Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/02/2015
O governo
resolveu capitalizar a Petrobras à custa do consumidor. A gasolina e o
diesel aumentaram num momento em que o preço do petróleo desabou
A tirada acima é de
Aparício Torelly, o humorista Barão de Itararé, mas quem mais gostava de
citá-la era o ex-vice-presidente da República Marco Maciel, aquele
cacique pernambucano do antigo PFL que, por sua magreza, parecia o mapa
do Chile. A presidente Dilma Rousseff agora está se dando conta dessa
máxima do Barão. Enfrenta uma agenda negativa no segundo mandato que ela
mesmo criou no primeiro e — pasmem! — está sendo turbinada por novas
decisões, tomadas neste começo do segundo mandato.
Apesar da
alta da inflação, das dificuldades para aprovar o ajuste fiscal no
Congresso e do fantasma da Operação Lava-Jato rondar o Palácio do
Planalto, a maior dor de cabeça de Dilma, no momento, é a greve dos
caminhoneiros. O governo não sabe com quem negociar; os governadores,
também não. Ontem, o presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da
Força (SD-SP), foi acionado pelo tucano Beto Richa (PSDB), governador do
Paraná, um dos 13 estados com estradas bloqueadas por grevistas, que
paralisaram o Porto de Paranaguá. Queria negociar, mas não tinha
interlocutor.
Paulinho ligou para o principal líder da
categoria, Nélio Botelho, que comandou a greve de 2013, mas não obteve
sucesso. “A greve é espontânea, é estimulada pelo pessoal do
agronegócio”, disse. Ou seja, nem CUT nem Força Sindical. Os
negociadores mais capazes de acabar com a greve talvez sejam a ministra
da Agricultura, Kátia Abreu, presidente licenciada da poderosa
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que está
assistindo à confusão de camarote, e o novo presidente da Petrobras,
Aldemir Bendine.
É aí que o Barão de Itararé surge na história. A
presidente Dilma Rousseff segurou o reajuste dos combustíveis durante o
mandato passado, quando resolveu baixar a conta de luz, desonerou as
indústrias automobilística e de eletrodomésticos e adotou outras medidas
para administrar os preços dos serviços a fórceps. Resultado, os preços
estão desalinhados e precisaram ser reajustados, mas o caminho de volta
à realidade do mercado é pedregoso.
Ocorre que o governo
resolveu capitalizar a Petrobras à custa do consumidor. A gasolina e o
diesel aumentaram num momento em que o preço do petróleo desabou, o que
acaba prejudicando os produtos brasileiros no comércio exterior, ainda
mais com a queda do preço das commodities, principalmente do minério de
ferro e da soja. Sobrou para os caminhoneiros, que estão recebendo menos
pelos fretes e pagando mais nos pedágios e nos postos de combustível.
A
greve, porém, desorganiza todo o abastecimento, porque a interrupção
das estradas prejudica o transporte de alimentos, principalmente os mais
perecíveis, e outros bens, causando grandes prejuízos aos produtores e
aos próprios transportadores. A solução que está sendo encontrada pela União e pelos
governos estaduais é judicial, o que significa obrigar os caminhoneiros a
desobstruir as estradas e portos sob ameaça de intervenção policial. O
novo ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, encarregado de
negociar com os grevistas, não é do ramo.
Patriotada
Voltemos,
porém, à tese torellyana: outra decisão inconsequente de Dilma Rousseff
neste segundo mandato foi a recusa a credenciar o novo embaixador da
Indonésia, como estava programado pelo Itamaraty, depois de convocá-lo
ao salão principal do Palácio do Planalto. Foi um protesto formal da
presidente da República contra o fuzilamento de um brasileiro condenado
por tráfico de drogas.
Por razões humanitárias, Dilma cumpriu
seu dever ao pedir ao presidente da Indonésia, Joko Vidoto, que a pena
de morte não fosse executada. Mas daí a transformar uma decisão legal e
soberana daquele país numa crise diplomática de grandes proporções
deveria haver uma grande distância. Não houve!
Quem pode pagar a
conta dessa patriotada de república de bananas é a Embraer, fabricante
do EMB-114 Super Tucano, pequeno e eficiente avião de caça, pois a
Indonésia ameaça cancelar a compra de um esquadrão de 16 aeronaves,
desorganizando todo o planejamento da empresa, numa hora em que a
Embraer realiza um enorme esforço para fabricar o avião militar de carga
KC 390, que representará um salto tecnológico também na área da aviação
civil.
Outra empresa a ser prejudicada é a Avibrás, que tem uma
encomenda de 80 conjuntos Astros, que inclui veículos lançadores e de
remuniciamento de foguetes, radares, comando e controle de viaturas para
o radar, além de munições. Metade do equipamento já foi entregue à
Indonésia.
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