Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 19/05/2015
O xis da
questão é a meta de superavit primário, fixada, este ano, em R$ 66,3
bilhões (1,2% do PIB). Um corte
desse tamanho pode paralisar a administração federal
A Câmara e o Senado
retomam hoje a votação de medidas do ajuste fiscal, cuja aprovação deixa
em suspenso os cortes do Orçamento da União, que podem ser entre R$ 60
bilhões e R$ 80 bilhões, dependendo do que for aprovado. Quem melhor
traduziu a situação foi o vice-presidente Michel Temer, num recado para a
base aliada do governo, mas principalmente para os petistas que estão
rebelados: “Se não houver ajuste, o contingenciamento será muito
radical. Se houver ajuste, o contingenciamento será muito menor”,
declarou.
No domingo, no Palácio do Alvorada, a presidente Dilma
Rousseff debateu o assunto com os ministros da Fazenda, Joaquim Levy; do
Planejamento, Nelson Barbosa; e da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Foi
uma espécie de 3 a 1 contra Levy, que apresentou uma conta de R$ 80
bilhões. Mercadante e Barbosa acreditam que o contingenciamento pode ser
de R$ 60 bilhões e foram apoiados por Dilma. O problema é que a conta
não fecha, e as velhas pedaladas e maquiagens nas contas públicas estão
fora de cogitação.
O ministro da Fazenda defende a posição de que
o ajuste deve ser, no mínimo, de R$ 70 bilhões, mesmo com a aprovação
das medidas de ajuste fiscal em tramitação no Congresso. Para ficar
nesse patamar, ainda assim, Levy planeja o aumento de impostos, no caso,
a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos, de 15%
para 17%, que não depende aprovação do Legislativo.
O xis da
questão é a meta de superavit primário, fixada, este ano, em R$ 66,3
bilhões (1,2% do PIB). Mercadante sustenta a posição de que um corte
desse tamanho paralisará a administração federal, o que é música para os
ouvidos da presidente Dilma. Vem daí a conta de R$ 60 bilhões
apresentada por Barbosa. Notícias de universidades sem aulas, hospitais
sem remédios e outros fatos negativos minam as convicções presidenciais
de que a meta precisa ser atingida de qualquer maneira.
Quem mais
apoia o ajuste proposto por Joaquim Levy é o vice-presidente Michel
Temer. Deixou isso claro após a conversa com os ministros e os líderes
governistas responsáveis pela aprovação das medidas. O presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entendeu o recado e minimizou as
interpretações da oposição de que as declarações de Temer representavam
uma ameaça ao Congresso, uma espécie de chantagem. “Não acho que seja
uma ameaça. Acho que eles têm uma meta, e as formas de atingir essa meta
são várias. Se não atingir de um jeito, vai atingir de outro. Eu não
encaro isso como ameaça, encaro como realidade”, justificou Cunha.
As votações
O
Senado deve votar a Medida Provisória 665/14, sobre seguro-desemprego e
abono salarial, mantendo as mudanças feitas pela Câmara. Além da
oposição, o que preocupa o governo é a bancada do PT, que está muito
dividida. A medida provisória aumenta a quantidade de meses trabalhados
antes da demissão que o trabalhador terá de comprovar para pedir o
seguro-desemprego. Na primeira solicitação, ele precisará comprovar o
recebimento de salários em, pelo menos, 12 meses nos 18 anteriores à
data da dispensa. No segundo pedido, comprovar o recebimento de nove
salários nos 12 meses anteriores. A partir da terceira solicitação, a
regra continua a mesma: comprovar o recebimento nos seis meses
anteriores à demissão.
Na Câmara, a pauta prevê a análise do PL
nº 863/15, que reduz o benefício da desoneração da folha de pagamento de
empresas de 56 setores. O projeto altera as alíquotas de contribuição
previdenciária sobre a receita bruta aplicadas para setores da
indústria, indo de 1% para 2,5%, e de 2% para 4,5% na área de serviços. O
relator, deputado Jorge Picciani (PMDB-RJ), proporá um escalonamento,
fazendo com que os novos percentuais só sejam cobrados integralmente a
partir de 2017. A mudança frustrará expectativas de arrecadação do
governo.
Na berlinda
Aparentemente, o jogo
virou a favor do governo para a aprovação, hoje, do nome indicado por
Dilma para o Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado gaúcho Luiz
Edson Fachin. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porém,
não jogou a toalha: trabalha intensamente para o plenário não aprovar a
indicação. A votação é secreta. Fachin precisa de 41 votos a favor.
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