Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/09/2015
Convidado a opinar sobre a reforma ministerial, em
conversa com a presidente da República, o vice-presidente Michel Temer
declinou. Foi uma espécie de “me inclua fora dessa”
De tanto falar em terceiro turno das
eleições, o governo Dilma Rousseff entrou numa espécie de terceiro
tempo, difícil ainda de definir qual será o seu desfecho. Como estamos
falando do tempo relativo, digamos que será uma interseção entre o tempo
curto da crise política e o tempo longo da crise econômica. Para não
complicar mais as coisas, vamos por partes.
Com a configuração
anunciada pela presidente Dilma Rousseff ao tomar posse, o governo jaz
em plena Praça dos Três Poderes. Está morto e prestes a ser enterrado.
Era para durar quatro anos e não sobreviveu nove meses. Sua morte
cerebral já foi anunciada e a reforma administrativa que Dilma pretende
anunciar, com a redução de dez ministérios, será o funeral.
O
problema é a montagem do novo governo. Se formos considerar as
dificuldades que teve para escolher os atuais 39 ministros, não está
nada fácil. O atual resultou num governo fracassado mais pelas
trapalhadas da própria presidente da República, como diria o ex-amigo e
ex-ministro Delfim Netto, do que pela competência da maioria de seus
integrantes, com as devidas exceções.
Na montagem da equipe
atual, muita gente refugou os convites. É o caso do Ministério da
Fazenda, por exemplo, que caiu no colo de Joaquim Levy, porque nenhum
dos demais cogitados aceitou a tarefa. O resultado está aí: o ministro é
a Dilma Rousseff, que estimula a disputa entre o titular da pasta e o
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, para arbitrar o “caminho do
meio”. Reina solitária entre dois insatisfeitos.
Cresce a pressão
do PT para substituir Levy na reforma ministerial. Ontem, o conselho
político da legenda, com a participação do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, recomendou à Dilma um cavalo de pau na economia, com
redução forçada dos juros, taxação das grandes fortunas e aumento de
impostos para manter a chamada “política anticíclica”. O PT quer a
cabeça de Levy e pôr Barbosa na Fazenda.
Esse é um dos impasses, na
economia. Há outros na política. Convidado a opinar sobre a reforma, em
conversa com a presidente da República, o vice-presidente Michel Temer
declinou. Foi uma espécie de “me inclua fora dessa”. Dilma cometeu o
erro de atropelar Temer, numa negociação direta com o jovem e ambicioso
líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, e com o presidente do
Senado, Renan Calheiros.
A legenda deve perder três dos seis
ministérios, de um total de 29, se considerarmos que dez das atuais
pastas serão extintas ou fundidas. É muito pouco para um partido que
está com a faca e o queijo na mão quanto ao impeachment da própria
presidente das República. Em contrapartida, o PT está mais dono do
Palácio do Planalto do que nunca.
Dilma vem repetindo que não
abre mão de Aloizio Mercadante na Casa Civil, mas resolveu reforçar o
papel político da secretaria-geral da Presidência, com Ricardo Berzoini —
ex-líder sindical, vai cuidar dos movimentos sociais e da interlocução
com Lula —, e Giles Azevedo, seu cão de guarda no gabinete, na
Articulação Política, coadjuvado pelo ministro da Comunicação Social,
Edinho Silva. Não tem a menor chance de dar certo.
Por essas e
outras, o terceiro tempo pode ser curtíssimo. Mas vamos ao tempo longo: a
crise econômica. Não há a menor chance de revertê-la no curto prazo,
uma vez que o ajuste fiscal é uma espécie de “mais do mesmo” com sinal
trocado. Explico: aposta-se no aumento de receita em vez do corte
efetivo de gastos. Certas medidas apresentadas como redução de despesas
são apenas mudanças de fonte de financiamento (Sistema S, Minha casa,
Minha Vida, emendas parlamentares). O gasto ficou do mesmo tamanho.
Num
orçamento de mais de R$ 1 trilhão, o governo diz que não consegue
cortar mais de R$ 26 bilhões, mesmo assim maquiados. A redução efetiva
de despesas é de apenas R$ 2 bilhões no custeio administrativo (R$ 1,6
bilhão com a renegociação de contratos de aluguel, manutenção,
segurança, veículos e outros itens; R$ 200 milhões com menores limites
para gastos com diárias, passagens, auxílio moradia e telefone e R$ 200
milhões com a redução de Ministérios e cargos de confiança).
As
demais reduções são meros adiamentos de despesas (salários e concursos).
O setor público registrou um déficit primário de 0,6% do PIB no ano
passado; novo déficit será registrado neste ano. A arrecadação de agosto
foi a pior para o mês desde 2010. No acumulado dos oito meses deste
ano, a queda da receita foi de 3,68%, em relação à igual período de
2014. Déficits primários continuados, elevação da taxa de juros para
controlar a inflação e dívida pública em forte expansão fazem com que a
crise se agrave. Nesse aspecto, pode se tornar longuíssima. Será que a
Dilma aguenta?
Um comentário:
Qto a sua ultima pergunta, esta Sra não presta nem para entrar pra história num "novo agosto amargo". Sobreviveu a agosto, mês de tradicionais quedas presidenciais mas poderá cair ou ser caída a qqer momento. Olha o PMDB aí geeeeeeeente! Deus nos livre de todos, AMÉM!!!
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