Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 07/08/2014
A tensão é grande por causa do bloqueio dos bens dos diretores da
Petrobras, que ameaça atingir inclusive a presidente de empresa, Maria
das Graças Foster
Por mais que se pretenda manter o Palácio do Planalto à distância da
trapalhada, os nervos andam à flor da pele na Presidência da República
por causa dos escândalos envolvendo a compra da refinaria de Pasadena,
no Texas (EUA), e as obras de construção da refinaria Abreu Lima, em
Pernambuco, fruto deserdado de uma parceria do falecido presidente Hugo
Chávez, da Venezuela, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, no debate na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), indagada
sobre a eventual participação do Palácio da Planalto na elaboração de
perguntas para subsidiar o depoimento de diretores da empresa na CPI da
Petrobras, a presidente Dilma Rousseff por muito pouco não saiu do
sério.
“O Palácio do Planalto não é expert em petróleo e gás. O expert em
petróleo e gás é a Petrobras. Queria que você me dissesse quem elabora
perguntas de petróleo e gás para a oposição. Perguntas sobre petróleo e
gás, só um lugar ou em vários lugares no Brasil: na Petrobras e em todas
as empresas de petróleo e gás. Eu acho estarrecedor que seja necessário
alguém de fora da Petrobras formular perguntas para eles”, disse a
candidata, referindo-se aos depoimentos de diretores da empresa sob
investigação, durante a entrevista coletiva após a sabatina organizada
pela CNA.
A tensão é grande por causa do bloqueio dos bens dos diretores da
Petrobras, que ameaça atingir inclusive a presidente de empresa, Maria
das Graças Foster. Por muito pouco, eles não ficaram indisponíveis ontem
por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU). O processo foi
retirado da pauta de votação do plenário da Corte a pedido do relator,
ministro José Jorge, que atendeu um pleito do advogado-geral da União,
Luís Adams. Foi a primeira vez que ele esteve no TCU para defender um
integrante do governo em plenário. Alegou que a decisão traria
consequências desastrosas para a Petrobras nas bolsas de todo o mundo.
Graça Foster e Jorge Luiz Zelada foram incluídos no processo que
investiga o caso Pasadena em substituição a Ildo Luís Sauer e Nestor
Cerveró, que não faziam mais parte da Diretoria Executiva da Petrobras. A
ação sugeria o bloqueio dos bens dos responsáveis pelos prejuízos
atribuídos à estatal na compra da refinaria norte-americana. Quadros de
carreira da empresa, com grande liderança na corporação, como os
diretores Guilherme Estrela e Almir Barbassa, também estão com os bens
bloqueados. A ameaça ao patrimônio pessoal de diretores não envolvidos
diretamente nas irregularidades quebra a cadeia de solidariedade na
direção da empresa, fundamental para o governo manter o controle da
situação e abafar o caso.
Debate
A propósito da sabatina promovida pelos
produtores do agronegócio, mais uma vez a presidente Dilma Rousseff não
empolgou os presentes, por causa dos erros do governo na condução da
economia, muito embora o setor hoje seja responsável por sete dos 10
principais produtos de exportação do Brasil, entre os quais estão a
soja, o milho, o café, o açúcar, o frango, a carne bovina e a carne
suína. Entre as queixas de sempre — estradas, portos, armazéns,
fertilizantes, crédito —, destaque para a situação do setor
sucro-alcooleiro, por causa da crise do etanol.
Dilma aproveitou a entrevista coletiva para anunciar a possibilidade de
aumento no percentual de etanol misturado à gasolina, dos atuais 25%
para 27,5%, como forma de melhorar a situação do setor. “O etanol de
cana terá que ser competitivo com o etanol de milho”, que é produzido
pelos Estados Unidos. Há duas semanas, num encontro de produtores
paulistas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente da
República foi muito criticada pelo ex-ministro da Agricultura Roberto
Rodrigues devido a essa defasagem. Lula ouviu e não disse nada.
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, no
encontro com os líderes do agronegócio, anunciou a criação de um
superministério da Agricultura, incorporando novamente à pasta o
Ministério da Pesca e Aquicultura, e equiparando-o aos ministérios da
Fazenda e do Planejamento em poder decisório. Aproveitou para criticar o
desempenho de Dilma na questão da reforma agrária: “Foi o governo atual
o que menos fez pela reforma agrária”.
Eduardo Campos, candidato do PSB, acompanhado da vice Marina Silva,
prometeu, se eleito, comandar pessoalmente as políticas voltadas para o
campo e fortalecer o Ministério da Agricultura. Ciente de que as
questões ambiental e indígena são muito conflituosas para o setor,
insistiu na necessidade de diálogo entre as partes envolvidas e o futuro
governo.
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