Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/04/2014
O PT ainda acredita que pode domar uma CPI exclusiva. Para isso conta
com dois aliados de peso, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que já deu declarações contra a decisão da ministra do STF
Rosa Weber, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira
O deputado André Vargas (PT-PR) não tem a menor chance de escapar de uma
cassação pela Câmara. A sentença foi antecipada não pelo relator do seu
caso, o deputado Julio Delgado (PSB-MG), temido por ter sido o algoz do
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu — ainda preso em regime fechado
na Papuda (DF) —, mas pelo presidente do PT, Rui Falcão, que foi à tevê
pedir sua renúncia imediata. Vargas passou a tarde e a noite de
quarta-feira reunido com seus colegas de legenda, em Brasília, mas
resistiu às pressões, aos prantos. Mesmo diante dos apelos dos amigos,
que acham essa atitude uma imolação em praça pública, reiterou que
resistirá e não renunciará ao mandato. Ninguém tem dúvida de que o
Conselho de Ética proporá sua cassação e que a mesma será aprovada em
plenário, com votos da maioria da bancada petista. Além disso, Vargas
corre o risco de ser expulso da legenda.
Por que Vargas não
renuncia logo e põe um ponto final na própria agonia? Segundo
interlocutores, porque perdeu as condições de agir racionalmente e
atribui sua desgraça à presidente Dilma Rousseff, que supostamente
estaria interessada em transformá-lo em bode expiatório de toda a crise
do PT envolvendo a Petrobras. Ao sangrar em praça pública, o parlamentar
tolamente acredita que acabará por desgastar e inviabilizar a
candidatura à reeleição da presidente da República. Ex-vice-presidente
da Câmara, Vargas era um dos líderes do Volta, Lula! e imagina que ainda
contaria com a solidariedade de outros parlamentares, mas o clima não é
bem esse. É um auto-engano. Só lhe resta o consolo dos amigos.
Outros
supostos envolvidos na operação Lava-Jato andam como baratas tontas
pelo Congresso. Um dos que virou zumbi é o deputado baiano Luiz Argôlo,
do recém-criado Partido da Solidariedade, o SDD. A Polícia Federal
também interceptou conversas do parlamentar com o doleiro preso Alberto
Yousseff . Ex-integrante do PP, Argôlo ameaça chutar o pau da barraca e
falar tudo o que sabe sobre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da
Costa, preso com o doleiro. É pressionado a renunciar pelo líder da
bancada, deputado Fernando Francischini (SDD-PR), que é ex-delegado da
Polícia Federal com fama de ferrabrás e tenta preservar a nova legenda
de envolvimento no escândalo.
CPI exclusiva
A
tensão na base governista aumentou ainda mais porque a ministra do
Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber determinou que o Senado
instale uma CPI exclusiva — como queria a oposição — para investigar a
Petrobras. A decisão ainda pode ser revisada pelo plenário, pois o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já anunciou que
pretende recorrer. A rigor, Renan, que está em Roma, não pode impedir a
instalação da CPI. Ontem, o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), que é
candidato a presidente da República, pediu ao vice-presidente da Casa,
senador Jorge Viana (PT-AC), que solicitasse aos líderes de bancada a
indicação dos integrantes da CPI. No fim da tarde, o líder do PT,
Humberto Costa (PE), passou a admitir a instalação da CPI exclusiva.
A
CPI foi convocada para investigar a compra da refinaria de Pasadena, no
Texas (EUA), em 2006, um negócio que gerou prejuízo de US$ 530 milhões à
Petrobras, segundo a presidente da empresa, Maria das Graças Foster,
que considerou a operação um mau negócio. O ex-presidente da Petrobras
José Sérgio Gabrielli defende a empreitada e disse que a presidente
Dilma Rousseff é corresponsável pela compra, o que irritou o Palácio do
Planalto e provocou a mobilização do governador da Bahia, Jaques Wagner
(PT), para jogar água fria na fervura. Gabrielli é outro que anda com os
nervos à flor da pele.
Apesar de tanta confusão, o PT ainda
acredita que pode domar uma CPI exclusiva. Para isso conta com dois
aliados de peso no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que já deu declarações contra a decisão da ministra do STF
Rosa Weber, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), ambos
interessados em manter seus respectivos partidos em posições chaves na
Petrobras. A estratégia governista continua sendo empurrar tudo com a
barriga e ameaçar ampliar o espectro de investigação da CPI para os
contratos de obras do metrô de São Paulo e do Porto de Suape
(Pernambuco). Em termos eleitorais, até agora, esse tem sido um jogo de
perde-perde.
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