Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 20/05/2015 
Renan saiu chamuscado da 
votação que aprovou a indicação de Fachin, mas não virou um pato manco. A rejeição de Patriota foi um recado 
do PMDB de que a vitória de Dilma não foi tão grande
 Por 52 votos a favor e 27 contra, o Senado aprovou ontem a indicação do 
advogado Luiz Edson Fachin para o cargo de ministro do Supremo Tribunal 
Federal (STF), na vaga aberta pela aposentadoria de Joaquim Barbosa. O 
Palácio do Planalto comemorou a aprovação como uma grande vitória 
política da presidente Dilma Rousseff, o que não deixa de ser verdade, 
pois a petista bancou seu indicado contra todas as pressões, 
principalmente do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Mas 
não se esperava, porém, que outro indicado por Dilma Rousseff fosse 
rejeitado pelo plenário do Senado: o diplomata Guilherme Patriota, por 
apertados 38 votos contra 37, não teve o nome aprovado para ocupar o 
cargo de representante permanente do Brasil na Organização dos Estados 
Americanos (OEA). A votação ocorreu momentos antes de o plenário iniciar
 a análise do nome de Fachin.
No xadrez do Senado, é inédita uma 
derrota como a sofrida por Renan Calheiros. Seus aliados não escondiam 
dos interlocutores a opinião de que o peemedebista, na queda de braço 
com a presidente da República, havia avançado mais do que poderia. A 
rejeição de Fachin, embora não fosse inédita, seria um fato que não 
ocorre há mais de 100 anos.
A maioria a favor de Fachin era tão 
ostensiva que somente um senador se inscreveu para falar em plenário 
contra a indicação, Magno Malta (PR-ES), que pediu a palavra pouco antes
 de se iniciar a votação para justificar seu voto, que teve motivações 
religiosas. A aprovação, porém, não foi uma vitória apenas de Dilma. Foi
 muito compartilhada, não ocorreria se contasse apenas com o apoio do 
Palácio do Planalto.
Pesaram a favor do jurista o forte lobby do 
mundo jurídico e o apoio unânime da bancada do Paraná, liderada pelo 
senador tucano Alvaro Dias (PSDB), que neutralizou as acusações de que o
 advogado e professor de direito será um ministro petista – muitas das 
quais partiam de seus próprios companheiros de bancada do PSDB. Fachin 
defende teses polêmicas em relação à propriedade privada, à família 
patriarcal unicelular e ao aborto – razão da rejeição de evangélicos ao 
seu nome –, mas minimizou essas questões durante a sabatina na Comissão 
de Constituição e Justiça do Senado, na semana passada.
Perdas e danos
O
 maior ruído em relação à indicação de Fachin foi devido ao fato de que 
advogou quando era procurador do estado do Paraná, o que foi apontado 
pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) como inaceitável em se tratando 
de um postulante a ministro do STF. Fachin teve que fazer uma campanha 
de marketing sem precedentes para neutralizar as críticas à sua 
indicação; de certa forma, chega ao Supremo Tribunal Federal desgastado 
pela longa batalha que travou no Senado.
Renan saiu chamuscado da 
votação que aprovou a indicação de Fachin, mas não virou um pato manco 
na presidência do Senado. A rejeição do nome de Patriota foi um recado 
do PMDB de que a vitória de Dilma não foi tão grande como ela gostaria. 
Os mesmos senadores peemedebistas que fizeram um piquenique na sombra de
 Renan, ao negociar seus pleitos com o Palácio do Planalto para aprovar o
 nome do jurista, votaram pela rejeição do diplomata, contra o qual não 
havia nada além da falta de consenso em relação à política externa 
brasileira.
Guilherme é irmão do ex-ministro das Relações Exteriores 
Antônio Patriota. A rejeição ao nome dele é uma derrota séria do governo
 federal no Congresso, pois a indicação de diplomatas é atribuição da 
Presidência da República. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) lamentou o 
fato, com o argumento de que foi a primeira vez que um diplomata de 
carreira teve o nome rejeitado pelo plenário do Senado. Mas levou um 
chega pra lá de Renan, que desqualificou a crítica ao dizer que era 
atribuição do Senado aprovar ou não a indicação.
Como a política 
externa brasileira é muito contestada na Comissão de Relações 
Exteriores, hoje presidida pelo senador Aloysio Nunes Ferreira 
(PSDB-SP), há de se avaliar que nada será como antes na nomeação de 
diplomatas para cargos importantes que envolvam as relações do Brasil 
com a América Latina.

 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário