Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 09/04/2015
O encontro com Obama é uma oportunidade que a presidente da República deve agarrar com as duas mãos para reposicionar a diplomacia brasileira
A presidente Dilma Rousseff terá um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no sábado, durante a Cúpula das Américas, no Panamá. Será o restabelecimento de uma agenda positiva entre os dois países. Os assuntos relacionados à cúpula, abaixo da linha do Equador, são negativos por causa da Venezuela; acima, porém, são positivos devido ao restabelecimento das relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba.
As relações de Dilma com Obama andaram estremecidas desde o cancelamento da importante “visita de Estado” à Casa Branca que a presidente faria mas desistiu, em razão das denúncias de que líderes mundiais, entre os quais Dilma, haviam sido alvos de espionagem por parte do governo dos Estados Unidos.
Entre eles, estava Angela Merkel, que pôs pilha em Dilma para fazer o gesto de protesto. À época, soube-se que a Petrobras também fora espionada, o que endossou ainda mais a decisão de Dilma. Além disso, a retórica da defesa da estatal e dos interesses nacionais se encaixava como uma luva na estratégia da reeleição.
Uma coisa não justifica a outra, mas seria muito interessante saber quais informações eram essas sobre a Petrobras, ainda mais diante do escândalo de corrupção na estatal revelado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público.
Ironia à parte, o encontro com Obama é uma oportunidade que a presidente da República deve agarrar com as duas mãos para reposicionar a diplomacia brasileira. Nossa política externa anda prisioneira de uma pauta envelhecida e, pior ainda, da geopolítica bolivariana dos vizinhos da Argentina, da Bolívia e da Venezuela.
O encontro com o presidente dos Estados Unidos não será uma agenda isolada, uma vez que Dilma também se encontrará com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, e com os presidentes do México, Enrique Peña Nieto; da Colômbia, Juan Manuel Santos; e do Haiti, Michel Martelly.
É uma oportunidade de aggiornamento diplomático para o Brasil. Dilma bem que poderia aproveitar a nova situação criada pela “terceirizaçao” da política econômica, sob comando do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e da política propriamente dita, delegada ao vice-presidente, Michel Temer, para dedicar mais tempo às viagens internacionais.
Renúncia branca
A propósito, na reunião da Executiva Nacional do PSDB, ontem, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), afirmou que Dilma introduziu a “renúncia branca” na política brasileira. “Há, hoje, um interventor na economia, que pratica tudo aquilo que ela combateu ao longo de todo esse primeiro mandato. Agora, delega a coordenação política ao vice-presidente da República, a quem ela desprezou durante o primeiro mandato”, disse.
Não está muito claro ainda o que vai ocorrer com o governo. A ida de Michel Temer para a coordenação política foi uma decisão intempestiva de Dilma, como muitas outras que deram errado. Temer aceitou porque é do ramo e não poderia recusar a missão depois de o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, declinar do convite para assumir a agora extinta Secretaria de Relações Institucionais.
Uma nova recusa agravaria a crise política e significaria um rompimento do PMDB com o governo, após a quarta baixa no ministério em pouco menos de 100 dias de governo. A situação de Temer é a de sócio da crise ou da solução dos problemas. Se assumir, de fato, o comando político do governo, Dilma virará uma espécie de rainha da Inglaterra; se for um coordenador como outro qualquer, perderá a liderança do PMDB para os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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