Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 21/01/2016
O manifesto da OAB e das entidades empresariais é mais um sinal de cansaço da sociedade em relação à crise
O
manifesto articulado pela Ordem dos Advogados do Brasil e subscrito
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional de
Saúde (CNS), Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Confederação
Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) contra a recriação do antigo
imposto do cheque, a CPMF, que agora poderia ser cobrado on-line, isto
é, em tempo real, é uma resposta ao autismo da presidente Dilma Rousseff
quanto à relação entre Estado e sociedade.
O
fato novo não é os empresários serem contra a criação de impostos, o que
é a opinião também dos cidadãos que já pagam uma infinidade de
contribuições, taxas e tributos. Afinal, o nome já diz: “Imposto”. A
novidade é a OAB questionar a legitimidade da presidente Dilma Rousseff
para fazê-lo e bater na tecla de que a presidente da República está
cometendo um estelionato eleitoral. Diz o manifesto:
“Uma
campanha eleitoral serve, no mínimo, para que o candidato apresente um
programa de governo e com ele se comprometa publicamente em implementar.
A presidente Dilma Rousseff não tratou de aumento de carga tributária
ou de criação de tributo durante a sua campanha eleitoral.” E
acrescenta: “As entidades que subscrevem esse manifesto vêm apresentar a
sua firme convicção no sentido de que falta legitimidade política para a
Presidência da República propor medidas que aumentem a carga tributária
no Brasil, seja criando a CPMF ou aumentando a alíquotas dos tributos
existentes”.
Dilma reiterou a intenção de
recriar a CPMF, manteve as previsões de receita do imposto no Orçamento
da União de 2016 e pretende dobrar a resistência do Congresso com cargos
e verbas. Aposta também no desespero de governadores e prefeitos, cujas
administrações entraram em colapso, para pressionar deputados e
senadores de oposição. Com o comando absoluto da condução da economia,
uma vez que o ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, e o presidente do
Banco Central, Alexandre Tombini, são seus paus-mandados, acredita que a
força do Estado e sua presença na economia é que salvarão o país da
crise.
Receita taxável
Receita taxável
Pretende restabelecer o equilíbrio das
contas públicas com aumento de impostos e expansão do crédito, sem levar
em conta que o cidadão é quem decide se endividar e o empresário,
investir. E que o ambiente é desfavorável para isso: inflação acima de
10%; juros de 14,25%; recessão de 3,9%; e taxa de desemprego de 10%. É
um beabá da economia, mas Dilma parece ignorar a Curva de Laffer, uma
das equações econômicas mais conhecidas sobre os limites para cobrança
de impostos.
Popularizada na década de 1970
pelo economista norte-americano PhD Arthur Laffer, trata-se de uma
fórmula muito antiga, também utilizada pelo famoso economista John
Maynard Keynes, patrono dos desenvolvimentistas. Foi uma sacada do
tunisiano Ibn Khaldun no século XIV. É uma representação teórica da
relação entre o valor arrecadado por um imposto a diferentes taxas, a
chamada “elasticidade da receita taxável”. Para se construir a curva,
considera-se o valor obtido com alíquotas de 0% e 100%, na qual a
primeira e última geram receita zero. O gráfico da Curva de Laffer forma
uma parábola na qual, a partir de um determinado ponto, o imposto
aumenta, mas a arrecadação cai.
Não existe um
percentual determinado para estabelecer o ponto de queda de arrecadação,
mas é o que já está ocorrendo com o governo federal, os estados e os
municípios. Esse ponto de inflexão pode variar de um local para outro,
mas tem impacto nos investimentos. Um caso emblemático de como reage o
mercado em relação à carga tributária é a decisão da Ford, no final dos
anos 1990, de suspender a instalação de uma fábrica no Rio Grande do
Sul, levando US$ 2 bilhões de investimentos para a Bahia, onde gerou, à
época 8, mil empregos diretos e 80 mil indiretos.
Havia
um acordo para instalar a fábrica no Rio Grande do Sul, feito em 1998
pelo governador Antônio Brito (PMDB). Olívio Dutra (PT) assumiu o
governo em 1999 e resolveu “renegociar” os incentivos fiscais. Perdeu o
investimento, que chegou a produzir 250 mil veículos por ano em Camaçari
(BA). Na época, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin (ele mesmo, os
das “pedaladas fiscais”) era secretário da Fazenda, e Dilma Rousseff
era secretária de Energia, Minas e Comunicação de Dutra. Hoje, a fábrica
da Ford de Camaçari, que produz os modelos Ford K, Ford K (sedã) e
EcoSport, suspendeu o terceiro turno e executa um programa de demissões
voluntárias que pode chegar a 1.500 operários. No fim do ano passado,
chegou a interromper a produção dos veículos e dar folgas coletivas aos
seus 3.500 trabalhadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário