Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 13/01/2016
Cerveró puxou o fio da meada do assassinato do prefeito Celso Daniel, sequestrado e assassinado em 18 de janeiro de 2002
O vazamento da delação
premiada do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor
Cerveró é apenas uma peça no tabuleiro da Operação Lava-Jato, pois há
mais 34 envolvidos no escândalo da Petrobras que optaram por contar e
provar o que sabem sobre o esquema de propina. Ao afirmar que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe deu o cargo de diretor
financeiro da BR Distribuidora como reconhecimento pela ajuda que ele
prestou para quitar um empréstimo de R$ 12 milhões considerado
fraudulento, Cerveró puxou o fio da meada do assassinato do prefeito de
Santo André Celso Daniel, sequestrado e assassinado em 18 de janeiro de
2002, um caso que assombra o PT.
Segundo Cerveró, em 2004, o
fazendeiro José Carlos Bumlai obteve empréstimo do Banco Schahin e
repassou R$ 6 milhões para o empresário de Santo André Ronan Maria
Pinto, que detinha informações comprometedoras sobre o PT na região.
Anos depois, sob comando de Nestor Cerveró, a diretoria internacional da
Petrobras aceitou contratar a empresa Schahin Engenharia por US$ 1,6
bilhão para a operação de um navio-sonda. O contrato seria uma forma de o
PT retribuir o grupo Schahin pelo empréstimo.
No embalo da
Lava-Jato, o publicitário Marcos Valério, condenado no mensalão, que
teria sido um dos “operadores” escalados para abafar o caso Celso
Daniel, agora se oferece para fazer delação premiada na Operação
Lava-Jato. Teve oportunidade de fazê-la no mensalão, mas preferiu manter
o silêncio e acabou condenado a 37 anos e 8 meses de prisão. Em 2012,
Valério havia revelado que metade do dinheiro fora destinado ao
empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, amigo de Celso Daniel e
principal suspeito do crime, mas que foi absolvido desse crime por falta
de provas. Ele era um dos cabeças de um esquema de cobrança de propina
de empresas de transportes contratadas pela prefeitura de Santo André,
no ABC, de 1997 a 2002, Além de Sombra, foram condenados por corrupção
Ronan Maria Pinto e o ex-secretário de Serviços Municipais da cidade
Klinger Luiz de Oliveira Sousa.
Os três chantageavam a cúpula do
PT. O caso Celso Daniel é uma espécie de divisor de águas na trajetória
do partido. Coordenador do programa de governo de Lula, o prefeito de
Santo André fazia parte do núcleo dirigente da campanha petista, ao lado
de José Dirceu. A investigação interna realizada pelo PT deu muita
confusão na cúpula do partido, mas também não esclareceu o crime. O
promotor Francisco Cembranelli, responsável pela acusação no caso Celso
Daniel, porém, concluiu que o prefeito de Santo André foi morto porque
descobriu que o esquema de propina obtido com empresários para caixa
dois de campanha do PT passou a ser desviado também para contas
particulares dos envolvidos. Segundo depoimento de pessoas que sofriam
extorsão, elas pagavam de R$ 30 mil a R$ 40 mil por mês ao esquema.
Círculo macabro
A
família de Celso Daniel nunca engoliu a versão de crime de encomenda e
responsabiliza o PT pela morte do prefeito, o que nunca foi comprovado.
Uma lista macabra de assassinatos aumenta o mistério sobre o caso, pois
representa uma verdadeira queima de arquivo. O garçom Antônio Palácio de
Oliveira, que serviu o prefeito e Sérgio Sombra no restaurante Rubaiyat
em 18 de janeiro de 2002, noite do sequestro, foi assassinado em
fevereiro de 2003. Usava documentos falsos, com outro nome. Teria
recebido R$ 60 mil de fonte desconhecida por seus familiares e fora
citado numa conversa gravada pela polícia entre Sombra e Klinger. Era
testemunha de desentendimento entre Daniel e Sombra.
Paulo
Henrique Brito, a única testemunha do assassinato do garçom, foi morto
no mesmo lugar, com um tiro nas costas, 20 dias depois. O agente
funerário Iran Moraes Rédu, o primeiro a identificar o corpo do prefeito
na estrada, foi morto com dois tiros quando estava trabalhando, em
dezembro de 2003. Apontado pelo Ministério Público como o elo entre
Sérgio Sombra e a quadrilha que matou o prefeito, três meses depois, o
detento Dionísio Severo foi assassinado na cadeia, na frente do
advogado. Ele havia sido resgatado do presídio dois dias antes do
sequestro, mas acabou recapturado. Tinha sido escondido por Sérgio
Orelha, que também foi assassinado em 2003. O investigador do Denarc
Otávio Mercier, que ligou para Severo na véspera do sequestro, morreu em
troca de tiros com homens que tinham invadido seu apartamento, em julho
de 2003. O último cadáver foi o do legista Carlos Delmonte Printes, que
identificou sinais de tortura no corpo do ex-prefeito, morto em outubro
de 2005.
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