Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 10/09/2015
A intenção dos oposicionistas na Câmara é endossar o pedido apresentado pelo jurista e ex-deputado Hélio Bicudo, um
dos fundadores do PT, que fundamentaria o afastamento da presidente da
República
Líderes do PSDB, DEM, PPS,
PSC e SDD pretendem lançar hoje, na Câmara dos Deputados, o Movimento
Pró-Impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). “Nossa ideia é
reforçar a mobilização da sociedade pela saída de Dilma e, com a pressão
popular, agilizar o andamento dos processos de impeachment que tramitam
na Câmara. O país não vai aguentar mais três anos de desgoverno e
incompetência”, disse o líder do PPS, deputado federal Rubens Bueno
(PR).
A intenção dos oposicionistas na Câmara é endossar o pedido
de impeachment apresentado pelo jurista e ex-deputado Hélio Bicudo, um
dos fundadores do PT, que, na opinião do líder do DEM, deputado Mendonça
Filho (PE), fundamentaria as razões para o afastamento da presidente da
República. Pareceres de outros juristas, como Ives Gandra Martins, serão
anexados ao pedido. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG),
autorizou o líder tucano na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), a
endossar a proposta.
Para que seja proposto e admitido, o
impeachment de um presidente da República, é preciso caracterizar a
existência de crime de responsabilidade. Para a oposição, os crimes
culposos de imperícia, omissão e negligência estão caracterizados na
conduta de Dilma, tanto quando foi presidente do Conselho da Petrobras,
quanto agora. como presidente da República.
A questão, porém, é
polêmica. Para o jurista Miguel Reale Junior, consultor do PSDB e autor
do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, por
exemplo, o impeachment não seria juridicamente viável porque os atos que
poderiam justificá-lo ocorreram no mandato anterior. “Não existe vaso
comunicante. Para se pedir o impeachment, a presidente precisaria ser
suspeita de algum malfeito de janeiro até agora”, argumenta.
A
presidente Dilma Rousseff, porém, corre o risco de ter as contas de 2014
rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, o que abriria caminho para
impeachment por crime de responsabilidade. Os problemas de Dilma não
são apenas as chamadas “pedaladas fiscais”, que são atribuídas ao
ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, mas a edição de decretos que
ampliaram ilegalmente os gastos do governo e quebraram país.
Falta combinar
Não
há a menor possibilidade de o impeachment prosperar sem a adesão maciça
da bancada do PMDB na Câmara. Se depender do líder da bancada, Leonardo
Picciani, não haverá impeachment. Mas o mesmo não se pode dizer do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem a prerrogativa de
pôr o pedido em pauta.
Acusado pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, de ter recebido US$ 5 milhões de propina
desviada da Petrobras, Cunha nega a acusação. A presidente Dilma
Rousseff tentou uma aproximação com o peemedebista, mas ninguém tira da
cabeça do presidente da Câmara de que houve dedo do Palácio do Planalto
para que fosse o primeiro da fila dos políticos envolvidos na Lava-Jato
denunciados por Janot.
O rito do impeachment, segundo a
Constituição, é rigoroso. A Câmara não tem o poder de cassar o mandato
da presidente da República, apenas o de aceitar o pedido, o que exige o
mínimo de 342 votos em plenário, de um total de 513. Mas isso implica no
automático afastamento do cargo, cabendo ao Senado julgar a presidente
da República e aprovar o impeachment. Nos cálculos da oposição, se Dilma
for afastada pela Câmara e o vice-presidente Michel Temer assumir o
poder interinamente, a petista não voltará.
O fato de Temer ter
se distanciado de Dilma animou a oposição, mas isso não significa que
ele tenha embarcado na aposta do impeachment ainda. O que a mantém no
poder não é a força do PT, nem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, são as regras do jogo e a preocupação dos grandes empresários
do país com os riscos de uma crise institucional levar a economia de
vez para o buraco. O problema é que Dilma cava a cada dia um abismo aos
próprios pés. Ontem o buraco ficou mais fundo: o Brasil perdeu o selo de
‘bom pagador’ e passou a ter grau especulativo pela Standard &
Poor’s, embora mantenha ainda o grau de investimento nas agências de
risco Fitch e Moody’s.
Meia volta, volver!
O
ministro da Defesa, Jaques Wagner, solicitou ontem a republicação do
decreto que transfere responsabilidades dos antigos ministérios da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica para o Ministério da Defesa, com
errata na qual preserva o poder dos comandantes das Forças Armadas
quanto à gestão de pessoal, ou seja, promoções, transferências e
passagens para a reserva. O decreto havia irritado os militares.
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