Correio Braziliense - 19/08/2014
O realinhamento de forças políticas no processo eleitoral sempre tende a ser mais acentuado quando o candidato favorito é ultrapassado por um dos concorrentes

Em tese, esse resultado pode desencadear um novo alinhamento de forças já no primeiro turno. A ameaça de “cristianização” de Dilma Rousseff sempre existiu entre os aliados e partidários do próprio PT, por diversos motivos. Os principais são o péssimo relacionamento com os aliados, o alijamento de lideranças importantes do PT do governo e o excessivo intervencionismo econômico.
O movimento “Volta, Lula!” era uma expressão dessas insatisfações, mas foi contido pelo próprio ex-presidente da República, que rechaçou a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto no lugar de Dilma. Ainda mais porque a criatura ganhou vida própria e bateu o pé contra o retorno do criador ao poder.
Toda vez que a possibilidade de segundo turno aparece nas pesquisas, a expectativa de um novo mandato de Dilma no Palácio do Planalto, ao contrário do que seria natural, funciona como elemento desagregador de setores da própria base. Agora, a situação é mais delicada porque o Datafolha revelou a possibilidade de Dilma perder a eleição.
Voto útil
Eduardo Campos sempre apostou na “cristianização” de Dilma, pois há setores da base do governo e até mesmo do PT que prefeririam a eleição do socialista, e não a permanência da presidente da República no poder por mais quatro anos. Acreditava que, para chegar ao segundo turno, faria uma arrancada avassaladora, que implodiria a base governista.
O mesmo raciocínio vale para o tucano Aécio Neves, que também tem grande trânsito em setores da base do governo. Com a vantagem de Marina , o fenômeno pode ocorrer ainda no primeiro turno, a favor dele, acredita.
O realinhamento de forças políticas no processo eleitoral sempre tende a ser mais acentuado quando o candidato favorito é ultrapassado por um dos concorrentes, ainda mais a sete semanas da eleição. Antes mesmo do segundo turno, nesses casos, ocorre um fenômeno semelhante ao “voto útil”.
Pesquisas
Esses cenários, porém, merecem o devido desconto em razão de a pesquisa Datafolha ter sido realizada no calor dos acontecimentos trágicos que afastaram da disputa o ex-governador de Pernambuco. Muitos analistas relativizam os resultados da pesquisa do Datafolha nos últimos dias 14 e 15.
Houve a superexposição de Marina na mídia, beneficiada pela forte comoção causada pela morte de Eduardo Campos. Dilma, principalmente, e Aécio terão mais tempo no horário eleitoral, o que deixa a candidata do PSB em desvantagem. Também farão diferença as estruturas de poder e os recursos mobilizados por cada candidato.
O PT, porém, sentiu o golpe. Lula ainda tentou remover a candidatura de Marina Silva, mas o tiro saiu pela culatra, principalmente por causa da forte reação de Ana Arraes, Renata Campos e Antônio Campos, mãe, esposa e irmão do ex-governador pernambucano, respectivamente.
A reação de Aécio Neves foi mais cautelosa. A entrada de Marina Silva foi vista pelo candidato do PSDB como um fato positivo porque garante o segundo turno da eleição. O novo cenário eleitoral, porém, ainda está sendo avaliado. Talvez os tucanos tenham que mudar de estratégia para garantir a presença do ex-governador de Minas no segundo turno.
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