Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 15/12/2015
Enquanto
as investigações da Lava-Jato avançam em direção ao “núcleo de poder”,
aprofundando a crise ética, a crise política aguarda decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF)
Os procuradores
da Operação Lava-Jato, em Curitiba, denunciaram ontem o pecuarista João
Carlos Marques Bumlai e mais 10 pessoas por suspeita de desvio de
recursos da Petrobras. A escolha da Schahin Engenharia, em 2009, para o
contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000 pela área
internacional da Petrobras, no valor de US$ 1,6 bilhão, segundo as
investigações, foi acertada para quitar dívidas do Partido dos
Trabalhadores.
Bumlai está detido na carceragem da
Superintendência da PF, em Curitiba, com o ex-diretor da área
Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Numa das operações
fraudulentas, Bumlai fez um empréstimo junto do Banco Schahin que nunca
foi pago. O valor de R$ 12 milhões (sem correções) teria sido usado para
quitar dívidas do PT. Em troca, Bumlai teria agido para que o Grupo
Schahin fechasse o contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000. O
PT alega que foram doações legais.
Os procuradores afirmam que
entre outubro de 2006 e dezembro de 2009, Mílton, Fernando e Salim
Schahin ofereceram US$ 1 milhão em propina para Eduardo Musa, gerente da
Petrobras. O pagamento da propina teria sido intermediado por Fernando
Baiano e João Vaccari Neto, atendendo a pedido de José Carlos Bumlai. O
procurador coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol,
acusa o pecuarista de ser um operador do PT. Bumlai nega as acusações.
Dallagnol
diz que intermediários como Bumlai são “ligados ao núcleo de poder”,
mas isso “ainda demanda mais investigação”. Segundo o Ministério Público
Federal, os denunciados nessa fase não eram os destinatários finais do
dinheiro.
Os ex-diretores da Petrobras Jorge Zelada e Nestor
Cerveró e João Vaccari Neto, presos no Complexo Médico-Penal, na Região
Metropolitana de Curitiba; o lobista Fernando Soares, que cumpre prisão
domiciliar; e Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras, colaboram com as
investigações, em acordo de delação premiada. Foram denunciados com
Maurício de Barros Bumlai e Cristiane Barbosa Bumlai, filho e nora de
Bumlai; Salim Taufic Schahin, Mílton Taufic Schahin e Fernando Schahin.
Noutra
ponta da Operação Lava-Jato, o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, condenou
ontem o empreiteiro Gérson de Mello Almada, sócio e ex-vice-presidente
da Engevix, a 19 anos de reclusão, por organização criminosa, corrupção
ativa, lavagem de dinheiro. Também foram condenados o doleiro Alberto
Yousseff a 19 anos e dois meses de reclusão; Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da Petrobras, 14 anos e 10 meses de reclusão; e Carlos
Alberto Pereira da Costa, por lavagem de dinheiro, a prestação de
serviços e multa.
Foram constatadas fraudes e desvio de recursos
nos contratos da empresa com a Petrobras nas refinarias Presidente
Getúlio Vargas (Repar), Abreu e Lima (RNEST), Landulpho Alves (RLAM),
Presidente Bernardes (RPBC), Paulínea (Replan), Gabriel Passos (Regap) e
no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Não sabiam
Enquanto
as investigações da Lava-Jato avançam em direção ao “núcleo de poder”,
aprofundando a crise ética, a crise política aguarda decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) para ter um desfecho. O ministro Luiz Fachin
deverá apresentar seu parecer sobre o rito a ser adotado para apreciação
do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A comissão
especial eleita para apreciar sua admissibilidade está sub judice.
Trava-se
uma batalha na qual a Advocacia-Geral do Senado, a Advocacia-Geral da
União e a Procuradoria-Geral da República divergem do procedimento
adotado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Discute-se a
validade da eleição pelo voto secreto da comissão especial encarregada
de apreciar a admissibilidade do pedido e a competência da Câmara para
decidir o afastamento da presidente Dilma até seu julgamento pelo
Senado.
A tendência do STF é se basear no procedimento adotado
por ocasião do impeachment do ex-presidente Collor de Mello, mas o
ministro Fachin, relator do caso, pode surpreender. Pretende
compatibilizar a velha lei do impeachment, de 1950, com a Constituição
de 1988. Independentemente disso, porém, o Palácio do Planalto
intensifica a campanha para desqualificar o impeachment como um
dispositivo constitucional legítimo, acusando a oposição de golpista por
recorrer a ele.
Para isso, convergem a retórica do Palácio do
Planalto e da cúpula do PT, no sentido de que a presidente Dilma
Rousseff nada tem a ver com a roubalheira na Petrobras e que as
“pedaladas fiscais” não são motivo para impeachment. Embora fosse presidente
do Conselho de Administração da empresa durante o governo Lula, Dilma
não sabia de nada da roubalheira na estatal. O mesmo discurso é
utilizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se manter à
distância do escândalo, apesar de as investigações chegarem a amigos e
parentes próximos do líder petista.
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