Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 04/04/2014
Uma
CPI em plena campanha eleitoral pode virar um furacão. Basta surgir um
documento comprometedor ou um dos investigados resolver falar
A estratégia da presidente Dilma Rousseff para
enfrentar a CPI da Petrobras parece seguir a Teoria do Caos, criada pelo
meteorologista Edward Lorentz, que simulou no computador a evolução das
condições climáticas. Ele imaginava que pequenas modificações nas
condições iniciais acarretariam alterações também pequenas na evolução
do quadro como um todo, porém, o resultado foi o contrário: provocaram
efeitos desproporcionais. Para períodos curtos (um ou dois dias), os
efeitos eram insignificantes; quando o período era longo (cerca de um
mês), as pequenas modificações produziam padrões totalmente diferentes,
até exagerados: “O bater das asas de uma borboleta aqui, pode gerar um
furacão no outro lado do mundo”, afirmou Lorentz.
Efeito Borboleta
A
frase é mais verdadeira do que se imagina, pois sua fórmula matemática
permite explicar quase todos os fenômenos que acontecem no universo, da
formação de cabelos à movimentação das estrelas nas galáxias. Demonstra
um padrão de organização dentro de um fenômeno desorganizado, ou seja,
dentro de uma aparente casualidade. No caso da CPI da Petrobras, porém, a
estratégia de provocar o caos é de alto risco. Tudo começou com um tiro
no pé da própria presidente Dilma Rousseff, que acusou o então diretor
da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, de omitir
informações ao Conselho de Administração da empresa sobre o contrato de
compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo a
presidente da República, só aprovou a compra porque não tinha
informações corretas. Era presidente do Conselho de Administração da
empresa à época em que chefiava a Casa Civil do governo Lula. A compra da
refinaria causou prejuízos da ordem de US$ I bilhão à Petrobras.
A
transação é objeto de investigação do Tribunal de Contas da União, do
Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Cerveró foi demitido da
empresa por ordem de Dilma, mas o ex-presidente Sérgio Cabrielli ainda
defende a operação. Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, atual presidente do Conselho de Administração, contrariou a
presidente da República e, estranhamente, defendeu a operação: “Tenho
certeza de que o conselho agiu corretamente na ocasião. O conselho é
formado por pessoas da mais alta competência dos setores público e
privado. Analisou com toda a discriminação e a profundidade
necessárias”, declarou. Na mesma quarta-feira, o advogado de Cerveró havia
dito que todos os integrantes do conselho receberam o contrato de compra
com 15 dias de antecedência.
A tempestade
A
Petrobras está no meio da tempestade. A oposição quer investigar também
os indícios de pagamento de propina a funcionários da petroleira pela
companhia holandesa SBM Offshore; as denúncias de que plataformas estariam
sendo lançadas ao mar sem equipamentos primordiais de segurança; e o suposto
superfaturamento na construção de refinarias no Rio de Janeiro e
Maranhão. Para impedir as investigações, parlamentares da base pedem
apuração de denúncias sobre prática de cartel na aquisição dos metrôs de
São Paulo e do Distrito Federal, obras do porto de Suape e contratos
específicos da refinaria de Abreu e Lima. Miram os governadores de São
Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição; e de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB), que concorrerá Presidência da República.
Uma
CPI em plena campanha eleitoral pode virar um furacão. Basta surgir um
documento comprometedor ou um dos investigados resolver falar o que
sabe, como aconteceu na CPI dos Anões, que atingiu em cheio a liderança
do PMDB na Câmara, em 1993, e na dos Correios, em 2005, que recentemente
levou a cúpula do PT à cadeia. Mesmo quando houve pizza, os envolvidos
amargaram desgastes eleitorais. No caso da CPI do Caos, o preço a pagar
aos aliados também não será pequeno. A manobra de Renan Calheiros no
Senado pode ter outros objetivos além de ganhar tempo e lavar as mãos,
como Pilatos. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça,
senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o líder da bancada do PMDB, senador
Eunício de Oliveira (PMDB-AL), que recusaram convites para as pastas da
Integração Nacional e do Turismo, são candidatos aos governos do da Paraíba e do Ceará, respectivamente.
Uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) para investigar, além
da Petrobras, o cartel no metrô de São Paulo e as obras do porto de
Suape, em Pernambuco, estados governados por oposicionistas, foi
protocolada ontem. Subscrevem a proposta 219 deputados e 32 senadores,
segundo anunciou o líder do governo no Congresso Nacional, José Pimentel
(PT-CE). É a resposta do Palácio do Planalto ao pedido de CPI para
investigar a Petrobras protocolado pela oposição no Senado, cuja
instalação o presidente da Casa, Renan Calheiros, encaminhou para
avaliação à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). PT e PMDB se
uniram para barrar as investigações porque as diretorias da Petrobras e
suas subsidiárias formam um espécie de condomínio dos partidos da base
do governo.
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