Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 16/12/2015
Cunha sai ferido
de morte da operação de ontem, mas resiste aos apelos — inclusive de
Temer — para que renuncie ao cargo de presidente da Câmara
Com as operações de busca e
apreensão realizadas pela Polícia Federal em mais uma fase da Operação
Lava-Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atirou no
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); nos ministros de Ciência e
Tecnologia, Celso Pansera, e do Turismo, Henrique Eduardo Alves; no
senador Edison Lobão (PMDB-MA); no deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE); no
ex-senador Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro; e no prefeito de
Nova Iguaçu (RJ), Nélson Burnier, caciques peemedebistas, e acertou
também no vice-presidente Michel Temer — politicamente falando, é claro.
O
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), escapou de levar um
balaço no peito graças ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal, que rejeitou o pedido de busca e apreensão em sua residência
solicitado pelo Ministério Público. Mas sai arranhado em razão da
operação realizada na sede do diretório do PMDB de Alagoas, em Maceió,
além de fato de que alguns dos investigados serem pessoas muito próximas
a ele. Por pouco, uma bala perdida não acerta o ex-presidente José
Sarney.
A operação comandada por Janot, que tem nome de
almirante, foi como a virada de vante de uma canhoneira, que atirava a
bombordo e agora dispara pra boreste. Desviou o foco da opinião pública
da cúpula do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estão
sob a mira dos procuradores e do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba,
para os caciques do PMDB, que são investigados com autorização do
ministro Teori, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. A
busca e apreensão nos escritórios do senador Fernando Bezerra (PSB-PE)
também serviu como tiro de advertência ao clã Arraes, em Pernambuco.
A
Polícia Federal fez buscas e apreensões nos estados do Pará, de
Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte,
além de Brasília. A residência oficial do presidente da Câmara e a
Diretoria-Geral da Casa também receberam a visita dos agentes federais. A
PF esteve ainda na sede do PMDB em Maceió. Batizada de Catilinárias, a
operação foi realizada no dia em que o Conselho de Ética se reuniu para
votar a admissibilidade do pedido de cassação de Eduardo Cunha, que foi
aprovado, e às vésperas da sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que
definirá o rito de tramitação do pedido de impeachment da presidente
Dilma Rousseff.
Recado
O nome da operação foi
um recado político para Cunha, pois faz referência um dos quatro
discursos proferidos pelo cônsul romano Cícero contra o senador
Catilina, que tentava um golpe para derrubar a República romana: “Até
quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda
há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar
a tua audácia sem freio? (...)”
Considerando o contexto
político e o restante do texto, pode ser também um recado para o
vice-presidente Michel Temer: “(...) Nem a guarda do Palatino, nem a
ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de
todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião
do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto
conseguiu te perturbar? Não sentes que os teus planos estão à vista de
todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a
conhecem? Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na
noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem
convocaste, que deliberações foram as tuas?”
Cunha sai ferido
de morte da operação de ontem, mas resiste aos apelos — inclusive de
Temer — para que renuncie ao cargo de presidente da Câmara. Para a
oposição, tornou-se um obstáculo ao impeachment, embora, ironicamente,
seja o seu principal protagonista. De certa forma, os fatos de ontem
favorecem o Palácio do Planalto e o Ministério Público, que pleiteiam a
anulação da eleição da comissão especial encarregada de apreciar a
admissibilidade do pedido de impeachment apresentado pelos juristas
Miguel Reale Júnior, Hélio Bicudo e Janaína Paschoal e pela oposição.
O
relator do impeachment no STF, ministro Luiz Edson Fachin, ontem
distribuiu seu voto aos colegas. Com 100 páginas, foi mantido em sigilo.
Nem todos os ministros aceitaram a oferta antecipada do texto, como foi
o caso de Marco Aurélio Mello, que prefere tomar conhecimento de seu
conteúdo durante a leitura na Corte. A operação de ontem serviu como uma
espécie de limpeza de terreno para o STF estabelecer o rito do
impeachment com a cúpula do Congresso de joelhos.
No Palácio
do Planalto, houve vibração com a operação, apesar do boato de que um
dos ministros da Casa seria alvo de busca e apreensão da Lava-Jato, o
que deixou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, de orelha em
pé. A pesquisa de Ibope divulgada ontem, porém, foi um banho de água fria: a maneira de
governar de Dilma Rousseff continua amplamente desaprovada: 82%. Somente
14% têm uma avaliação positiva da forma como a presidente administra o
país. A confiança em Dilma também é baixa: 18%. Outros 78% não confiam na presidente.
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