Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/12/2015
O Brasil ficou mais distante do Paraguai de Fernando
Lugo, destituído pelo Congresso em 2012, e mais próximo da Venezuela de
Nicolas Maduro, que acaba de perder a maioria no parlamento
Uma
das características das crises é que ninguém sabe como se sairá dela. É
mais ou menos o que acontece com o governo Dilma Rousseff, que comemora
o resultado do julgamento do rito do impeachment pelo Supremo Tribunal
Federal, no qual as teses palacianas foram vitoriosas, e vira o ano com
novo ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, ideólogo da fracassada “nova
matriz econômica”. O Brasil ficou mais distante do Paraguai de Fernando
Lugo, destituído pelo Congresso em 2012, e mais próximo da Venezuela de
Nicolas Maduro, que acaba de perder a maioria no parlamento.
A
estratégia de Dilma Rousseff para barrar o impeachment está sendo
bem-sucedida graças ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que
virou o foco da Operação Lava-Jato para o PMDB. As ações do Ministério
Público Federal contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
enfraqueceram as articulações da oposição e contribuíram para
desmobilizar a opinião pública favorável ao afastamento. A quebra de
sigilo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou-o de
joelhos perante o Palácio do Planalto. E a suspeita lançada sobre Michel
Temer por conta de uma doação feita pela empreiteira OAS, caso
confirmada, pode fulminá-lo como alternativa de poder.
Deu
certo a estratégia para dividir o PMDB. Essa sempre foi a aposta de
Dilma Rousseff. Pagou um preço caro por isso, pois a eleição de Eduardo
Cunha a presidente da Câmara, que derrotou o candidato oficial, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), complicou a vida do governo no Congresso. Dilma
explora as contradições entre o vice-presidente Michel Temer e os
presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros
(AL).
Calheiros manteve-se aliado a Dilma e
partiu para a disputa da presidência do PMDB com Temer. O líder da
bancada na Câmara, Leonardo Picciani, recuperou seu cargo e se projeta
como candidato a presidente da Câmara. Todos dão a cassação de Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) por quebra decoro como certa. Sua sucessão deve
incendiar o PMDB, pois já surgem na disputa os nomes de Osmar Serraglio
(PR), José Fogaça (RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Chinaglia já
trabalha sua candidatura na base governista; e Miro Teixeira (Rede),
independente, corre por fora.
Pesquisas
Dilma
parece ter um tijolo sólido, mas ele ainda é meio barro. Pesquisa
Datafolha feita com deputados federais mostra que 42% são favoráveis ao
afastamento, o equivalente a 215 votos. Para o impeachment passar na
Câmara, são necessários, ao menos, 342 votos, ou dois terços do total.
Faltam, portanto, 127 votos. Do outro lado da disputa, 31% dos
parlamentares afirmaram que votariam contra a aprovação do impeachment
da presidente. Seriam 159 votos garantidos pró-Dilma. A decisão está nas
mãos de uma parcela de 27% dos deputados, equivalente a 138
parlamentares, que ainda não se definiram ou não responderam à pesquisa.
Outra
pesquisa Datafolha revelou que 65% dos entrevistados defendem que o
Congresso abra um processo para afastá-la do Palácio do Planalto e
apenas 30% querem o oposto. Para 38%, o vice-presidente Michel Temer
faria um governo “igual” ao de Dilma. Para 30%, seria melhor que o de
Dilma. E 20% acreditam que um governo Temer seria pior. Apesar de ser
baixo o percentual dos que têm uma avaliação positiva de um eventual
governo Temer, o índice positivo (18%) é superior ao registrado hoje por
Dilma (12%), assim como a desaprovação. Temer seria rejeitado por 32%. O
índice de Dilma contabiliza 64%.
Noves fora as
surpresas da Lava-Jato, que pode fulminar o PMDB, a terceira variável
do processo é a situação econômica, a mais decisiva. A mudança de
ministro da Fazenda promoveu um reencontro da presidente Dilma Rousseff
com os movimentos sociais e a frente anti-impeachment que defende sua
permanência no poder, mas a posse de Nélson Barbosa na pasta provocou
uma inédita reação negativa do mercado.
Normalmente, as
expectativas são positivas quando um novo ministro assume. Ontem, a
agência de classificação de risco Moody’s anunciou que seguirá a
Standard & Poor’s e a Fitch e cortará a nota de crédito da dívida do
país para grau especulativo, a Bovespa fechou em queda e o dólar passou
a barreira dos R$ 4,00. Ao dar posse ao ministro Barbosa, Dilma cobrou a
retomada do crescimento. É pagar pra ver. Em tempo: o Paraguai vai bem, obrigado; já a Venezuela...
Nenhum comentário:
Postar um comentário