domingo, 25 de março de 2012

O eixo perdido

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 25/03/2012

"Eu não vim pra explicar. Vim para confundir." No momento, a frase do falecido Abelardo Barbosa, o Chacrinha, se aplica como uma luva à presidente Dilma Rousseff no quesito articuladora política. Ninguém tem dúvida no Congresso de que o comando da relação do Palácio do Planalto com sua base de apoio está firmemente enfeixado em suas mãos, mas seus verdadeiros objetivos ainda são uma incógnita para a cúpula dos dois principais partidos que dão sustentação ao governo, o PT e o PMDB.

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No vértice do chamado presidencialismo de coalizão, Dilma resolveu confrontar o modus operandi da relação do Palácio do Planalto com a base parlamentar que herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na verdade, o velho toma lá dá cá permitiu a formação da sua coalizão de governo. Sem ele, Dilma teria muitas dificuldades para vencer as eleições de 2010. Agora, a presidente da República revela ojeriza ao fisiologismo da própria base. E resolve mudar as regras do jogo às vésperas das eleições municipais.

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Dilma deslocou do centro da articulação política do Palácio do Planalto o grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do líder do PMDB, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliados de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Senado. Também escanteou o ex-líder do governo Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), esteios da aliança do PT com o PMDB na Câmara. Esse era o eixo da aliança de centro-esquerda que dá sustentação ao governo. Dilma deu uma guinada à esquerda ao nomear os líderes governistas Eduardo Braga (PMDB-AM), no Senado, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), na Câmara.

Luta interna

A substituição de Vaccarezza por Chinaglia representou mais uma forte alteração na correlação de forças internas da legenda. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS); e o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), não fazem parte do velho grupo dirigente que venceu sucessivos congressos do PT até a renúncia por razões de saúde do ex-senador Eduardo Dutra, o último presidente eleito. Liderado por Chinaglia, esse grupo tem posições mais à esquerda.

Mensalão

Vale lembrar que a velha guarda petista foi abatida quando estava no poder, a começar pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cujo mandato de deputado foi assado pela Câmara. O líder petista guarda o julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com outros caciques petistas, como o influente deputado João Paulo (PT-SP), ex-presidente da Câmara.

Compromisso

Caso se consolide, o bloco PSB-PSD poderia deslocar o PMDB da presidência da Câmara apoiando um candidato petista, mas isso implicaria no rompimento do acordo firmado pelo PT com o grupo do vice-presidente Michel Temer e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves. Compromissos desse tipo costumam ser respeitados no parlamento, embora o Palácio do Planalto possa argumentar que não participou do acordo.

Campeão

O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou relatório sobre irregularidades nas obras dos estádios da Copa do Mundo de 2014. O sobrepreço nas contas do Maracanã já chegou a
R$ 163 milhões

Volta/ O ex-presidente do Incra Rolf Hackbart, que deixou o órgão no início do governo de Dilma, está voltando ao serviço público. Desta vez, ao lado do ministro Aloizio Mercadante, de quem será assessor especial na educação.

Candidatos/ O deputado federal Lelo Coimbra (PMDB-ES) lançou sua pré-candidatura à Prefeitura de Vitória. O evento não contou com a presença do ex-governador Paulo Hartung, principal liderança do partido, que tem mais dois aliados na disputa, o ex-prefeito Luiz Paulo (PSDB) e o deputado estadual Luciano Rezende (PPS).

Comissão/ O Senado Federal e a Câmara dos Deputados se preparam para instalar amanhã a primeira comissão mista para análise de medidas provisórias, acatando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Será examinada a constitucionalidade da MP nº 562/12, que destina recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para instituições comunitárias que atuam na educação rural.

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