candidata do PSB está agora
empatada com a petista, em 41% de intenção de votos. No levantamento
anterior, aparecia à frente, com 43% contra 40%.
Na outra
simulação de segundo turno, Aécio ficaria 11 pontos percentuais atrás de
Dilma. A petista se fortaleceu graças ao programa de tevê, responsável
pela melhora da avaliação positiva do governo, que oscilou de 37% para
39%. As taxas dos que consideram a administração regular (33%) e ruim ou
péssima (28%) permaneceram onde estavam.
Diante desse cenário, a
chegada a 5 de outubro será dramática. A cúpula petista já sonha com
uma vantagem significativa no primeiro turno, que possibilitaria mais
possibilidade de reeleição para a presidente Dilma, apesar da taxa de
rejeição dela ser a maior entre os candidatos: 31%, contra 19% de Aécio e
17% de Marina. O realinhamento de forças políticas no segundo turno
tende a favorecer quem chega em muita vantagem no primeiro turno.
A
fragilidade da campanha de Marina Silva também anima os tucanos, uma
vez que Aécio Neves conseguiu se recuperar do impacto inicial sofrido
com a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que o tirou
de segundo para terceiro lugar na disputa. Acreditam que Marina deve
cair ainda mais nas pesquisas, sob os duros ataques do PT e as críticas
do PSDB.
Voltamos, assim, à imagem dos corredores. Depois de um
extenuante primeiro turno, os dois finalistas terão que participar de
uma corrida de velocidade, na qual a explosão muscular costuma decidir
tudo. É aí que a preparação eleitoral deixa Marina em desvantagem, pois
virou candidata repentinamente, em razão do desastre aéreo no qual
Campos morreu.
Cúpula
O bate-boca entre
Dilma e Marina chegou à Cúpula do Clima, conferência da Organização das
Nações Unidas (ONU) da qual a presidente da República participou ontem,
em Nova York. Durante entrevistas, Dilma disse que fez mais do que
Marina no combate ao desmatamento da Amazônia, “em números absolutos”.
Ex-seringueira, Marina chefiou a pasta do Meio Ambiente entre 2003 e
2008, no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A
candidata do PSB, que havia sido convidada para o evento, mas declinara
do convite por causa da campanha, deu o troco ao classificar de
“lamentável” a decisão do governo brasileiro de não assinar uma
iniciativa global antidesmatamento anunciada na cúpula. Marina afirmou
que o discurso de Dilma Rousseff ficou limitado às conquistas do passado
em vez de assumir compromissos para o futuro.
Aroeira
Aécio
Neves, ontem, em Niterói (RJ), manteve a estratégia de tratar Dilma e
Marina como farinhas do mesmo saco: “O PT que está no governo fracassou,
e nós não queremos um outro tipo de PT recomeçando e aprendendo na
administração federal. Presidência da República não é lugar para
aprendizado, e nós estamos vivendo a experiência disso com relação à
candidata Dilma. Já a outra candidata (Marina Silva) busca aprender no
governo. Nós queremos oferecer ao Brasil uma proposta experimentada,
qualificada, competente e corajosa para melhorarmos a vida dos
brasileiros”.
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