Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 26/02/2015
A presidente da República não faz autocrítica
dos erros na condução da economia, numa espécie de fuga pra frente: “O
que nós estamos fazendo é o seguinte: preparando o Brasil para um novo
ciclo de crescimento"
A
presidente Dilma Rousseff ontem, em Feira de Santana (BA), durante
entrega do programa Minha Casa, Minha Vida, comparou-se a uma dona de
casa diante da necessidade de administrar os recursos familiares ao
explicar como pretende fazer o ajuste fiscal.
“Ninguém faz ajuste
por fazer. Eu faço ajuste no meu governo como uma mãe, uma dona de casa
faz na casa dela. Nós precisamos dar condições para retomar um novo
ciclo de desenvolvimento econômico. Para quê? Para gerar mais emprego,
para segurar mais renda e fazer com que o Brasil continue a crescer de
forma acelerada”, afirmou.
O discurso de Dilma foi uma resposta
ao duro recado que recebeu da cúpula do PMDB, durante encontro dos
ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Casa Civil, Aloysio Mercadante,
com os caciques da legenda, entre eles o vice-presidente Michel Temer e
os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo
Cunha (RJ).
O PMDB quer participar das decisões do Palácio do
Planalto, reivindica ministérios mais importantes e condiciona a
aprovação do ajuste fiscal ao PT cortar na própria carne, enxugando
gastos do governo com cargos comissionados. “Erro na política não se
conserta, só se compensa com acertos. O problema de Dilma Rousseff é que
ela comete um erro atrás do outro”, critica um dos participantes do
encontro.
A presidente da República, porém, não faz autocrítica
dos erros na condução da economia, numa espécie de fuga pra frente: “O
que nós estamos fazendo é o seguinte: preparando o Brasil para um novo
ciclo de crescimento. O nosso compromisso é um só: emprego, salário e
renda das pessoas”.
Dilma havia escalado o ministro Aloysio
Mercadante para acompanhar a conversa de Joaquim Levy com os
peemedebistas sobre o ajuste fiscal. Profissionais da política, os
interlocutores aproveitaram a presença do petista para mudar o eixo da
pauta para a relação com o governo.
Além de criticarem Dilma por
não ter uma estratégia de crescimento para o país que torne o ajuste
mais defensável, disseram com todas as letras que a relação do Palácio
do Planalto com o Congresso está muito deteriorada por causa do
hegemonismo petista em relação aos aliados. Em outras palavras, o PMDB
quer mandar no governo tanto quanto o PT ou mais.
A petista não
deu o braço a torcer. Ontem disse ter “coragem suficiente para fazer as
mudanças necessárias” em seu governo, mas que não abrirá mão dos
programas sociais, como o de habitação popular. A gestão do programa é
uma das queixas do PMDB, pois está sob as asas do ex-prefeito de São
Paulo Gilberto Kassab, ministro das Cidades, presidente do PSD, e da
petista Miriam Belchior, nova presidente da Caixa Econômica Federal. Seu
orçamento é maior do que os das pastas do PMDB juntas.
Bengala
O
troco do PMDB veio a cavalo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), anunciou que pretende aprovar a chamada “PEC da Bengala”,
proposta de emenda à Constituição que eleva de 70 anos para 75 anos a
idade máxima de aposentadoria para magistrados, será votada. Num gesto
combinado, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que a
emenda constitucional será promulgada tão logo a Câmara conclua a
votação, sem emendas.
Dilma Rousseff teria a oportunidade de
nomear cinco novos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) até o fim
do segundo mandato, em 2018, o que significaria uma Corte cuja maioria
teria sido nomeada por ela. Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo
Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber, que se aposentariam nos
próximos quatro anos, terão a opção de continuar por mais cinco anos
cada, a contar dos 70 anos.
Com a aprovação da PEC da Bengala,
restará apenas a vaga em aberto pela aposentadoria precoce do
ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Mesmo assim, essa nomeação terá de
ser compartilhada com o PMDB. Renan já disse a Dilma que a aprovação da
indicação pelo Senado dependerá do nome que apresentar. É por isso que a
indicação demora tanto, pois o candidato do Planalto é o advogado-geral
da União Luís Inácio Adams, cujo nome não passa pelo crivo da Casa.
Dilma quebra os ovos, mas não sabe fazer uma omelete.
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