Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 14/04/2014
Bem que a presidente Dilma tentou promover uma grande guinada na
economia, até de forma audaciosa, quando resolveu baixar os juros a
fórceps e estimular ainda mais a demanda por produtos e serviços de
parte da população
As coisas não vão muito bem para a presidente Dilma Rousseff, que luta
para manter sua candidatura no PT e se reeleger ao cargo. O caminho para
isso está sendo mais árduo e perigoso do que aquele que a levou ao
Palácio do Planalto, em 2010, na onda de popularidade do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, quando era a todo-poderosa chefe da Casa
Civil e o país crescia a 7,5%. Onde foi que Dilma errou? À primeira
vista, seu maior problema era a condução política da relação com o
Congresso e os aliados, porém, bem ou mal manteve a sua base de apoio e,
até aqui, tem uma ampla coalizão política engajada na reeleição. Tudo
indica que o seu maior erro foi de condução da política econômica.
Esse
debate ganha força. Além do choque de interpretações entre os
economistas neoliberais, social-liberais e desenvolvimentistas, que
recrudesceu, instalou-se uma disputa política entre governo e oposição
em torno do tema. Antes a discussão era pautada por forte viés
ideológico, devido à maior intervenção do governo nos negócios, raiz do
contencioso de Dilma com os grandes empresários do país. Agora, o debate
é mais objetivo: a inflação continua alta e os juros estão na lua,
atingem o bolso da população e repercutem nas pesquisas de opinião. A
política econômica deixou de ser um tema do mundo acadêmico e dos meios
empresariais e financeiros para ganhar centralidade política na disputa
eleitoral.
Fracasso da mudança
Bem que a
presidente Dilma tentou promover uma guinada na economia, até de forma
audaciosa, quando resolveu baixar os juros a fórceps e estimular ainda
mais a demanda por produtos e serviços. Por trás da decisão, estava a
ideia de que era preciso não só ampliar o poder de consumo da população,
mas consolidar em termos qualitativos a chamada nova classe média — ou
seja, o contingente de eleitores com os quais, até as manifestações de
junho do ano passado, o Palácio do Planalto contava para reeleger Dilma
Rousseff de barbada.
São os 29 milhões de pessoas que entraram
para a classe C entre 2003 e 2009, segundo estudos da Fundação Getulio
Vargas (FGV), ampliando esse contingente da população para 94,9 milhões,
ou seja, 50,5% da população brasileira, com renda média entre R$ 1.126 a
R$ 4.854. Até que ponto o inexplicável adiamento do Pnad Contínua para
2015 e toda essa confusão no IBGE pode mascarar o que está acontecendo
com essa parcela da população, diante do baixo crescimento e da alta da
inflação? Como se sabe, a presidente da instituição, Wasmália Bivar, e
mais cinco dos oito membros do conselho do IBGE consideraram que seria
arriscado mobilizar o corpo técnico para as divulgações da Pnad Contínua
até o fim do ano em vez de concentrar o foco na reformulação
metodológica que permita gerar um resultado mais preciso sobre a renda
domiciliar per capita nas unidades da Federação.
Mas voltemos ao
tema original: Dilma obrigou o Banco Central (BC) a baixar os juros para
7,5%, mexeu no rendimento das cadernetas de poupança, congelou o preço
dos combustíveis, reduziu as tarifas de energia, aumentou o controle
sobre outras tarifas públicas, expandiu o crédito imobiliário, desonerou
automóveis e eletrodomésticos e expandiu o gasto público, tudo para
manter a economia crescendo. Algo deu errado, o cobertor ficou curto: o
governo começou a mascarar as contas públicas e alguns indicadores; o
mercado ficou inseguro e os investidores puxaram o freio de mão. A
inflação saiu do controle e o Banco Central (BC), que havia apostado na
estratégia, foi obrigado a elevar os juros novamente, que já estão em
11%, ou seja, acima do patamar que Dilma encontrou quando assumiu o
cargo, que era de 10,75%. Pelo andar da carruagem, terá que pedir pelo
amor de Deus para o BC aumentar os juros mais um pouquinho e segurar a
inflação abaixo do teto da meta de 6,5%. Pura ironia!
E a Petrobras, hein?
Não
dá pra não falar da Petrobras, que virou caso de polícia. Será que a
presidente Dilma Rousseff sabia do que estava para acontecer quando
escreveu aquela nota tirando o corpo fora da duvidosa decisão de comprar
a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, origem de toda essa crise
na empresa? Governo e oposição se digladiam no Supremo Tribunal Federal
para decidir se a CPI que vai investigar a empresa terá foco apenas na
estatal ou investigará também o cartel dos metrôs e a construção do
Porto de Suape. Nos bastidores, diz-se que há 42 parlamentares federais
envolvidos no escândalo, que já pôs no pelourinho o deputado petista
André Vargas (PR). Esse inquérito estaria em segredo de Justiça.
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