terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Los hermanos

O Brasil não exerce liderança em relação à Argentina, Bolívia e Colômbia, e nossa política para os países menores (e mais pobres) é vista como uma pretensão imperialista

Por Luiz Carlos Azedo
A estratégia diplomática brasileira para a América do
Sul está em xeque. Os grandes investimentos econômicos
feitos pelo governo e por empresários brasileiros
nos países vizinhos se transformaram em dores
de cabeça para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil
não exerce liderança em relação à Argentina, Bolívia e Colômbia,
e nossa política para os países menores (e mais pobres)
é vista como uma pretensão imperialista.Itaipu
A Itaipu Binacional anunciou sexta-feira que pagou
US$ 218,9 milhões ao Tesouro paraguaio em 2008, pela utilização
do potencial hidráulico do Rio Paraná para geração de
energia elétrica. Desde maio de 1985, o Paraguai já recebeu
U$ 3,25 bilhões. É um grande negócio: recebe antes mesmo
de terminar de pagar a sua parte na construção da usina,
que o Brasil financiou. Mas esse é o nosso ponto de vista.
Os paraguaios pensam de outra maneira. Primeiro, guardam
ressentimentos históricos por causa da derrota de Solano
Lopez e das atrocidades cometidas pelas tropas brasileiras
comandadas pelo Conde D'Eu durante a guerra de 1865-
1870, na qual a industrialização do Paraguai foi abortada. Segundo,
até a eleição do atual presidente paraguaio, o bispo
Fernando Lugo, a Itaipu Binacional serviu de bunker para a
oligarquia do Partido Colorado. A revisão do acordo de Itaipu
foi bandeira de campanha de Lugo, em torno da qual
uniu a oposição. Os colorados substituíram a ditadura do general
Alfredo Strossner, que reinou de 1954 a 1989, numa
transição mais gradual e segura do que a brasileira.
A obra e a empresa enriqueceram a elite empresarial e política
paraguaia, chamada por Lugo de “los barones de Itaipu”. O Paraguai
não quer apenas aumentar o valor das tarifas da energia, quer
também a revisão da dívida de Itaipu, que teria
sido inflada por administradores corruptos.Além disso, depois da
posse de Lugo, começaram as ocupações de terras dos plantadores
de soja brasileiros nos departamentos de fronteira de Itapúa, Alto Paraná,
San Pedro, Concepción,Amambay e Canindeyú. Os “brasiguaios” controlam 40% das terras e produzem 80 % da soja do país vizinho.

Negócios
O Brasil tem mais problemas com os vizinhos. Digeriu o caso
do gás nacionalizado por Evo Morales na Bolívia, mas há outro
contencioso diplomático por causa das usinas hidrelétricas
de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. Segundo os bolivianos,
as represas inundarão parte do território boliviano.
Por isso, as comunidades indígenas de Chacobo, Tacana e
Cavineño, supostamente afetadas, devem ser indenizadas.
O assunto faz parte do acervo de problemas ambientais das
duas usinas. As relações entre empresários brasileiros e as
elites rebeldes da Meia Lua boliviana, nas ricas províncias da
região de Santa Cruz de La Sierra e Tarija, também aumentam
a tensão com o governo Morales.
As relações com o Equador, que nem fronteira com o Brasil
faz, vão de mal a pior. A Petrobras desistiu de explorar petróleo
e entregou seu bloco de exploração à empresa estatal
local. A confusão maior, porém, é com a Odebrecht, que levou
um calote na construção da hidrelétrica de San Francisco,
na Amazônia equatoriana, inaugurada em junho de
2007. A empresa também seria responsável pela construção
da estrada Manaus-Manta, cujo objetivo é ligar o Brasil ao
Pacífico, mas a obra foi suspensa por ordem do presidente
Lula. O presidente Rafael Correa acusa a Odebrecht de ter financiado
seus adversários.
Na última década, o agronegócio brasileiro tomou de assalto
o Uruguai, onde arrendou ou comprou as melhores
terras. Das 10 maiores empresas exportadoras do país, cinco
são brasileiras. Quatro frigoríficos nossos controlam 45%
das exportações de carne. Um criador paulista comprou 100
mil hectares de terras nos pampas uruguaios. Outra empresa
brasileira controla metade das exportações de arroz. A
produção de cerveja uruguaia foi monopolizada pela Ambev.
O presidente uruguaio Tabaré Vázquez, um moderado,
está sendo pressionado para fazer uma reforma ministerial e
endurecer o jogo com os brasileiros.
Publicado na coluna Nas Entrelnhas do Correio Braziliense de 11 de janeiro de 2009

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