Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 04/09/2014
O ex-presidente Lula defende a tese de que Mantega deve ser substituído pelo ex-presidente do Banco Central Henrique
Meirelles para
que Dilma possa recuperar a confiança dos empresários
Depois de associar Marina Silva a
Collor de Mello, seu fiel aliado durante todo o mandato e, agora, nas
eleições em Alagoas, onde ele concorre à reeleição para o Senado contra
Heloisa Helena (Psol), a presidente Dilma Rousseff (PT) resolveu jogar
mais carga ao mar e anunciou ontem que pretende mudar a equipe de
governo.
É um recado para os meios empresariais de que pretende
entregar a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega,
responsabilizando-o pelo fracasso da política econômica. A queda dele é
pleiteada no mercado financeiro e por setores industriais e de
infraestrutura, como energia. “Obviamente, novo governo, nova — e
necessária — atualização das políticas e das equipes”, disse a
presidente.
Desde o ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva defende a tese de que Mantega deve ser substituído para
que Dilma possa recuperar a confiança dos empresários. Seu nome
preferido para o cargo é o ex-presidente do Banco Central Henrique
Meirelles.
O ministro pode virar o bode expiatório dos erros
cometidos pelo governo ao intervir na economia. Como foi o porta-voz de
do governo em todos os momentos em que a presidente Dilma foi criticada
por empresários, fica fácil atribuir-lhe a paternidade de decisões que,
na verdade, foram tomadas por Dilma Rousseff.
O descarte de
Mantega vem sendo propagado no mercado por petistas bem relacionados na
área. Sua “fritura”, porém, passou a ser feita com fogo alto a partir do
momento em que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci foi acionado
por Lula para reforçar a o trabalho de reaproximação de Dilma com o
mundo empresarial.
Pesquisas
Dilma comemorou o
resultado do Ibope de ontem, que registrou um crescimento de três
pontos nas intenções de votos, o que lhe garantiu a liderança no
primeiro turno, com quatro pontos de diferença para Marina Silva. A
candidata do PSB vinha crescendo vertiginosamente e também registrou um
avanço de três pontos. Ou seja, no limite do empate técnico.
A
cúpula do PT atribui o resultado à estratégia de confronto direto com
Marina Silva, uma vez que a pesquisa foi realizada entre 31 de agosto e 2
de setembro. O programa de televisão da petista melhorou a avaliação do
governo, que subiu de 34% para 36%, e reduziu o elevado índice de
rejeição da presidente da República, de 36% para 31%, considerado mais
confortáveis, apesar de ser o mais alto entre os candidatos.
Pesquisa
Datafolha divulgada ontem também registra ligeira vantagem de Dilma em
relação a Marina, com empate técnico de 35% a 34% de intenções de votos,
respectivamente. A grande novidade é que a vantagem de Marina no
segundo turno caiu de 10 para 7 pontos.
Bombardeio
Marina
também está sendo atacada pelo candidato do PSDB, Aécio Neves, que
segue firme na disputa, apesar do impacto que a arrancada de Marina teve
em sua campanha. “A candidatura de Marina tem suas virtudes, eu as
respeito, mas traz também um conjunto de contradições muito grandes, ela
fez toda a sua trajetória política no PT (…) O Brasil não aguenta uma
incerteza no seu horizonte, uma nova aventura. Chegou o momento de ela
dizer com clareza o que significaria o seu governo, em que direção o
Brasil vai”, afirmou o tucano.
Para Aécio, a morte de Eduardo
Campos e a substituição do então candidato por Marina Silva mudou o
cenário eleitoral: “A grande verdade é que nós estamos vivendo uma nova
eleição. Há 30 dias, era um outro quadro, antes do falecimento do meu
amigo, o ex-governador Eduardo Campos.”
A estratégia do tucano,
que está com 15% de intenções de votos no Ibope e 14% no Datafolha, é
atacar Dilma e Marina simultaneamente. A contenção do crescimento de
Marina mostra que a “desconstrução” de seu discurso político começa
efetivamente a criar dificuldades para a candidata, que tem menos tempo
de televisão e recursos para resistir a um bombardeio pesado.
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