Correio Braziliense - 24/12/2015
Fez mal a presidente Dilma Rousseff em não viajar para o Rio de Janeiro e desejar um Natal melhor aos pacientes do SUS. Sua popularidade poderia melhorar se fizesse uma visita ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo
A
presidente Dilma Rousseff vai ganhar o melhor presente de Natal que
poderia ter num ano de tantas dificuldades, o segundo netinho. Mas esse
foi um mau pretexto para cancelar a viagem que faria ao Rio de Janeiro
ontem, onde deveria inaugurar, em Deodoro, mais uma das instalações
esportivas das Olimpíadas de 2016. Na avaliação do Palácio do Planalto, a
agenda era uma fria: a ex-capital da República vive uma das piores
crises do seu sistema de saúde, com os hospitais em colapso. Até a
reserva estratégica de medicamentos para o período dos Jogos Olímpicos
corre risco.
Para enfrentar a situação,
acompanhado do chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, o ministro da Saúde,
Marcelo Castro, anunciou a criação de um gabinete de crise, do qual vão
participar “toda a nossa rede federal, estadual e municipal para
fornecer equipamentos, medicamentos e transferência de pacientes que
forem necessários”. O maior problema é a infestação da cidade pelo
mosquito Aedes aegypti. O Exército será mobilizado para combatê-lo. Além
de transmitir a dengue e a chikungunya, o Aedes aegypti agora também
transmite a zika, que tem o problema adicional das sequelas da
enfermidade que é a microcefalia, “o grande problema de saúde pública
que temos hoje no Brasil”, afirmou o ministro.
“O
grave problema da saúde no Rio de Janeiro”, cuja rede hospitalar entrou em colapso por falta de verbas, também é uma ameaça ao
sucesso das Olimpíadas, depois de tantos investimentos feitos pelo
prefeito carioca, Eduardo Paes. Seu grande legado urbanístico será a
reurbanização da antiga região portuária e a mudança de padrão da
mobilidade no centro do Rio, com o veículo leve sob trilhos, além da
Vila Olímpica, na Barra da Tijuca. Mas o êxito dos jogos é importante
para a imagem internacional da Cidade Maravilhosa.
Caixa d’água
Os
mata-mosquitos já foram uma das figuras características do Rio de
Janeiro, nos tempos dourados de capital da República. Eles surgiram com
Oswaldo Cruz, em 1904, durante a reforma sanitária que resultou na
Revolta da Vacina. A reforma incluía a demolição das favelas e cortiços,
expulsando seus moradores para as periferias, e a vacinação obrigatória
contra a varíola. Naquela época, o centro do Rio abrigava pântanos e um
grande manguezal; eram constantes as epidemias de tifo e febre amarela.
Entre
10 e 16 de dezembro daquele ano, a cidade virou um campo de batalha. A
população depredou lojas, virou e incendiou bondes, fez barricadas,
arrancou trilhos, derrubou postes, atacou a polícia com pedras, paus e
barras de ferro. Saldo de 30 mortos e 110 feridos. Os alunos da antiga
Escola Militar da Praia Vermelha, eternos bagunceiros, também se
sublevaram. A saída foi decretar estado de sítio e mandar os líderes da
revolta para o Acre. Por pura ironia, o presidente Rodrigues Alves, que
nomeara Oswaldo Cruz no primeiro mandato (1902-1906), morreu de “gripe
espanhola” logo no começo do segundo mandato, em 1918.
Uma
variante desse vírus, o Influenza A subtipo H1N1, esteve de volta ao
Brasil alguns anos atrás, com o nome de “gripe suína”. Mas voltemos ao
Aedes aegypti, que virou uma constante nos verões brasileiros e, neste
ano, se tornou um problema dramático, por causa do zika vírus, que
provoca microcefalia nos recém-nascidos e deixa sequelas piores do que a
paralisia infantil e a talidomida, pois atinge o cérebro das crianças.
Uma das dificuldades para erradicar o mosquito é a proliferação de
caixas d’água nas cidades brasileiras, cujo padrão de abastecimento
contraria o princípio adotado em quase todas as cidades do mundo: a
gravidade, que dispensa o armazenamento, ao contrário do sistema de
bombeamento. Mas essa é outra história.
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