Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 05/11/2014
O PT cobra de
Dilma a conta da mobilização dos militantes para a vitória no segundo
turno e tenta dar uma guinada à esquerda na política de alianças do
governo
Quem lê a resolução da
Executiva Nacional do PT sobre a reeleição da presidente Dilma Rousseff e
as tarefas do novo mandato chega à conclusão de que o PT pensa que
venceu as eleições sem os aliados de centro-direita — como o PMDB, o PP,
o PSD e o PR — e resolveu apostar na ampliação do capitalismo de Estado
e na construção de uma democracia popular. O programa proposto ao novo
governo não tem ideias novas, é todo ele baseado em velhas propostas de
conteúdo nacional-populistas da década de 1960.
O PT cobra de
Dilma a conta da mobilização dos militantes para a vitória no segundo
turno e tenta dar uma guinada à esquerda na política de alianças do
governo. Sai o “presidencialismo de coalizão”, que garantiu o segundo
mandato do ex-presidente Lula e a eleição de Dilma em 2010, cujo eixo
privilegia o Congresso, e entra uma “ampla frente” de movimentos
sociais, partidos e setores de partidos, intelectuais, juventudes e
sindicalistas “em defesa de reformas democrático-populares”. É uma
aposta na mobilização popular como forma de sustentação do novo governo.
A implantação da jornada de trabalho de 40 horas sem redução de
salário, o fim do fator previdenciário e as reformas agrárias e urbana
seriam as bandeiras para empolgar os sindicatos de trabalhadores e os
movimentos dos sem-terra e dos sem-teto.
Quais são as reformas?
Nada a ver com a necessidade de fortalecer as instituições democráticas
do país, melhorar a qualidade do ensino, o atendimento à saúde, a
segurança pública, a produtividade do trabalho, promover a inovação e
desenvolver a tecnologia, reorganizar o sistema tributário, mudar o
modelo de transportes de pessoas e de cargas, modernizar o país e voltar
a crescer. A prioridade é consolidar a hegemonia petista no governo,
com a realização de um plebiscito para convocar uma Constituinte
exclusiva, a aprovação de uma “Nova Lei da Mídia democrática”, a
reversão da derrubada da Política Nacional de Participação Social, a
desmilitarização das polícias militares e a revisão da lei da Anistia,
com punição dos torturadores.
O PT exagera no peso dado aos
protestos do fim de semana, nos quais surgiram propostas de impeachment e
apelos à volta dos militares ao poder, para legitimar a radicalização
das propostas políticas. Acusa os partidos de oposição de não
reconhecerem o resultado da eleição. Mas isso é uma espécie de
auto-engano. O que ameaça a estratégia petista são fatores objetivos,
contra os quais o PT nada pode fazer: de um lado, a situação da
economia, que faz das propostas apresentadas um salto no precipício; de
outro, a correlação de forças na sociedade, depois de um resultado
eleitoral tão apertado.
Diante desse cenário, qual é a
alternativa sensata para a presidente Dilma Rousseff? Não é apostar na
radicalização política e no confronto com a oposição, numa escalada
irresponsável, que nada tem a ver com a necessidade de reaproximar o
Palácio do Planalto dos setores produtivos e impedir que o país mergulhe
numa grave crise econômica. A alternativa de Dilma é dar um cavalo de
pau e fazer parte daquilo que dizia na campanha que a oposição faria,
como elevar os juros, cortar os gastos, retomar o programa de
concessões, etc. Além, é claro, de fazer uma boa faxina na Esplanada.
Essa
é a encruzilhada do novo governo. A montagem de seu novo ministério
dirá se dobrou a aposta no modelo que quase a levou à derrota, como
gostaria o PT, ou resolveu sair dessa enrascada por uma via de
negociação com o Congresso, a oposição e a sociedade. Dilma é refém das
forças políticas moderadas que a apoiam, principalmente o PMDB. Ou seja,
se Dilma insistir nas pedaladas, vai cair da bicicleta.
Golpismo
O
senador Aécio Neves (PSDB) voltou ontem ao Congresso em grande estilo,
sendo recepcionado por simpatizantes da campanha. O tucano demarcou
posição em relação às propostas que surgiram em redes sociais e atos
públicos que pediam o impeachment da presidente Dilma e a volta dos
militares ao poder. “Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer
utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de
retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o
candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem
de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não
estão no nosso campo político”, declarou. Aécio deixou claro, porém, que
considera as propostas de diálogo do governo inconsistentes e anunciou
que fará uma oposição dura ao Palácio do Planalto.
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