Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliene - 19/06/2014
Há 10 agravos regimentais dos 
advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro 
Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o 
benefício de outros condenados
 O
 presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, decidiu 
abandonar a relatoria do processo do mensalão, incluindo o cumprimento 
das penas e o andamento de ações correlatas. Era sua última tarefa 
relacionada à Ação Penal 470, que levou à cadeia os dirigentes petistas 
José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha e outros políticos, como 
Waldemar da Costa Neto, ex-presidente do PR, e Roberto Jefferson, 
ex-presidente do PTB e autor da denúncia de compra de votos no Congresso
 que deu origem ao processo. De certa forma, Barbosa “desfulaniza” as 
decisões sobre a execução das penas dos condenados, porque estava sendo 
acusado de “perseguir” os réus pelos respectivos advogados.
“Julgo
 que a atitude juridicamente mais adequada neste momento é afastar-me da
 relatoria de todas as execuções penais oriundas da Ação Penal 470 e dos
 demais processos vinculados à mencionada ação penal”, alegou o 
presidente do STF ao deixar o caso. O ministro Luís Roberto Barroso é o 
novo relator. Foi escolhido por sorteio e pretende pôr em pauta os 
pedidos de agravo regimental dos réus na próxima semana. “Eu gostaria de
 entrar no recesso com isso decidido e gostaria de fazê-lo em plenário, 
na medida do possível”, disse. Ele quer que a Corte decida sob o comando
 de Barbosa, que havia anunciado a antecipação da aposentadoria. Barbosa
 será substituído, naturalmente, pelo ministro Ricardo Lewandowski, que 
assumirá a Presidência do Supremo em seu lugar. Ambos protagonizaram os 
debates mais acirrados e polêmicos durante o julgamento do mensalão.
O
 argumento de Barbosa para deixar a relatoria foi a representação 
criminal que apresentou contra o advogado Luiz Fernando Pacheco, que 
defende o ex-presidente do PT José Genoino. Um incidente com o defensor,
 em plena sessão plenária do STF, foi a gota d’água. Pacheco foi à 
tribuna, indevidamente, para acusar Barbosa de abuso de autoridade e foi
 retirado do plenário por agentes de segurança, a pedido do presidente 
da Corte. Queixa-se, Barbosa, de que os advogados que atuam no caso 
passaram a agir politicamente contra ele, “através de manifestos e, até 
mesmo, partindo para os insultos pessoais, via imprensa, contra este 
relator”.
O presidente do STF antecipou-se ao abaixo assinado de 
300 pessoas, entre políticos, intelectuais, artistas e líderes de 
movimentos sociais, que o acusa de “agredir o Estado de Direito”. Os 
senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e João Capiberibe (PSB-AP), o 
deputado estadual Campos Machado (PT-SP), as professoras Maria da 
Conceição Tavares e Walnice Nogueira Galvão, o teólogo Leonardo Boff, o 
presidente do instituto João Goulart, João Vicente Goulart e o 
embaixador Samuel Pinheiro Guimarães estão entre as personalidades 
solidárias com os reús que o subscrevem.
Carismático e polêmico, 
Barbosa conquistou ampla simpatia da opinião pública como relator do 
mensalão e passou a ser visto como espécie de reserva moral da nação. Os
 réus foram condenados pela plenário da Corte, mas, em algumas penas, 
tiveram direito a novo julgamento, por haver ao menos quatro votos 
contrários à condenação. Nessa fase derradeira do processo, Barbosa 
acumulou a presidência do Supremo e o cargo de relator, o que lhe deu 
grande poder na condução do processo e apoio popular, mas permitiu à 
defesa dos réus, nos meios jurídicos e políticos, a construção da imagem
 de que a Corte havia sido “fulanizada”.
Agravos regimentais
 
Entre
 os dois julgamentos, houve também uma mudança na composição da Corte, 
com a entrada de ministros, entre os quais o novo relator, Luís Roberto 
Barroso, cujas críticas à Ação Penal 470 foram explicitadas já na posse.
 A nova composição do tribunal abrandou algumas penas no julgamento dos 
embargos infringentes. A ação organizada dos advogados que atuam no 
processo, além do jus esperneandis dos réus e a campanha sistemática dos
 militantes petistas contra Barbosa, dificultaram a atuação monocrática 
do presidente do STF na execução das penas. Recrudesceram as críticas à 
suposta “fulanização” da Corte.
Há 10 agravos regimentais dos 
advogados dos réus contra decisões que foram tomadas pelo ministro 
Joaquim Barbosa, que negou o direito de trabalho a Dirceu e cortou o 
benefício de outros condenados ao regime semiaberto, como os 
ex-deputados João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto e o ex-tesoureiro do
 PT Delúbio Soares. Seu entendimento é de que os condenados precisam 
cumprir um sexto da pena antes de obter direto para trabalhar fora da 
penitenciária, tese contrária ao parecer do Procurador-Geral da 
República, Rodrigo Janot. Os advogados pedem que os agravos sejam 
julgadas por todos os ministros, mas Barbosa não os havia pautado, nem 
dado previsão de quando isso aconteceria. Ao tratar do assunto, ontem, o
 ministro Barroso comparou a Ação Penal 470 ao cadáver de um elefante, 
que é fácil de matar, mas difícil de enterrar.

 
 
2 comentários:
Texto enxuto e isento, em que apenas acrescento um adendo ao comentário do Barroso:
Estamos diante de uma manada de elefantes mortos no meio do planalto central.
Assista ao vídeo COM LEGENDA entre o advogado e o ministro. Em nenhum momento, houve ameaça física https://vimeo.com/m/98330665
Postar um comentário