Correio Braziliense - 24/09/2015
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), combinou com os líderes da oposição o passo a passo da apreciação dos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff
É falsa a ideia de que o PMDB queira
deixar o governo Dilma Rousseff, embora haja muitas vozes na legenda
favorável ao rompimento. O que a cúpula do PMDB deseja mesmo é mandar no
governo, como ficou claro nos bastidores sobre a reforma ministerial
que a presidente da República pretende concluir ainda hoje, antes de
embarcar para os Estados Unidos, na qual serão entregues cinco
ou seis ministérios ao PMDB.
Essa linha de atuação, porém, não anula as articulações da oposição
a favor do impeachment da presidente Dilma, que o PMDB poderá apoiar
caso Dilma, mesmo com a reforma, não seja capaz de conduzir o país a um
porto seguro. A reforma ministerial não afastará definitivamente essa
hipótese. No mesmo dia do acordo com as bancadas de deputados e
senadores, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), combinou com
os líderes da oposição o passo a passo da apreciação dos pedidos de
impeachment.
A indicação do ministro da Saúde pela bancada do PMDB não passou
por um acordo com o presidente da Câmara, foi resultado da cooptação do
líder Leonardo Picciani (PMDB-RJ), ou seja, da entrega do Ministério da
Saúde ao grupo que controla a legenda no Rio de Janeiro: o governador
Luiz Fernando Pezão, o presidente da Assembleia Legislativa fluminense,
Jorge Picciani, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-governador
Sérgio Cabral.
Acertos regionais
O futuro Ministério da Infraestrutura (que juntará aeroportos e
portos) não pacifica completamente o PMDB, pois desloca Eliseu Padilha
(RS), nome ligado ao vice-presidente Michel Temer, que se desgastou na
bancada porque articulava a favor do governo.
A lista de nomes encaminhados pela bancada mostra os interesse
regionais: José Prianti Junior (PMDB-PA), Celso Pansera (PMDB-RJ),
Newton Cardoso Junior (PMDB-MG), Mauro Lopes (PMDB-MG), Manoel Junior
(PMDB-PB), Marcelo Castro (PMDB-PI) e Saraiva Felipe (PMDB-MG). Os
preferidos de Dilma são Manoel Junior (PB), para a Saúde, e José Priante
Junior (PA), para a Infraestrutura.
No Senado, a bancada não pretende mexer com os ministros de Minas e
Energia, Eduardo Braga AM), e da Agricultura, Kátia Abreu (TO), mas há
um estresse com o senador Jader Barbalho (PA), cujo filho, Helder
Barbalho (PA), era o Ministro da Pesca. O ex-presidente da Câmara
Henrique Eduardo Alves (RN), ministro do Turismo, ontem estava pendurado
no pincel, o que deixou insatisfeito o senador Garibaldi Alves (RN).
A reforma ministerial, porém, cria condições mais favoráveis para
lidar com duas variáveis que impulsionam o impeachment. Uma é a crise
econômica, que não dá sinais de arrefecimento (o dólar continua
disparado) em razão das limitações do ajuste fiscal proposto pelo
governo. É uma missão quase impossível aprovar a recriação da CPMF no
Congresso, mesmo com a reforma.
A outra variável é a Operação Lava Jato, mas o Supremo Tribunal
Federal (STF) começa a circunscrevê-la ao escândalo da Petrobras, com a
decisão de desmembrar as investigações sobre a senadora Gleise Hoffman
(PT-PR), ex-ministra da Casa Civil de Dilma, apartando o caso dos
demais. Ao remeter a investigação sobre o ex-vereador de Americana
Alexandre Romano (PT) para a Justiça Federal em São Paulo, o STF também
limitou a atuação do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, que comanda a
Lava Jato.
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