terça-feira, 6 de agosto de 2013

Descrédito contamina

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 03/08/2013

Houve um tempo, mais ou menos recente, em que o descrédito dos políticos e da política não representava um grande transtorno para a vida nacional. Era um momento em que a economia estava blindada e, fizesse chuva ou sol, nada mudaria os alicerces de seu funcionamento: o famoso tripé “superavit fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação” que fora implantado com o Plano Real. E que foi mantido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo depois da saída do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci de seu governo. Nem a crise do “mensalão” rompeu essa blindagem da economia, que acabou servindo de escudo para o próprio governo Lula.

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Agora, a situação parece outra, completamente diferente, por causa de duas variáveis: primeiro, a desaceleração da economia mundial, que perdura desde a crise de 2008; segundo, a mudança de orientação da economia pela presidente Dilma Rousseff, que flexibilizou o tripé. Os parâmetros do ajuste fiscal são mais generosos; a inflação ronda o teto da meta, que é de 6,5%; e o câmbio, que ontem fechou em R$ 2,28, mas chegou a R$ 2,31, está sendo administrado pelo Banco Central.

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De onde vem o maior perigo de ruptura da blindagem? Do descrédito das principais instituições brasileiras que, entre junho de 2012 e junho deste ano, sem exceção, sofreram grave perda de confiança, a começar pela mais importante de todas, a Presidência da República. Segundo o Ibope, essa foi a que mais sofreu: perdeu 21 pontos em um ano. Em 2010, com Lula no cargo, a Presidência era a terceira instituição mais confiável, atrás apenas dos bombeiros e das igrejas.

Foi geral
A queda no índice de confiança na instituição “presidente da República” foi três vezes maior do que a perda média de confiança das 18 outras pesquisadas, mas ninguém escapou da baixa. A média geral foi sete pontos, de 54 para 47. “É uma crise generalizada de credibilidade. Está refletindo o momento do país, com os protestos de rua. Já havia uma queda leve nos anos anteriores, mas agora a perda de confiança se acentuou”, avalia a diretora do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari.

Congresso
O Congresso e os partidos políticos só não caíram mais porque já estavam em baixa. São lanterninhas no ranking, desde 2009: passaram de 36 para 29 pontos, e de 29 para 25, respectivamente.

Reforma
A propósito do Congresso e dos políticos, o coordenador do grupo de trabalho encarregado da reforma política na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, do PT-SP, negou ontem que o seu relatório sobre a minirreforma eleitoral vise facilitar o descontrole sobre os gastos de campanha eleitoral. “O projeto desburocratiza o processo de prestação de contas e facilita a fiscalização”, garante.

Recibos
Segundo Vaccarezza, os candidatos são obrigados a apresentar recibos dos gastos, a maioria preenchidos a mão. Atualmente, esses documentos não são digitalizados e o controle, quando muito, é feito por amostragem. Hoje, em uma eleição para deputado federal, são apresentados cerca de cinco milhões de recibos. Com a palavra a Justiça Eleitoral.

Melhora relativa// Mesmo com julgamento do mensalão, a confiança no Judiciário também caiu de 52 para 46 pontos, mas como as outras instituições caíram ainda mais, a Justiça foi da 11º para a 10º posição no ranking de confiança das instituições do país.

Cadê Amarildo?
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, engrossou o coro dos que pressionam o governador Sérgio Cabral (PMDB) e seu secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a esclarecer o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, no Rio de Janeiro. “A abordagem policial, com o posterior desaparecimento, leva à responsabilidade do desaparecimento toda a investigação, o inquérito com a hipótese clara, concreta, de que seja dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual não podemos mais conviver”, afirmou a ministra.

Mais uma
O governo criou ontem, por decreto, mais uma estatal. Vai gerenciar a exploração do petróleo do pré-sal. Denominada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A., ou Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), será uma empresa pública federal, sob a forma de sociedade anônima de capital fechado, vinculada ao Ministério de Minas
e Energia.

Quanto vale
A nova empresa, que administrará os contratos de partilha e representará a União nos consórcios, vale pouco para quem vai gerenciar tanto petróleo. O capital social inicial da PPSA é de apenas R$ 50 milhões

Bombeiro/ O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), atua como bombeiro na Casa. “A presidente Dilma Rousseff, agora, terá que buscar uma fórmula para acalmar os ânimos na base aliada, e assegurar que o segundo semestre deste ano transcorra sem grandes sobressaltos no Congresso”, avalia.

Estaleiro/ O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) respira sem auxílio de aparelhos e tem um quadro estável, mas continua na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por causa de uma dengue. “Por conta dos novos achados, clínicos e laboratoriais, a equipe médica optou pela transferência do paciente para a Unidade de Terapia Intensiva”, explica a equipe que o atende: os médicos David Uip, Roberto Kalil e Carlos Gama.

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