Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 08/09/2015
Não
faltaram justificativas para o não comparecimento de
ministros ao desfile, mas o principal motivo foi político: aparecer na
foto ao lado de Dilma tira votos. Políticos não gostam disso
A
presidente Dilma Rousseff reinou quase sozinha no Sete de Setembro, em
Brasília. Abandonada pelos aliados, muitos dos quais ocupando cargos na
Esplanada dos Ministérios, ela assistiu ao desfile cívico-militar
cercada de eficiente esquema de segurança para evitar manifestações
hostis ao alcance de sua vista.
Os protestos ocorreram longe da área
restrita ao público, que foi cercada por um tapume de alumínio, à qual
somente foi permitida a entrada de convidados. Destacaram-se no visual
da Esplanada, mas longe do palanque oficial, o Pixuleco, o boneco
inflável de Lula vestido de presidiário, e, agora, sua companhia,
Pinóquia, a boneca de Dilma com nariz de mentirosa. Gozações à parte, o
palanque oficial foi um retrato da situação de isolamento político e
desagregação do governo Dilma.
O vice-presidente Michel Temer
cumpriu impassível o ritual de receber Dilma após a presidente da
República ter passado em revista às tropas da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica, e ficou ao seu lado, com poucos sorrisos, e também do
governador de Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. Destacavam-se no
palanque os ministros petistas, entre os quais dois sob investigação da
Operação Lava-Jato: o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante,
sorridente, como se nada houvesse, e um discreto ministro da Comunicação
Social, Edinho Silva, porta-voz do Palácio do Planalto.
Os
grandes ausentes foram os presidentes do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também investigados na
Lava-Jato, e os ministros peemedebistas da Aviação Civil, Eliseu Padilha
(PMDB-RS); de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM); da Agricultura,
Kátia Abreu (PMDB-TO); do Turismo, Henrique Alves (PMDB-RN); e dos
Portos, Edinho Araújo. Somente o ministro da Pesca, Helder Barbalho
(PMDB-PA), prestigiou o evento.
O subgoverno
Não
faltaram justificativas de ordem pessoal para o não comparecimento de
ministros ao desfile, mas o principal motivo foi político: aparecer na
foto ao lado de Dilma tira votos. Políticos não gostam disso, é da
natureza da espécie. Até Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado aparições
públicas ao lado da sucessora. Mas não é somente o isolamento político
que chama a atenção.
Há outros aspectos a serem considerados. A
solidariedade entre a presidente e o grupo petista de suas relações, por
exemplo. Embora o governo esteja isolado e desgastado, estão todos na mesma embarcação à
matroca, do ministro da Defesa, Jaques Wagner, ao secretário de
Direitos Humanos, Pepe Vargas, o articulador político a fracassar no
segundo mandato.
Destacou-se no palanque esvaziado o ministro
das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), que tenta ocupar o vácuo deixado
pelo agastamento do PMDB. Pragmático, fatura como pode o único projeto
de Dilma Rousseff que sobrevive ao ajuste fiscal, assim mesmo aos
trancos e barrancos: o Minha Casa, Minha Vida. Esse tem seu próprio bote
salva-vidas.
Na verdade, os ministros aliados de Dilma formam
uma espécie de subgoverno: tocam as pastas como se fossem autarquias,
cuidando de suas relações políticas de maneira cada vez mais autônoma.
Não é só a governabilidade que se esvai; a capacidade de governança de
Dilma está cada vez mais restrita ao grupo palaciano. A equipe
ministerial funciona por inércia de sua burocracia. Está virando
paisagem num governo cada vez mais enfraquecido.
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