Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
Domingo, 20 / abril / 2014 | Caderno - Política
Tropas
do Sul do país reforçarão a segurança no Complexo da Maré e protegerão a
Linha Vermelha, com acesso rápido ao Maracanã, a partir de 31 de maio
Tropas
e blindados do Rio Grande do Sul e do Paraná serão deslocados para o
Rio de Janeiro para reforçar a pacificação do Complexo da Maré,
a partir de 31 de maio, e permanecerão na cidade até o fim de julho, ou
seja, após a Copa do Mundo, sob responsabilidade do Comando Militar do
Sul. O general de brigada Mauro Sinott Lopes, comandante da 6ª Brigada
de Infantaria Blindada (“Brigada Niederauer”), localizada em Santa Maria
(RS), assumirá o comando da Força de Pacificação, que terá a estrutura
de uma Brigada, com 2.100 homens. O emprego de tropas do Sul
dificulta o acesso dos traficantes às informações.
A operação faz parte da
estratégia do Palácio do Planalto para garantir a realização da Copa do
Mundo, sem maiores transtornos, o que influi mudanças na legislação
penal para punir com maios rigor manifestantes que utilizarem a
violência e praticarem atos de vandalismo. Na última
quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff, durante a 42ª reunião do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o apelidado “Conselhão”,
no Palácio do Planalto, afirmou que não permitirá que a Copa do Mundo
de 2014 seja “contaminada” por eventuais episódios de violência e
prometeu “segurança pesada” durante o período.
A utilização de
tropas do Sul do país para conter distúrbios não é novidade na história
do Brasil — vale lembrar que foram os soldados gaúchos que derrotaram e
massacraram os jagunços de Antônio Conselheiro na quarta campanha da
Guerra de Canudos, sob comando do general Carlos Machado Bittencourt.
Estão sendo empregadas com base no novo conceito de “Operações no Amplo
Espectro” desenvolvido pelo Exército, que inclui “operações ofensivas,
defensivas, de pacificação e apoio a órgãos governamentais ou
autoridades civis, no mesmo espaço físico, de forma simultânea ou
sucessiva”. Esse conceito foi incorporado à legislação de “Garantia da
Lei e da Ordem”, que substitui a velha doutrina de segurança nacional do
regime militar, que via manifestações populares como “subversão” e seus
líderes, como “inimigos internos”.
O Exército pretende deslocar
800 homens de Santa Maria (grupo de comando, um batalhão de pacificação e
destacamento logístico); e tanques de Santa Rosa (um esquadrão de
cavalaria mecanizada), no Rio Grande do Sul; e blindados sobre rodas de
Cascavel (dois pelotões de infantaria mecanizada), no Paraná; além de
dois batalhões da Brigada de Paraquedistas e um batalhão de fuzileiros
navais do Rio de Janeiro, que já estão na Maré. Pela primeira vez, serão
utilizados os 13 veículos blindados de transporte de tropas sobre rodas
Guarani recém-entregues ao Batalhão de Infantaria Mecanizada de
Cascavel, que são considerados um meio ideal para operações de
pacificação. O governo encomendou a fabricação de 2.044 blindados dessa
série para reaparelhar o Exército.
Haiti é aqui
Desde
o último dia 30, 2,5 mil homens do Exército, Marinha e Polícia Militar,
com o apoio de 20 blindados, já ocupam o conjunto de favelas do
Complexo da Maré, onde vivem 130 mil pessoas, às margens das Linhas
Vermelha e Amarela e a Avenida Brasil, principais vias de acesso ao Rio
de Janeiro. A experiência adquirida em missões de paz no Haiti já foi
usada antes nos Complexos do Alemão e da Penha e nas favelas da Rocinha e
do Vidigal.
Mais da metade dos soldados e oficiais que
participam dessa operação já estiveram no Haiti e foram treinados no
Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), criado em 2005,
na Vila Militar, em Deodoro, no Rio de Janeiro. Centro de referência
internacional para esse tipo de operação, no local há um simulador para
treinar patrulhas e uma equipe de pesquisadores realiza estudos sobre o chamado
“transtorno de estresse pós-traumáticos” — perturbação psíquica causada
pela ansiedade — , que atingem entre 8% e 10 % dos soldados nesses tipo
de operações e são a principal causa de incidentes graves envolvendo
inocentes.
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