Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense; 12/02/2014
A alternativa de Joaquim Levy,
caso o ajuste fiscal seja rejeitado pelo Congresso, será aumentar os
impostos ou pegar o boné
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que se cuide. Está sendo testado
por todo mundo. O nível de solidariedade no governo com a nova política
econômica é muito baixo. A presidente Dilma Rousseff, que bancou o
ajuste fiscal, não assume o cavalo de pau na economia e arranca os
cabelos por causa das críticas que vem sofrendo dentro do PT. O ajuste
fiscal corre sério risco de ficar pelo meio do caminho por falta de
apoio da base do governo.
Os sinais de que falta sustentação política
ao ajuste chegam a galope. As medidas de contenção de gastos no governo
enfrentam resistências de toda ordem, às vezes até na própria área
econômica da Esplanada. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o
enxugamento proposto na Apex-Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimentos, que atua para promover produtos e serviços
brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros.
A Apex
realiza ações de promoção comercial e eventos no exterior, como missões
comerciais, rodadas de negócios, apoio à participação de empresas
brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores
estrangeiros e formadores de opinião. Teoricamente, coordena os esforços
de atração de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil; na
prática, isso somente vai acontecer se o ajuste fiscal for bem-sucedido.
Na
situação que o país enfrenta, esses gastos são supérfluos. Mas a
estrutura da Apex é imensa, com escritórios luxuosos em Dubai, Luanda,
Havana, São Francisco, Miami, Bogotá, Pequim, Bruxelas e Moscou. A
equipe econômica propôs transferir os escritórios para as embaixadas. O
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando
Monteiro, não aceitou.
Aliado poderoso de Dilma Rousseff em
Pernambuco e ex-presidente da poderosa Confederação Nacional da
Indústria (CNI), Monteiro é padrinho político do ministro do Tribunal de
Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, novo relator do caso de
Pasadena. Bateu o pé. Usou o argumento de que o dinheiro era do Sistema
S, e não do Tesouro. Levy foi obrigado a recuar.
Alta do dólar
Os
testes não param por aí. O Banco Central (BC) parou de intervir no
câmbio, por orientação de Levy. Para os investidores, foi um sinal de
que a inflação não será combatida com medidas heterodoxas e artificiais.
A receita será outra: disciplina fiscal e política de juros. Foram
suspensas as cotações por meio de leilões de swaps cambiais,
equivalentes à venda de moeda estrangeira no câmbio futuro.
A nova
escalada do câmbio, porém, sugere que o mercado está testando o ministro
da Fazenda. O dólar voltou a fechar em forte alta ontem. A moeda
norte-americana subiu 1,33% frente ao real, cotada a R$ 2,8742. Este é o
maior valor desde 25 de outubro de 2004, quando o dólar fechou cotado a
R$ 2,8817 na venda, segundo dados do Banco Central.
A alta foi
puxada por incertezas sobre o futuro da Grécia na zona do euro. Mas
também sofre a influência da deterioração da nossa economia. Os
resultados do PIB em 2014 vão decepcionar; o mercado prevê estagnação ou
retração econômica, agravada pelo risco de racionamento de energia
elétrica e de água tratada.
Outro fantasma é o iminente
rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pelas agências
de classificação de risco. O escândalo da Petrobras e a crise que se
abateu sobre as demais empresas envolvidas na Operação Lava-Jato
causarão um grande estrago. Haverá aumento dos juros cobrados em
empréstimos e financiamentos ao Brasil e às empresas brasileiras.
Acuado
pelas denúncias de corrupção na Petrobras e pela queda de Dilma
Rousseff nas pesquisas, o PT lidera o fogo amigo contra Levy. No Senado,
Gleisi Hoffomann (PT-SC) e Lindbergh Farias (PT-RJ) se opõem
abertamente às propostas de ajustes. Na Câmara, o líder do PT, Sibá
Machado (AC), admitiu que as mudanças na legislação trabalhista não
serão aprovadas como vieram do Executivo.
Na verdade, das 750
emendas apresentadas às medidas provisórias do ajuste até agora, 450 são
de parlamentares da base do governo. Elas alteram as regras para
concessão de abono salarial, seguro-desemprego, pensão por morte e
auxílio-doença. O fogo amigo é tão intenso que parlamentares da oposição
até desistiram de apresentar emendas. A alternativa de Joaquim Levy,
caso o ajuste fiscal seja rejeitado pelo Congresso, será aumentar os
impostos ou pegar o boné.
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