Correio Braziliense - 08/122015
A defesa do mandato de Dilma Rousseff, teoricamente, é muito mais fácil do que a aprovação do impeachment, porque depende de apenas 171 votos dos 513 deputados da Câmara. Mas essa conta é muito volátil
O
Palácio do Planalto está se aproveitando da forma intempestiva como o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu a partida ao processo
de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em resposta ao apoio do PT
ao seu pedido de cassação. Com a oposição pega de surpresa e a opinião
pública ainda perplexa com o início do processo de impeachment, o PT foi para a ofensiva, mas a presidente da
República está indo com muita sede ao pote.
Ontem,
chegou a defender a suspensão do recesso do Congresso para que o
impeachment seja votado. A defesa do mandato de Dilma Rousseff,
teoricamente, é muito mais fácil do que a aprovação do impeachment,
porque depende de apenas 171 votos dos 513 deputados da Câmara. Mas essa
conta é muito volátil. Uma presidente da República que não é capaz de
reunir esse apoio não teria mesmo condições políticas de liderar o país
para enfrentar a crise, como já disse, com outras palavras, o ministro
Ricardo Berzoini, secretário de Governo.
Depois
de uma reunião na noite de domingo com os ministros da Casa Civil,
Jaques Wagner, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, além de Berzoini,
Dilma resolveu passar o trator na oposição e fazer uma maioria sólida na
comissão especial que vai apreciar a admissibilidade do pedido de
impeachment. Os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), do
PT, Sibá Machado (AC), e do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), cumpriram à
risca a orientação de só indicar deputados governistas dos partidos
aliados ao governo. Deu errado.
Picciani
indicou deputados fechados com Planalto, usando como moeda de troca o
Ministério da Aviação Civil. Mas não combinou com os demais integrantes
da bancada, que sequer reuniu. O resultado foi uma rebelião comandada
pelos deputados ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao
vice-presidente, Michel Temer, que praticamente desmontou a comissão
especial, que já estava com 58 dos 65 integrantes designados.
O
presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (SP), articulou com
os partidos de oposição e a ala dissidente do PMDB a formação de uma
chapa alternativa, que vai disputar em plenário a formação da comissão.
“Vamos retirar as nossas indicações da chapa oficial. Toda a oposição
vai tirar”, afirmou Paulinho. Para disputar a eleição da comissão,
regimentalmente, a chapa precisa ter, no mínimo, 33 nomes dos 65 lugares
na comissão. Por causa da confusão, a eleição foi adiada de ontem à
noite para hoje.
O Palácio do Planalto também
tenta interferir em outros partidos. Pressiona a Rede para indicar o
ex-petista Alexandre Molon (RJ) e não Elisiane Gama (MA), ex-PPS, para a
comissão especial do impeachment. Também pressiona a cúpula do PSB para
mudar a nominada de indicados até agora, pois os deputados Fernando
Coelho Filho (PE), Danilo Forte (CE) e Tadeu Alencar (PE) são
oposicionistas. A quarta vaga está sendo disputada por Luíza Erundina
(SP), aliada de Dilma. Há confusão ainda nas bancadas do PTB, do PROS,
do PSC e do PP.
Dissimulação
Do
outro lado da Praça dos Três Poderes, o ex-ministro da Aviação Civil
Eliseu Padilha, depois de consumar sua saída do governo, disse que o
PMDB, partido do qual faz parte, está “dividido” sobre o impeachment da
presidente Dilma Rousseff. “Não posso ter posição diferente da do
presidente do partido. O PMDB é um partido que está dividido sobre a
questão. Temos que ver qual o segmento majoritário. O presidente Michel
está fazendo essa aferição”, complementou.
A
deriva de Padilha para a oposição não significa, porém, um desembarque
imediato do PMDB do governo, nem mesmo do ministro do Turismo, Henrique
Eduardo Alves, que é muito ligado a Temer. Como tudo o que acontece no
PMDB, uma ala defende o governo de forma “incondicional”; uma segunda é
“mais ou menos neutra”; e a terceira “faz oposição”.
Há
muito despiste: “Quem conhece o presidente Michel Temer e quem me
conhece sabe que conspiração não cabe. O presidente Michel Temer é um
democrata vocacionado à observância da lei”, disse Padilha. Mas
articulações do PMDB com a oposição vão de vento em popa. Ontem, o
senador José Serra (PSDB-SP) defendeu publicamente o afastamento de
Dilma, enquanto Temer se reunia com o governador Geraldo Alckmin.
Para
resistir, a presidente Dilma Rousseff mobiliza juristas ligados ao PT
em sua defesa, pois acredita na possibilidade de barrar o impeachment no
Supremo Tribunal Federal (STF). Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva organiza os sindicatos e demais movimentos sociais para ir às ruas
em defesa do governo. Corre contra o relógio, porque a oposição das
redes sociais já tem uma manifestação marcada para 13 de dezembro,
domingo.
Mas a grande trapalhada do Palácio do Planalto foi vazar uma carta do vice-presidente Michel Temer a Dilma Rousseff, com um rosário de queixas acerca do tratamento que recebera da presidente da República ao longo de cinco anos de convivência. O objetivo da carta era introduzir uma conversa pessoal, mas acabou divulgada para causar constrangimento. Foi tiro pela culatra, pois caiu como uma bomba no Congresso e pode representar o rompimento definitivo de Temer.
Um comentário:
creui que a fragil democracia brasileira, quer utilisar o 'mpeachment, palavra americana, como quem bebe um copo de agua. Esquece que a democracia se constroi et nao se destroi. Na verdade empeachment significa golpe. Dizendo empeachment fica parecendo mais com a democracia americana, que de democrate nao tem absolutamente nada. A Dilma foi eleita e pessoalmente nao é corrupta. Entao esta historia de "empeachment" é so para se excitar. No final tudo isto vai dar em nada e ela vai ficar, fazendo passar em silencio o fato de que uma reforma das instituiçoes é necessario, visto que a camara de deputados é uma caverna de ali baba com mais de quarenta ladroes.
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