Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 23/12/2015
A presidente Dilma
Rousseff tenta reagrupar as forças governistas para afastar o
impeachment logo na abertura dos trabalhos legislativos. O recesso
paralisou os partidos de oposição
A
apreciação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo
Congresso é uma batalha anunciada, inevitável, que ocorrerá mais cedo ou
mais tarde, em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre
o rito a ser seguido. Por mais polêmica que tenha sido a decisão, o
processo foi iniciado e caberá ao plenário da Câmara, em última
instância, aceitar ou não o pedido de afastamento. Caso seja acolhido, o
mesmo terá que correr no Senado, ainda que o mesmo possa reverter a
decisão da Câmara por maioria simples e só possa consumar o afastamento
por dois terços dos senadores.
Por mais
constrangedor que possa parecer, o encontro do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos líderes da Câmara com o presidente do
STF, Ricardo Lewandowski, previsto para hoje, servirá para esclarecer as
dúvidas acerca da decisão, que invadiu as prerrogativas dos deputados
ao “legislar” sobre a eleição da comissão especial que decidirá sobre a
admissibilidade do pedido. Mas essa confusão paralisou o processo e
beneficia o Palácio do Planalto, que ganha tempo para reorganizar suas
forças no Congresso. Esse é o estágio em que estamos.
Cunha
promove uma manobra atrás da outra para escapar da cassação de seu
mandato pelo Conselho de Ética da Câmara, sua situação é esdrúxula.
Principal protagonista do processo de impeachment, está com um processo
de cassação por quebra de decoro parlamentar em curso e sua rejeição na
opinião pública é bem maior do que a de Dilma. Não tem a menor chance de
sobreviver no cargo, mas ainda pode dar um abraço de afogado na
presidente da República.
Esse cenário está
congelado a partir de hoje, a não ser que surja algum fato novo, ligado à
Operação Lava-Jato, que possa afastá-lo do cargo, mas isso depende de
decisão do plenário do Supremo. A única possibilidade legal seria a
prisão em flagrante, como aconteceu com o líder do governo no Senado,
Delcídio do Amaral (PT-MS). É improvável isso. O descongelamento do
processo, portanto, somente ocorrerá em fevereiro, quando o Congresso e o
Judiciário voltarem a funcionar. Mas aí o país já estará em clima de
carnaval.
Salva pelo gongo, a presidente Dilma
Rousseff tenta reagrupar as forças governistas para afastar o
impeachment logo na abertura dos trabalhos legislativos. O recesso
paralisou os partidos de oposição, cuja atuação é essencialmente
parlamentar. Dilma, porém, mobiliza os movimentos sociais e tenta
reconstruir as pontes do governo com os setores produtivos.
O
ano de 2015 foi péssimo tanto na política quanto na economia. As
projeções para 2016 não são melhores. A troca de ministro da Fazenda até
agora significa pouco. A posse de Nélson Barbosa na pasta agradou as
bases petistas, que defendiam o “Fora, Levy!”, mas não dissiparam as
expectativas negativas que turvam os horizontes do mercado. Dólar em
alta, ações em baixa, inflação acima de dois dígitos, salários atrasados
e demissões em massa contrastam com o discurso do novo ministro, que
promete ajuste fiscal e crescimento econômico ao mesmo tempo.
Crime eleitoral
Uma
segunda frente, porém, preocupa o Palácio do Planalto. Até 15 de
fevereiro, Dilma precisa entregar sua defesa ao Tribunal Superior
Eleitoral, contra um pedido de cassação do PSDB por crime eleitoral na
campanha de 2010. O vice-presidente Michel Temer precisa se livrar da
mesma acusação, caso Dilma venha a ser condenada. Ambos poderão ser
cassados e, nesse caso, haverá novas eleições.
As
expectativas são de que o caso leve três meses para ser julgado, pois
ainda depende de diligências. A ameaça mais grave é a suposta
existência de vasos comunicantes entre o escândalo da Petrobras e a
campanha de Dilma Rousseff, quando nada porque a gráfica do Sindicato
dos Bancários de São Paulo utilizada pelo tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, para lavar dinheiro de propina da Petrobras, foi a mesma que
imprimiu farto material de campanha de Dilma. O ministro do STF Gilmar
Mendes, um dos mais duros críticos do PT, assumirá a presidência do TSE
por ocasião desse julgamento.
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